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Plantas

A planta que dá cheiro ao litoral português

Durante um passeio pela costa portuguesa, alguma vez foi surpreendido por um inesperado aroma a caril? Esse cheiro pode, sim, assomar o seu nariz vindo diretamente da cozinha de um restaurante à beira-mar, mas também pode, está claro, advir das pequenas flores cor-de-sol da perpétua-das-areias.

De seu nome científico Helichrysum italicum subsp. picardi, esta planta herbácea perene apresenta uma base lenhosa em forma de arbusto, que pode atingir entre 10 a 35 centímetros de altura. Os seus tufos simétricos, pincelados de verde-prateado, são marcados por folhas estreitas, lineares, macias e de margens ligeiramente enroladas.

O período de floração das perpétuas-das-areias é tendencialmente longo, podendo iniciar-se, ainda, durante o inverno, em fevereiro, apesar de ser mais intenso entre maio e setembro.

As suas flores, todas elas tubulares e de um amarelo-dourado vibrante, reúnem-se em pequenos capítulos, a inflorescência comum da família Asteraceae. Estes capítulos são heterogâmicos, isto é, compostos por flores femininas nas margens e flores hermafroditas no centro. Juntas, formam densos corimbos terminais que atraem tanto pela cor como pelo inconfundível aroma doce e, ainda assim, ligeiramente azedo que evoca, sem rodeios, o caril.

O fruto é uma cipsela castanha, glabra e não glandulosa, revestida por um papilho de pelos ásperos.

Perpétua-das-areias em floração num habitat natural, com as suas pequenas flores amarelas intensas a destacarem-se entre a vegetação densa.

Uma paixão pelas dunas

 São várias as subespécies de Helichrysum italicum a habitar as áreas costeiras do Mediterrâneo. Em Portugal, a mais frequente é a subespécie picardi, que também pode ser encontrada em território marroquino e espanhol.

Por cá, estabelece-se, principalmente, em habitats junto ao litoral, ao longo de toda a costa portuguesa. Podem ser avistadas (ou cheiradas) em solos arenosos, como paleodunas e dunas estabilizadas, bem como em matos psamófilos de baixa altitude.

Afeiçoada a locais com uma boa exposição solar e a solos secos e bem drenados, a perpétua-das-areias é uma planta rústica que se adapta proliferamente a condições adversas de: aridez, seca, temperatura, vento e existência de pouca matéria orgânica e nutrientes. O seu ponto fraco, no entanto, é a má drenagem do solo, uma vez que o seu sistema radicular é muito sensível ao excesso de água.

A perpétua-das-areias é adepta de uma boa poda no final do verão, após o processo de floração, visando a manutenção dos seus rebentos jovens e vigorosos.

As suas flores são alvo da atenção e fome de inúmeros polinizadores, como abelhas, moscas, formigas e outros mais. Realça-se, ainda, que é muito apreciada por várias espécies de borboletas e traças, sendo, inclusive, uma planta hospedeira e/ou fonte de alimento de espécies como Eublemma candidana e Eublemma ostrina.

Uma família numerosa

 A erva-do-caril pertence à família Asteraceae, uma família com mais de 1.670 géneros botânicos e perto de 33.000 espécies.

A família é particularmente conhecida pelas inúmeras espécies ornamentais, popularmente utilizadas para a decoração de jardins e/ou como flores de corte, como por exemplo, os malmequeres e as dálias. Em Portugal, está representada por mais de 110 géneros e mais de 370 espécies, distribuídas um pouco por todo o nosso território.

Já do género Helichrysum, ao qual pertence a nossa perpétua-das-areias, existem pouco mais de 550 espécies. Helichrysum italicum e Helichrysum stoechas são as únicas espécies nativas portuguesas do género. Ambas partilham certas características morfológicas como o porte, a folhagem e o aroma, mas ocorrem em habitats distintos.

O canivete-suíço do reino Plantae

 A perpétua-das-areias é uma planta muito versátil, apresentando finalidades ornamentais, aromáticas e medicinais.

A sua folhagem e flores vistosas, aliadas ao facto de que, tal como alude o nome, as suas flores, mesmo depois de secas, se “manterem” durante muito tempo, faz com que se torne uma opção ornamental bastante interessante e viável para qualquer jardim ou vaso. Além disso, é um excelente repelente natural, sendo dotada da capacidade de afastar pragas indesejadas.

Na culinária, as folhas da planta podem ser utilizadas para aromatizar saladas, sopas, molhos, estufados e pratos de peixe e carne, uma vez que o seu aroma é subtil na cozedura e marcante no olfato.

 As suas propriedades medicinais são amplamente reconhecidas, sendo utilizada como antialérgico, anti-inflamatório, antifúngico, antibacteriano e cicatrizante. É, ainda, passível de uso no tratamento de lesões musculares, urticárias, queimaduras solares, herpes, eczemas, entre muitos outros.

Close-up das flores amarelas vibrantes da perpétua-das-areias (Helichrysum stoechas), em plena floração, com destaque para os detalhes das pétalas e estrutura das inflorescências.

Sabia que…

  • A perpétua-das-areias possui uma fragrância intensa, proveniente dos óleos essenciais, que a tornam muito valorizada na indústria da cosmética, sendo, portanto, utilizada sobretudo em perfumes e cremes antirrugas.
  • Ao mínimo toque, liberta um aroma inconfundível a caril, embora nada tenha a ver com a conhecida mistura de especiarias utilizada na culinária. De facto, o caril é um mix de ingredientes como cardamomo, cominhos, gengibre, coentros, cravinho, noz-moscada e açafrão-da-índia. As folhas da erva-do-caril conferem um sabor mais suave, mas não reproduzem a cor amarela típica do caril tradicional, que provém do açafrão-da-índia.
  • O nome científico da espécie, Helichrysum italicum subsp. picardi, encerra também curiosidades etimológicas: Helichrysum vem do grego Helios (sol) e chrysos (ouro), uma referência ao tom dourado das flores e à sua preferência por ambientes muito luminosos. Já italicum alude à Itália, provável local da sua primeira identificação. Picardi homenageia o médico e botânico francês Casimir Picardi que herborizou a planta em Espanha.
  • Perpétua-das-areias

    Helichrysum italicum subsp. picardi

  • Planta

  • GÉNERO

    Helichrysum

  • FAMÍLIA

    Asteraceae

  • HABITAT

    Ocorre em solos arenosos, perto do litoral, preferencialmente em matos psamófilos, em dunas estabilizadas ou paleodunas.

  • DISTRIBUIÇÃO

    Pode ser encontrada ao longo de todo o litoral português, estando, ainda presente em zonas costeiras de Espanha e de Marrocos.

  • ESTADO DE CONSERVAÇÃO

    Não está atualmente classificada como espécie ameaçada.

  • ALTURA / COMPRIMENTO

    Até cerca de 35 centímetros

  • LONGEVIDADE

    Perene

Como protegemos a espécie?

São definidas zonas com interesse para a conservação que são geridas de forma a manter ou melhorar os habitats que proporcionam condições de alimentação, refúgio e reprodução, podendo funcionar como corredores ecológicos para facilitar a dispersão natural das espécies e o intercâmbio genético entre populações.

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