Biohistórias

Gestão Florestal

Gestão Florestal: essencial para assegurar a fertilidade dos solos.

A gestão florestal tem de se revestir de boas práticas, para termos florestas saudáveis e duradouras.

Em Portugal, a maior parte dos terrenos são pouco férteis e sem aptidão agrícola. Os solos portugueses têm restrições naturais: relevo declivoso e frequentemente ondulado, reduzida profundidade útil e baixa fertilidade natural que pouco ajuda ao sustento das plantas. É esta a razão pela qual é tão importante estudar plantas compatíveis com os variados tipos de solos e regime de clima associados, de maneira a compreender o seu contributo para o aumento, passo a passo, da aptidão e da fertilidade do solo.

Melhorar solos mais pobres e menos aptos com a floresta plantada

As florestas plantadas podem ter um importante contributo para a melhoria das características dos solos. Ao geri-los com responsabilidade, capacitando-os para realizar as suas funções ecológicas naturais em prol da saúde dos ecossistemas, melhora-se, em simultâneo, a aptidão dos terrenos.

O coberto vegetal, e em particular as florestas, tem influência decisiva na contenção de processos de degradação do solo. Florestas com ciclos de crescimento mais longos ou, embora mais curtos, com vários ciclos de crescimento tendem a manter mais protegido o solo, por exemplo, da ação de gotas de chuva e da escorrência superficial da água que leva consigo partículas do solo.

Ao contrário do que se crê, mais do que a espécie plantada, são os fatores climáticos e topográficos, e as práticas de gestão os mais preponderantes na qualidade dos solos: a quantidade, a intensidade e a concentração das chuvas; o relevo; a preparação do terreno, por exemplo; e a existência e abundância do coberto vegetal.

Por exemplo, nas florestas plantadas de eucalipto, uma mais-valia está relacionada com a possibilidade de uma plantação poder ser gerida por vários ciclos de crescimento – regime de talhadia – sem que haja necessidade de voltar a fazer nova plantação. Desta forma, após um primeiro corte do povoamento, deixa-se vingar, normalmente, até dois rebentos por pé por mais um ciclo de crescimento. Esta técnica evita a necessidade de voltar a realizar-se a preparação do terreno durante mais de 30 anos, ação necessária geralmente a cada nova plantação.  O crescimento rápido dos rebentos por pé e a manutenção do sistema radicular já desenvolvido no terreno protegem o solo da ação direta das gotas de chuva e constituem barreiras à escorrência superficial da água, o que ajuda a impedir a desagregação, ou melhor dizendo, uma das fases de erosão do solo. A existência de cobertura vegetal reduz, de certa forma, a incidência dos raios solares, evitando que a camada superficial do solo sobreaqueça e aumente a evaporação durante as épocas mais quentes do ano. Evita-se, assim, perturbar o solo, potencia-se o seu equilíbrio ecológico e a sua proteção reduzindo o período de exposição direta a agentes erosivos.

O solo estará mais sujeito a degradação na fase de plantação e de exploração florestal pelo que a adoção das melhores práticas silvícolas e nos timings mais adequados, evitando-se os períodos mais chuvosos, é decisiva.

As plantas e folhas (sobrantes) que se mantêm dos ciclos anteriores de crescimento do povoamento sobre o solo protagonizam também uma ação mitigadora a possíveis efeitos erosivos: contribuem para o aumento da matéria orgânica e criam a biomassa residual da floresta. Ou seja, potenciam melhores condições para os microrganismos do solo que, por sua vez, fomentam a decomposição da matéria orgânica e redistribuem ou reciclam os nutrientes.

Equilíbrio florestal

Os sobrantes de corte assim como a folhada que vai caindo ao longo do ciclo de crescimento são importantes para a conservação do solo, protegendo-o, mas também como fonte de matéria orgânica e nutrientes, essenciais ao crescimento de plantas, e normal funcionamento do bioma do solo e ciclo de nutrientes. Não sendo supridas todas as necessidades nutricionais da plantação apenas por esta via, a adoção de um plano de fertilização adequado ao terreno e povoamento com suplemento mineral ou orgânico permitirá assegurar a sustentabilidade e a fertilidade do solo a longo prazo.

As florestas e os produtos dela derivados são fundamentais para a mitigação dos efeitos da alteração climática, funcionando como reservatórios de carbono. Nestes ecossistemas florestais, o solo tem também importante papel pela capacidade de sequestro e armazenamento de carbono, podendo, no caso dos eucaliptais, armazenar até 30 cm de profundidade do solo, mais de dois terços do carbono total retido no povoamento.

Mais uma vez, carece especial atenção às práticas de gestão florestal, como é o caso da adequada gestão de sobrantes de corte, as práticas de preparação de terreno e de exploração da madeira, de forma a minimizar a perturbação do solo e permitir que os diferentes recursos num ecossistema florestal como a espécie plantada e respetiva produção, o solo, a água e a biodiversidade possam funcionar dinâmica e harmoniosamente, como num tetris.

Temas: