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Poupa: Uma ave na crista da história

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Será uma coroa? Uma peruca? Não! É a poupa, de crista extravagante, calorosamente expansiva ou subtilmente penteada para trás. Com uma reminiscência aristocrática e punk, este espécime de nome científico Upupa epops é uma ave que sobrevoa toda a humanidade. Venha conhecê-la.

A poupa é uma ave com penas espalhadas em queda por toda a história – antiga e moderna – com renovada capacidade de liderar movimentos contemporâneos em prol da fauna, relembrando-nos do seu legado inigualável e visualmente único.

De crista solar e rebelde, a poupa é uma ave que rasga o ar num vulto negro e ondulante, semelhante ao padrão e elegância das borboletas. Existe ao longo de Portugal inteiro e é facilmente reconhecida pelas suas cores: uma crista ou poupa como fios dourados no topo da cabeça com pontas escuras, que ao retirar-se para baixo cria a forma de um espigão. O macho e a fêmea apresentam plumagem castanha-alaranjada e ocre com um ventre aclarado. As asas e cauda apresentam um padrão de riscas que se alternam entre o branco e o preto. O bico é fino, negro e ligeiramente encurvado.

Vive sobretudo em locais secos e anda regularmente no solo por locais de vegetação herbácea, com muitos arbustos: montados, olivais, pastagens, pousios e até mesmo quintas e terrenos agrícolas. É possível avistá-la com mais facilidade ao longo da primavera e do verão. No inverno, decide resguardar-se.

UM PERFUMAR QUE NÃO POUPA A ESTRAGOS

Mas não é só do salão de beleza da natureza que a poupa vive, esta ave de silhueta londrina dos anos 60, não tem pudor em manifestar um poderoso odor para se defender dos perigos à espreita.

Na vida matrimonial, estas aves predispõem-se aos cantos do amor pela primavera: o macho emite um suave canto de garganta inchada e bico ligeiramente aberto, inclinado para o peito.

Ao longo da europa as poupas são conhecidas por gerar uma ninhada por ano, com exceção dos países do sul, como Portugal, onde é costume gerarem uma ninhada extra. Concebem entre sete a oito ovos que são chocados pela fêmea ao longo de dezasseis dias nos ninhos feitos em cavidades, tanto de árvores como de edifícios em ruínas, muros de pedra ou caixas-ninho. O macho tem a responsabilidade de alimentar a família e, por vezes, ajuda a chocar no processo final. Os pequenos poupinhas nascem com penugem rala e com uma goela vermelha vivaz.

As poupas fêmeas e as crias possuem uma tática para desmantelar predadores muito específica, digna da sua consumada individualidade: tomam partido de uma glândula, chamada uropigial, que lança um líquido de cheiro tenebroso, semelhante a carne podre, que expelem exaltadas e certeiras para cima das criaturas que ousam aproximar-se dos seus ninhos. Outra das suas famosas táticas de defesa é lançar esguichos de fezes para os predadores cuscos e sedentos de alimento.

Quando não estão aperaltadas em defesa do seu lar, as poupas andam à caça de alimento. A sua dieta consiste de insetos grandes como os gafanhotos, grilos, ralos, aranhas ou minhocas. E como tudo na vida destas aves ganha uma proporção de espetáculo, a forma como consomem estes bichinhos é também algo performático e peculiar: procuram alimento pelos solos com a ajuda do longo bico e ao encontrarem a presa, beliscam-na para a incapacitar e atiram-na ao ar para a receber com habilidade no bico, deixando-a depois escorregar pela garganta abaixo.

HISTÓRIAS E CRENÇAS QUE PAIRAM NO AR

A poupa é uma ave cativante pela maneira como mantém a sua presença além céus, com asas que propulsionam o virar das páginas da história, sendo referida tanto na Bíblia como no Alcorão.

No Egito era estritamente proibido fazer-lhe mal por ser considerada um animal sagrado. No Alcorão, texto sagrado da religião muçulmana, teve o importante papel de aproximar o rei Salomão da rainha de Sabá, tornando-se o mensageiro aviário de uma grande história de amor.

É uma ave cativante com um voo etéreo que produz o som “hup-hup-hup” referente ao nome com que foi batizado. Esta melodia é quase um canto festivo e afirmante do seu longo percurso pelos meandros da história do planeta terra, um “hup-hup-hurra”, que nos relembra a inerente capacidade que todos temos de reinventar e transformar as nossas vidas.

SABIA QUE…

  • A poupa é a ave nacional de Israel.
  • A poupa é, na Europa e Ásia, o único representante de uma ordem de aves maioritariamente tropical: os bucerotídeos. No entanto, é o único da família que possui a tão ilustre poupa.
  • Foi durante muitos anos injustamente tida como portadora de mau augúrio e superstições, por acreditar-se que escolhia fazer ninhos nas sepulturas dos cemitérios.
  • Na Galiza é conhecida como “Galo merdento” ou “Galo porco” alusivo às suas práticas de defesa escatológicas e malcheirosas.
  • Hoje em dia, a poupa é o símbolo da LIPU, a Liga Italiana para a Proteção das Aves e Conservação da Natureza.
  • Poupa

    Upupa Epops

  • Animal

    Ave

  • Género

    Upupa

  • Família

    Upupidae

  • Habitat

    Locais secos e quentes como carvalhais, pinhais, pomares, parques urbanos, orlas de florestas e até mesmo vinhas abandonadas.

  • Distribuição

    Vive em zonas temperadas ou subtropicais da Europa, Ásia, África e até mesmo nos Estados Unidos da América. Em Portugal, encontra-se por todo o país, sendo que no norte e centro é estival e no sul residente.

  • Estado de Conservação

    Segundo a Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental 2022 LC, Pouco Preocupante.

  • Altura / Comprimento

    Mede entre 25 a 29 centímetros da ponta do bico à ponta da cauda (comprimento) e a sua envergadura varia entre os 44 e os 48 centímetros.

  • Longevidade

    11 anos (em estado selvagem)

Como protegemos a espécie?

A espécie foi identificada nos espaços florestais geridos pela empresa, de norte a sul do país, com maior ocorrência na zona interior do país e nos habitats típicos desta espécie mantidos pela empresa.

Ocasionalmente, pode ser observada junto dos campos e quintais limítrofes da Quinta de São Francisco. A sua presença é mais fácil de detetar através do característico canto, sendo possível a sua nidificação na quinta. Nessa época de nidificação, limitam-se as intervenções de gestão florestal desta e de outras espécies como forma de proteção.

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