O projeto educacional Floresta do Saber, localizado em Eixo (Aveiro), recebe a exposição “Floresta Portuguesa – Um olhar mais atento”. As mais de cem fotografias exibidas despertam a curiosidade de visitantes de todas as idades acerca da floresta nacional. O Biodiversidade.com.pt falou com as duas biólogas responsáveis da mostra, uma das quais também autora dos registos fotográficos.
“Só podemos conservar o que conhecemos”, afirma Lísia Lopes, licenciada em Biologia e Mestre em Biologia Aplicada pela Universidade de Aveiro, bióloga do herbário da Universidade de Aveiro e a autora das fotografias que compõem a exposição “Floresta Portuguesa – Um olhar mais atento”. Juntamente com Rosa Pinho, investigadora do Departamento de Biologia e curadora do Herbário da Universidade de Aveiro há 30 anos, lançam o convite: olhar de perto a floresta portuguesa e os detalhes que esta esconde à vista de todos.
Para a fotógrafa e bióloga Lísia Lopes, um dos objetivos desta exposição é “revelar a diversidade de espécies de flora da nossa floresta e alguns pormenores da sua morfologia (beleza) e dessa forma tentar captar a curiosidade do público e sensibilizá-lo para a conservação deste património”, afirma em entrevista ao Biodiversidade.com.pt. É assim que os seus dois interesses coexistem: a sua “grande paixão” pela flora materializa-se na ação de “fotografar todos os elementos da natureza, toda a biodiversidade que nos rodeia.”
Já para a bióloga Rosa Pinho, a exposição destaca a importância das florestas para o planeta. “Elas são depositárias de dois quintos de todo o carbono armazenado nos ecossistemas terrestres, sendo consideradas como ‘pulmões do mundo’”, refere, adicionando que além da fotossíntese, “as florestas desempenham papéis extremamente relevantes, quer a nível ambiental, quer económico, social e cultural”.
Nesta mostra, a história da floresta portuguesa é contada através do tempo por meio de uma série de 105 fotografias legendadas, espelhando a biodiversidade florística portuguesa – afinal, como ressalta Rosa Pinho, “Portugal, no contexto europeu, é considerado um dos países com maior biodiversidade.” Não faltam imagens de endemismos e de espécies relíquia, bem como da floresta Laurissilva (dominada por espécies da família das lauráceas às quais deve o nome e que ainda hoje pode ser encontrada na ilha da Madeira), da floresta Fagosilva (designação vinda da família das fagáceas, que inclui espécies como o carvalho e o castanheiro) e da floresta de produção, devidamente enquadradas.
Fotografar as espécies que ocorrem na floresta portuguesa, além do trabalho que é feito pelos herbários e pela documentação de espécies identificadas num determinado momento, é muito relevante, ressalta, sublinhando que “O importante património natural que a floresta autóctone integra tem sofrido constantes pressões e ameaças que conduzem à sua progressiva degradação e destruição. Alertar para a sua importância e conservação é o objetivo principal desta exposição”.
Mas Lísia Lopes vai mais longe ao afirmar que estes registos acrescentam ainda outra camada de valor: “Penso que a fotografia pode ser uma forma de comunicar ciência, valorizar e dar a conhecer a biodiversidade. Ao longo dos anos, com o aprofundar do nosso conhecimento, o olhar fica mais atento, havendo sempre novos registos, novos enquadramentos fotográficos e novas espécies a registar! Um mundo fascinante que não tem fim…”, remata.
Dar a conhecer a floresta portuguesa nas escolas
Evidenciar a variedade e a perfeição das espécies de flora da floresta portuguesa é uma forma de sensibilizar o público de todas as idades para “a conservação deste património”, acredita a bióloga, que relembra que esta exposição, primeiramente montada para celebrar o Ano Internacional das Florestas (2011), contava na altura com 80 fotos. A exibição continua a ser enriquecida com novos registos fotográficos, de forma a contar tão pormenorizadamente quanto possível “a história da nossa floresta”.
Sobre a relevância de levar o tema às escolas e a laboratórios como a Floresta do Saber, assegura que “É de extrema importância dar a conhecer os valores naturais principalmente aos mais jovens que, atualmente, contactam muito pouco com a natureza” e acredita que, ao transformar o seu “fascínio pelo mundo natural” numa exposição, contribui para a conservação dos valores naturais, despertando “a curiosidade e a vontade de explorar o mundo natural, para que todos o possamos conhecer, proteger e conservar”.
Acerca da exposição “Floresta Portuguesa – Um olhar mais atento”, e apesar de “toda a fitodiversidade exposta ser relevante”, Lísia Lopes destaca as fotografias dos carvalhos portugueses, que “tanto nos identificam e que infelizmente estão em declínio por todo o território, com consequente perda da biodiversidade” e Rosa Pinho o sobreiro, reconhecida como Árvore Nacional de Portugal em 2011.
Patente até 31 de outubro de 2023, a exposição está aberta ao público gratuitamente entre as 8h00 e as 20h00 (exceto feriados) no projeto educativo Floresta do Saber, no âmbito do RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, Laboratório de R&D detido pela The Navigator Company, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia. Marque a sua visita através do site, por e-mail ou pelo telefone 234 920 130.