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Guarda-rios: uma pequena flecha colorida

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O guarda-rios (Alcedo atthis) é uma das espécies mais coloridas da avifauna portuguesa. A coloração azul do seu dorso e asas e o seu ventre cor-de-laranja tornam a sua aparência inconfundível. A sua beleza faz com que seja uma das espécies mais desejadas pelos fotógrafos de natureza, em Portugal. Não obstante, a captura fotográfica deste pequeno pássaro nem sempre é fácil.

Esta ave pode ser encontrada, corriqueiramente, pousada em pequenos postes e/ou ramos secos junto a água, lugar a partir do qual pratica a caça. Podendo ser avistado por todo o Portugal Continental, o guarda-rios é mais abundante no litoral e em zonas, tendencialmente, planas, sendo raro avistá-lo a altitudes superiores aos 1000 metros.

O Alcedo atthis está distribuído pelo Norte de África e por toda a Europa, excetuando a Islândia e a Península Escandinava. As populações do Leste da Europa são migradoras e tendem a passar o inverno na Península Ibérica, França e na costa Ocidental africana, ao contrário das populações do Oeste europeu que são sedentárias ou de comportamento dispersivo.

Um território grande para uma ave tão pequena

Apesar do seu comprimento rondar os 18 centímetros, o guarda-rios pode assegurar um território de até um quilómetro e meio de rio. Conhecido por ser um pássaro solitário e extremamente territorial, esforça-se para proteger o seu terreno espaçoso visando abundância de alimento e a segurança e qualidade do local de nidificação.

Aquando de uma possível disputa por território, as lutas podem ser mortais. Perseguições aéreas a alta velocidade, lutas de bicos e tentativas de afogar o seu adversário, caracterizam as rixas dos guarda-rios.

A pausa nas hostilidades

Em abril abre-se a época de acasalamento do guarda-rios que termina no fim de julho. Durante esse período, cingem-se hostilidades entre os sexos. Almejando o acasalamento, o macho tende a oferecer um peixe fresco à fêmea. Um detalhe a enfatizar é o cuidado do macho em virar a cabeça do peixe para o bico da fêmea.

Se os companheiros ocuparem territórios contíguos, pode dar-se uma a unificação territorial temporária. O ninho desta ave é escavado por ambos, normalmente, perto da margem de um rio e, habitualmente, realizado em barreiras de terras ou barrancos arenosos. Os ninhos consistem num túnel de cerca de 60 a 90 centímetros que termina numa câmara onde vão estar os ovos. Esta construção pode ocupar o casal durante 14 dias.

Os guarda-rios têm o cuidado de colocar o ninho a uma altura suficientemente alta para evitar cheias ocasionais. A escavação contempla, ainda, o declive ideal para que os ovos não rolem para fora do ninho.

Os ovos são chocados três semanas antes da eclosão. Após o nascimento, as crias permanecem no ninho durante 3 a 4 semanas. No decorrer desse período, ambos os parentes caçam para alimentar os filhos, podendo levar ao ninho 50 a 70 peixes por dia. Por não as ingerir, os Guarda-rios tendem a acumular uma quantidade avultada de espinhas de peixe nos seus ninhos.

As suas ninhadas produzem cerca de 4 ovos de cada vez e com frequência, cria três ninhadas durante o período de acasalamento. A sua reprodução prolífera contribui para que, no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, esteja classificado como uma espécie Pouco Preocupante, no que toca ao risco de extinção.

Não obstante, as ameaças ao guarda-rios têm vindo a crescer, com o aumento da poluição das águas, que acaba por contaminar e reduzir os seus recursos alimentares. O turismo, a caça e a pesca desportiva, também têm contribuído para a perturbação de áreas de nidificação e de alimentação do guarda-rios.

Um pequeno e bonito caçador

Apesar da sua beleza, o guarda-rios é um excelente caçador, podendo mergulhar e regressar ao seu pouso, com um peixe no bico, em dois segundos. A ave mergulha a uma velocidade de até 40km/h. A sua pontaria, extremamente precisa, permite ao pássaro capturar peixes a mais de meio metro de profundidade, apesar da sua membrana protetora translúcida que lhe tapa os olhos debaixo de água.

A alimentação do guarda-rios consiste em pequenos peixes de água doce, insetos aquáticos, anfíbios e pequenos crustáceos, dos quais se destaca o lagostim de água doce.

Sabia que…

O guarda-rios é apelidado de mais de 25 formas diferentes. A sua designação varia de região para região: chasco-de-rego, espreita-marés, freirinha, juiz-do-rio, martinho-pescador, passa-rios, pica-peixe, piçorelho, pisco-ribeiro, rei-do-mar, são alguns exemplos.

Podemos identificar o género do guarda-rios através da cor do seu bico. O bico dos machos é, maioritariamente, negro, enquanto as fêmeas têm uma mandíbula inferior cor-de-laranja. Não obstante, o dimorfismo sexual da espécie é pequeno, sendo consideradas ténues as diferenças físicas entre machos e fêmeas.

– Aquando do processo de caça, o guarda-rios mergulha e traz um peixe no seu bico até a um local de pouso. Quando pousa, esta espécie tem como hábito bater com o peixe numa superfície visando a sua atordoação.

– Ao contrário da grande maioria das aves, os guarda-rios são bastante silenciosos e discretos durante a primavera.

  • Guarda-rios

    Alcedo atthis

  • Ave

  • Género

    Alcedo

  • Família

    Alcedinidae

  • Habitat

    O guarda-rios frequenta uma variedade elevada de habitats estando, frequentemente, localizado perto de massas de água, como rios, estuários e lagoas costeiras. Comummente, situado em zonas planas, evita zonas com altitudes superiores aos 1000 metros.

  • Distribuição

    A espécie tem por hábito invernar no Norte de África, por toda a Europa, com exceção da Península Escandinava e da Islândia e, praticamente, por todo o Sudoeste asiático, reproduzindo-se, depois, nas latitudes superiores. Nas regiões intermédias como Portugal, pode ser encontrada ao longo de todo o ano, sendo a sua presença mais forte no litoral e no Sul do país.

  • Estado de Conservação

    De acordo com a Lista Vermelha dos Vertebrados de Portugal, “Pouco Preocupante” (LC).

  • Comprimento

    O seu comprimento varia entre os 17 e os 20 centímetros.

  • Longevidade

    Até aos 20 anos.

Como protegemos a espécie?

O guarda-rios alimenta-se de peixes, insetos e pequenos vertebrados e é uma das 253 espécies de fauna e 1057 espécies e subespécies de flora que pode ser encontrada nas zonas florestais geridas pela The Navigator Company.

A ave pode ser avistada em 16 das propriedades que se encontram sob a alçada da The Navigator Company, de Norte a Sul do país. Destaca-se a sua presença nos centros de biodiversidade da Herdade do Gavião, na propriedade de Zambujo e na Quinta de São Francisco. Nesta última, é, ocasionalmente, detetada ao longo da linha de água que atravessa o espaço. Curioso é o facto da espécie só ter colonizado o local após a restauração da vegetação ripícola realizada ao longo da linha de água.

É de notar que as medidas implementadas de proteção aos cursos de água têm tido resultados benéficos para a espécie.

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