Nas abelhas, o mecanismo é igualmente fascinante: um enxame envia exploradoras que comunicam a qualidade dos potenciais locais através da “waggle dance”, uma coreografia complexa. À medida que mais abelhas promovem a mesma localização, atinge-se um consenso e todo o enxame parte rumo a esse novo local.
Curiosamente, os investigadores sublinham que o comportamento das abelhas fornece um interessante paralelismo com as eleições humanas, referindo que aqui não há espaço para propaganda. Cada abelha tem interesse em ser honesta na avaliação do sítio, porque o seu bem-estar depende diretamente da saúde de toda a colónia. Ou seja: no “parlamento” das abelhas, a verdade não é opcional, é uma regra de sobrevivência.
Isto confirma a complexa e essencial rede de castas e de comunicação que existe dentro de uma colmeia. Só uma sociedade bem estruturada, onde cada individuo – da rainha às operárias – desempenha um papel definido, permite à colónia prosperar e enfrentar os desafios que a natureza lhe coloca.
Entre os búfalos e veados, a decisão de iniciar o movimento do grupo surge de forma coletiva: quando cerca de 60% dos adultos se levantam, o restante acompanha. Uma verdadeira votação corporal.
Em estudos com aves selvagens pintadas-vulturinas, observou-se que, quando os dominantes monopolizam recursos, os subordinados movem-se em grupo para outro local, obrigando o alfa a desistir. Um exemplo de “contrapeso democrático” dentro da hierarquia.
Também os babuínos podem “votar com os pés”, ao seguir a maioria em movimentos coletivos.
Nos grupos de elefantes africanos, a liderança recai geralmente sobre a fêmea mais velha, cuja memória das rotas migratórias e das fontes de água é determinante para a sobrevivência do grupo. Trata-se de uma liderança baseada na experiência acumulada e no prestígio. Um padrão semelhante observa-se em algumas populações de orcas, onde as avós – apesar de já não se reproduzirem – orientam os deslocamentos do grupo com o seu conhecimento ecológico. A perda destas figuras pode comprometer gravemente a coesão e a sobrevivência da comunidade.
Todo este tipo de organização só é possível porque estas espécies apresentam capacidades cognitivas e sociais complexas. Diversos estudos sugerem, aliás, que muitos animais possuem formas de consciência sofisticadas, o que lhes permite sustentar processos coletivos de decisão altamente elaborados.
Tomada de decisão por consenso e liderança flexível
A decisão por consenso é frequente entre muitos vertebrados sociais. Estudos sugerem que, em contextos complexos, as decisões do grupo superam as de um líder experiente, sendo menos extremas e mais equilibradas.
Uma investigação recente sobre peixes revelou que os indivíduos sem opinião ou pouco informados podem favorecer o resultado maioritário. Esses indivíduos atuam como um “filtro” que impede que uma minoria poderosa dite o comportamento do grupo, promovendo uma forma de democracia baseada na quantidade em vez da intensidade da opinião.
Já nos golfinhos, algumas decisões são tomadas por indivíduos com maior informação, através de sinais específicos, o que configura um modelo de consenso não compartilhado. Útil quando alguém possui mais conhecimento do que os demais.
Embora o termo democracia se associe à política humana – com votos e debates formais – o reino animal mostra que processos comparáveis existem, ajustados ao ambiente e à biologia de cada espécie. A tomada de decisão coletiva, seja por quorum, consenso corporal, influência gradual ou liderança informada, revela que a participação de muitos é frequentemente vantajosa para a coesão social, equilíbrio de poder e sobrevivência do grupo.
Esta pluralidade de mecanismos desafia a noção de que o poder reside em mãos individuais, indicando que a evolução premia soluções coletivas e adaptativas. A “democracia” animal, poderá ser considerada real, ainda que não se pareça com a humana, uma vez que traduz os mesmos princípios fundamentais: participação, flexibilidade e resiliência.