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Bioprodutos: a presença das árvores no nosso dia a dia

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Acompanham-nos em viagens longas, completam os jardins e matas das cidades, preenchem as florestas e os mais variados habitats. As árvores são parte integrante da nossa realidade e o seu potencial é imenso. Exemplo disso mesmo são os bioprodutos, recursos sustentáveis e renováveis, que têm diversas aplicações.

Desde tenra idade que ouvimos falar da importância das árvores, nomeadamente enquanto purificadoras do ar. No entanto, a mais-valia das árvores está longe de se resumir à produção de oxigénio. Estes recursos naturais são ricos em celulose de origem florestal que, por sua vez, origina bioprodutos sustentáveis, o motor da indústria de base florestal.

Vários objetos do dia a dia têm, ou podem ter, origem na floresta. Os livros que lemos, a roupa que vestimos, os cosméticos que aplicamos e as películas de celofane que utilizamos são apenas alguns exemplos. Recorrer a materiais naturais e renováveis, baixando a dependência de recursos poluentes e de origem fóssil, é a chave para um futuro mais verde e sustentável, já que contribuem para uma pegada ecológica mais reduzida.

O relatório Mapping Portugal’s bio-based potential, da responsabilidade do Bio-based Industries Consortium (BIC), publicado em 2021, realçava a bioeconomia nacional como um setor emergente. À data de publicação, estimava-se que o setor contribuísse com quase 20 mil milhões de euros para a economia portuguesa. Com a economia verde em ascensão, reforça-se, uma vez mais, a importância de detetar e aproveitar o seu potencial, bem como gerir as florestas para uma utilização sustentável de todos os recursos.

O que é que as árvores nos dão

São múltiplos os produtos com origem natural. O potencial destes bioprodutos, combinado com a necessidade de encontrar alternativas amigas do ambiente, tem ajudado ao crescimento e aposta na chamada economia verde. Se é verdade que reconhecemos prontamente alguns bioprodutos que fazem parte das nossas vidas, como a cortiça, o mel ou os óleos essenciais, vários produtos de origem biológica fazem parte do nosso dia a dia, sem nos apercebermos. Outros ainda são fruto das escolhas conscientes dos consumidores, cada vez mais preocupados em recorrer a soluções menos poluentes.

A madeira é um dos recursos mais comuns, sendo utilizada para a produção de mobiliário, pisos, painéis e, genericamente, na construção civil. Também a aplicação da celulose na produção de papel não é propriamente uma novidade, embora tenha relevância, como vamos perceber mais à frente, a espécie de árvore a que recorremos.

Mas os bioprodutos marcam igualmente presença em objetos tão triviais como a roupa que vestimos ou vernizes. A viscose e o liocel são fibras à base de plantas e são usadas na indústria têxtil, para a produção de vestuário e peças de decoração, bem como para fazer mangueiras de alta-pressão e esponjas, por exemplo. Por outro lado, a nitrocelulose está presente nos vernizes, tintas, esmaltes e cosméticos; enquanto o éter e a celulose microcristalina (MCC) podem ser aplicados na produção de pastas dentífricas e cápsulas de medicamentos.

Outros exemplos são as películas para ecrãs LCD ou os cabos de ferramentas (acetato) e a pele artificial para cicatrização de feridas e queimaduras (nanocelulose).

Bioprodutos: origem e aplicação

Os bioprodutos são compostos por biomassa, desenvolvida organicamente pela ação de plantas e animais. A biomassa florestal é, por sua vez, a matéria orgânica que se encontra e desenvolve nas árvores, das raízes até à copa. Seja as folhas, a casca ou os seus ramos, e até mesmo os materiais resultantes da intervenção animal ou humana (como o corte e trabalho da madeira ou gestão florestal), são múltiplos os componentes originados e que podem assumir um papel de destaque na indústria de base florestal. Identificam-se três grandes categorias de bioprodutos:

  • Bioenergia
    Uma alternativa sustentável aos combustíveis tradicionais, de origem fóssil, sendo aplicada também na produção de energia e calor. Evidenciam-se, nesta área, três combustíveis: o biodiesel, o bioetanol e o biogás. A bioenergia é menos poluente e aproveita resíduos que poderiam ser desperdiçados e pode ser produzida a partir de matérias-primas como o milho, a madeira ou o lixo orgânico.
  • Biomateriais
    São alternativas sustáveis a materiais como o plástico, cada vez mais urgentes. Soluções como os bioplásticos, as bioespumas e as biofibras são apostas em crescimento e que pretendem oferecer uma resposta consistente (e menos ameaçadora para o planeta) à procura de produtos. São produzidos a partir de óleos vegetais e fibras de cânhamo e linho, por exemplo.
  • Bioquímicos
    Estão presentes na indústria e em áreas especializadas como a farmacêutica, com aplicações diversificadas. Por um lado, estes bioprodutos são utilizados para obter lubrificantes, tintas e outros materiais idênticos; por outro lado, podem ser aplicados em vacinas, cosméticos de origem biológica, como cremes ou sabonetes, e outros produtos medicinais.

Eucalyptus globulus: menos madeira, mais papel

Uma das mais-valias de Portugal no que à bioeconomia diz respeito prende-se com uma espécie florestal: o Eucalyptus globulus. Além da sua extensão a nível nacional – ocupando 26% da floresta portuguesa, o que corresponde a 9% da área do nosso país), o país tem o clima propício ao desenvolvimento desta árvore, que tem importância no fabrico da pasta de papel, sendo reconhecida como uma das mais eficientes na produção de celulose.

Este “casamento perfeito” do solo português e da sua capacidade produtora está relacionado com a ligação ideal entre a densidade da madeira em causa e o posterior rendimento em termos de pasta do Eucalyptus globulus. Entre as principais vantagens, tendo em conta o processo otimizado, está a utilização de menos madeira – recorre-se a menos matéria-prima para desenvolver a mesma quantidade de papel:

  • Papel para embalagem: até menos 50% de volume de madeira;
  • Papel de escritório: até menos 33% de volume de madeira;
  • Papel tissue: até menos 25% de volume de madeira.

Além das vantagens relativamente à produção de pasta e papel, a madeira desta espécie é versátil e está envolvida também noutros bioprodutos. O Eucalyptus globulus é uma alternativa sustentável para indústrias como a farmacêutica, a automóvel e também a têxtil.

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