Como o nome científico Prunus Lusitanica sugere, estamos perante uma árvore de ameixas que conseguiu, ao longo dos tempos, deixar uma marca positiva nos livros de botânica, história e medicina por toda a Península Ibérica. Especificamente, na zona da Lusitânia, onde atualmente se situa uma boa parte do território de Portugal.
Certamente, se pudesse falar, o azereiro relataria, pela tradição “floral”, parte da história da humanidade adjacente ao Atlântico. Espécie sobrevivente da última era glaciar europeia, tornou-se uma figura milenar, estendendo-se às ilhas dos Açores, Madeira e depois Marrocos, Espanha e França.
Com um certo brilho no olhar, podemos especular que, durante uma bela tarde de outono numa pequena aldeia da Lusitânia, encontramos um jovem Viriato encostado à sombra de um azereiro. Enquanto murmura uma desconhecida melodia pagã, as bagas que pendem sobre a sua cabeça embalam-no rumo a uma pequena sesta.
Saberia, por certo, que, se assim o desejasse, apenas poderia ingeri-las em módicas quantidades. A ingestão reduzida destas bagas melhora o sistema digestivo e proporciona um prazeroso bem-estar. No entanto, devido aos compostos de glicosídeos cianogénicos que produzem cianeto de hidrogénio, estas ameixas, quando ingeridas em demasia, são tóxicas para os humanos e provocam paragens respiratórias ou mesmo a morte.
Curiosamente, as bagas do azereiro são bactericidas, fungicidas e eméticas, ou seja, capazes de induzir o vómito. Os registos indicam que a casca era utilizada no tratamento de picadas de répteis – como cobras ou víboras – em ovelhas, vacas e outro gado.
Efetivamente, para os antigos povos desta zona, não seria difícil encontrar esta frutuosa iguaria. Nos dias de hoje, floresce em Portugal continental nas zonas do Minho, Trás-os-Montes, Beira Litoral e Beira Baixa.
Mas, evitando agora floreados, esta espécie tem preferência por ambientes sombrios e húmidos, surgindo ora em carvalhais ora ao longo das diferentes linhas de água, barrancos e talvegues, com capacidade de crescer em solos ácidos, férteis, bem drenados ou húmidos.
De igual modo, a sua longa história de sobrevivência confere-lhe, com sentido, a capacidade de tolerar o frio, a seca e ainda o vento continental e marítimo, por conta da folhagem firme e coriácea.