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Natureza

A jornada das sementes no reino vegetal

Como é que as plantas se propagam para garantir a sua sobrevivência? A resposta não é, de todo, imediata, pois existem muitas formas de este fenómeno ocorrer. Explore a jornada das sementes, um processo crucial para a manutenção e conservação do mundo vegetal.

 As plantas, tal como os animais, precisam garantir a continuidade das espécies e a diversidade genética das populações. Para isso, as plantas reproduzem-se, utilizando métodos de reprodução sexuada e assexuada, e propagam-se.

A propagação consiste, muitas vezes, na dispersão das sementes para locais mais adequados ao seu desenvolvimento. Esse local é, geralmente, longe da planta-mãe, para diminuir a competição direta por recursos, como água, nutrientes ou a luz do sol. Mas, ao contrário do reino animal, as plantas e as árvores não se movimentam, então como ocorre essa dispersão de sementes? É aqui que os agentes dispersores desempenham um papel importante nesta complexa equação. São, muitas vezes, os elementos da natureza, como o vento ou a água, os animais ou até os humanos que executam tão importante tarefa.

No contexto da evolução, as relações entre plantas e os seus “ajudantes” dispersores são frequentemente benéficas para ambas as espécies. As plantas desenvolveram características que atraem os dispersores, e estes beneficiam dos recursos oferecidos pelas plantas, como alimento. Estas sinergias podem conduzir ao desenvolvimento de especializações complexas e interdependências que enriquecem a biodiversidade dos ecossistemas.

 

Os diferentes “meios de transporte” das novas plantas

As plantas desenvolveram diversas formas de cativar os “meios de transporte” que asseguram a sua propagação. Estes métodos de dispersão de sementes têm tanto de diferenciados como de complexos e podem ser agrupados em diferentes categorias. Vamos explorar cada um deles mais detalhadamente:

Dispersão pelo vento (Anemocoria):

Muitas plantas utilizam o vento para conseguir movimentar as suas sementes. Este método é particularmente comum em ambientes abertos e expostos, onde o vento pode transportar as sementes por longas distâncias. O dente-de-leão (Taraxacum) é um bom exemplo, uma vez que as sementes possuem uma estrutura semelhante a pelos ou membranas (papilho) que permite que sejam levadas pelo vento. As sementes de árvores como os bordos (i.e. Acer pseudoplatanus) ou os salgueiros (i.e. Salix atrocinerea) possuem asas ou pelos compridos que as ajudam a voar, dispersando-as para longe.

Dispersão pela água (Hidrocoria):

A dispersão pela água é comum em plantas que crescem perto de rios, lagos e oceanos. As sementes destas plantas são muitas vezes adaptadas para flutuar. Um exemplo clássico é o coqueiro (Cocos nucifera), cujas sementes estão bem protegidas dentro dos cocos, podendo viajar milhares de quilómetros, flutuando nos oceanos, até encontrarem praias adequadas para germinar.

Dispersão por animais (Zoocoria):

Este é talvez o método mais complexo e diversificado de dispersão. As plantas desenvolveram várias estratégias para atrair animais que possam transportar as suas sementes. Algumas sementes possuem ganchos ou espinhos (i.e. Medicago) que se agarram ao pelo dos animais, enquanto outras são ingeridas por animais como o veado, o coelho ou a lebre. Estas são posteriormente excretadas longe da planta original. Frutos como as maçãs e bagas são exemplos de sementes dispersas por este método.

Dispersão por mecanismos próprios (Autocoria):

Algumas plantas possuem mecanismos internos que lançam as suas sementes a certa distância. O exemplo mais notável são as vagens de leguminosas como o feijoeiro (Phaseolus), que ao secarem se abrem subitamente e catapultam as sementes.

Dispersão acidental por atividade humana

A atividade humana também tem contribuído exponencialmente para a dispersão das sementes. Este fenómeno ocorre quando as sementes são transportadas acidentalmente para novos locais através de mercadorias agrícolas, veículos ou até mesmo no vestuário das pessoas.

Quem nunca terminou um passeio pelo campo ou floresta sem ter sementes agarradas à roupa? O agarra-saias (Galium aparine) e a salsinha (torilis arvensis) são dois bons exemplos de plantas que utilizam esta estratégia na perfeição.

Este tipo de dispersão pode levar as sementes a habitats distantes do seu local de origem, contribuindo para a colonização de novas áreas e promovendo a biodiversidade. Mas será que são só vantagens?

Redes de Dispersão e Invasões Biológicas

As redes de dispersão de sementes são importantes não só para a propagação das plantas nativas, mas também para a dispersão de espécies invasoras. A capacidade de uma planta de se dispersar pode ser determinante para o seu sucesso como espécie dominante ou invasora. As espécies que conseguem estabelecer relações eficazes com dispersores locais podem colonizar rapidamente novos ambientes.

O fenómeno de dispersão acidental por atividade humana é tanto vantajoso como prejudicial. Por um lado, é um dos métodos mais eficazes para a propagação de espécies invasoras, por outro, pode trazer consequências negativas aos ecossistemas onde se estabelecem.

A introdução de plantas não nativas em novos ambientes pode resultar em desequilíbrios ecológicos, prejudicando espécies locais e provocando a proliferação das invasoras. Estas plantas frequentemente utilizam redes bem-sucedidas para se multiplicarem facilmente e competir por recursos.

Estudos têm demonstrado que a globalização e o aumento do comércio internacional intensificaram a frequência e o alcance da dispersão acidental de sementes. Este facto sublinhou a necessidade de compreender os mecanismos de dispersão e de gerir eficazmente as invasões biológicas. Só assim se consegue amenizar os impactos negativos deste fenómeno e contribuir para a conservação da biodiversidade.

Sabia que…

  • As árvores são dos seres vivos com maior longevidade do planeta. Em alguns casos, podem atingir mais de 2000 anos de vida.
  • Um poste de madeira ganhou raízes no meio da água, tornando-se na famosa That Wanaka Tree e um caroço de cereja germinou em cima de uma amoreira, dado origem à Árvore dupla de Casorzo, com duas copas. É também frequente ver figueiras em palmeiras. As aves comem os figos e deixas as sementes no meio das folhas das plameiras, ocasionando, por vezes, o aparecimento de uma figueira. Estes são exemplos da importância da dispersão das sementes e da sua capacidade de adaptação a novos ambientes.
  • São poucas as sementes que chegam ao local certo para germinarem no tempo correto. Muitas nunca chegam a gerar uma nova planta e outras conseguem aguentar anos, imóveis, à espera da hora certa para se desenvolverem.
  • Os frutos dos pepinos-de-são-gregório (Ecballium elaterium) projetam um jato líquido com as sementes como se fosse um canhão.

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