Quem vê uma abetarda, não lhe fica indiferente: nem pelo seu grande porte, semelhante ao de um peru, nem pela raridade do avistamento. Em Portugal, esta ave pode ser encontrada, sobretudo, no Alentejo, sendo a região de Castro Verde a que concentra a maior população de abetardas.
A abetarda (Otis tarda), também conhecida por abetarda-eurasiática, é um peso pesado do mundo das aves, encontrando-se entre as aves voadoras mais pesadas do mundo. Os machos da mais pesada das aves naturalmente presentes na Europa podem ultrapassar os 15 quilogramas, enquanto as fêmeas rondam os cinco.
De plumagem castanha-dourada, com listas pretas e brancas, cabeça cinzento-azulada e patas compridas, machos e fêmeas diferem não apenas no porte. Por exemplo, o pescoço da fêmea é mais fino e de tons mais claros e a primavera traz aos machos longos “bigodes”, semelhantes a espigas de trigo. Nos machos, a evolução do padrão de penugem ao longo da vida funciona também como um indicador da sua idade aproximada.
Dona de uma voz inconfundível e exímia corredora (até 48 quilómetros por hora), a abetarda é uma ave que não se deixa observar facilmente – sobretudo no caso das fêmeas, cuja menor dimensão dificulta avistamentos. Em terra, a melhor época para a observar é na primavera, entre meados de março e início de abril, quando ocorrem as paradas nupciais. Em voo, é identificada pela sua envergadura e também pela brancura do ventre e das asas, nas quais sobressaem algumas penas pretas (as chamadas rémiges, penas resistentes que executam o voo).
O habitat das abetardas são as áreas extensas, planas e semiáridas, onde exista disponibilidade de alimentação variada para esta espécie omnívora, que come sobretudo partes de plantas (ervas, folhas e frutos), invertebrados (sobretudo insetos), sementes e restolho.
Estas características correspondem em grande parte às nossas planícies cerealíferas alentejanas e é lá que se concentrarem as principais zonas de reprodução da abetarda em território português. Desta região, de destacar a Zona de Proteção Especial de Castro Verde, onde vive a maioria da população de abetardas e onde se concentra a sua nidificação. É por esta razão que decorre aqui, anualmente, o censo populacional da espécie e também a razão de ter sido criada a Rota CM1138 – Rota das Abetardas, um percurso de 14,5 quilómetros que integra a Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO.
A presença da espécie não está, no entanto, confinada ao Alentejo. As áreas geográficas em que vive estendem-se, por exemplo, à Beira Interior (campina de Idanha) e ao estuário do Tejo (Ponta da Erva, em Vila Franca de Xira). Embora a sua observação seja menos provável fora da planície alentejana, com sorte podemos vê-la, por exemplo, perto do rio Tejo, em particular no verão, quando os bandos juntam várias dezenas ou mesmo centenas de aves.
Em Portugal, o censo de 2021 realizado em Castro Verde dá conta de uma população de 750 aves, numa tendência de decréscimo em relação aos anos anteriores. A pouca expressão populacional da espécie justifica a sua classificação como uma Espécie em Perigo de extinção, pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Ao nível mundial, embora se registe um decréscimo de população, foi avaliada como Pouco Preocupante na Europa e Vulnerável internacionalmente, pela Lista Vermelha da IUNC – União Internacional para a Conservação da Natureza. A espécie consta do Anexo I e II da Convenção de Berna e Bona, relativas à Conservação da Vida Selvagem e aos Habitats Naturais da Europa, e no Anexo II-A da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (Cites).