A floresta, ocupando 35,4% da área de Portugal, é um dos setores mais circulares que existem. A convicção é do diretor-geral do Raiz – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, Carlos Pascoal Neto, partilhada no debate “Vamos discutir a Floresta?”, organizado pela The Navigator Company em parceria com o Expresso no passado mês de março de 2025. É por isto que sempre que o tema central é a florestal, e sobretudo a plantada, é mandatório que se fale em sustentabilidade e em gestão ativa. Assim garante-se o potencial da bioeconomia circular, com benefícios para o ambiente e para a biodiversidade que alberga, para a sociedade, ajudando a fixar a população, e para a economia, com o desenvolvimento de bioprodutos nascidos da inovação.
Esta mesma ideia foi reforçada pela professora do Departamento de Geografia e Planeamento Regional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Maria José Roxo, ao afirmar que “existe uma necessidade urgente de adotar um modelo económico sustentável que equilibre o valor económico com a preservação ambiental, garantindo um futuro mais harmonioso para a floresta portuguesa”.
Para o professor do ISA-UL, Francisco Gomes da Silva, “a floresta será também um elemento-chave na transição climática e na bioeconomia”, já que o “sector tem capacidade para contribuir para a substituição de materiais de origem fóssil, desenvolver produtos inovadores e reforçar a economia circular”.
Os bioprodutos de origem florestal, com aplicações da indústria energética ou têxtil, terão papel de destaque neste esforço de abandonar a economia linear fóssil e abraçar a bioeconomia circular. Falamos de subprodutos como embalagens, biocombustível, nutracêuticos, cosméticos ou mesmo aditivos alimentares, com uma forte contribuição do Inpactus, um programa de I&D para o desenvolvimento fruto de um consórcio constituído pela The Navigator Paper Figueira da Foz, Cacia, RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, Universidade de Coimbra e Universidade de Aveiro. Deste programa saíram, até agora, 37 patentes, já submetidas ou em preparação, em que se incluem 66 protótipos e 114 provas de conceito.
E qual o seu verdadeiro peso na economia, atualmente? Um relatório sobre bioeconomia sustentável do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral de 2020, baseado em dados do Joint Research Centre da Comissão Europeia, relativos a 2017, avança que a bioeconomia representa um volume de negócios de 41 mil milhões de euros, isto é, 11,7 mil milhões de valor acrescentado, e emprega 685 mil pessoas.
O setor das Florestas, apenas ultrapassado pelo setor da Agricultura e Pecuária, alavancado pela indústria das fileiras florestais, produz 24% do volume de negócios da bioeconomia – 9,8 mil milhões de euros – e 11% do emprego, ou cerca de 76,5 mil postos de trabalho.
Se percorrido este caminho em direção a uma economia sustentável, contas da União Europeia indicam que as empresas europeias poupariam 600 mil milhões de euros e criar-se-iam 580 mil novos empregos. Além destes benefícios, um outro: o pacote da economia circular aponta para uma diminuição de 450 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono já em 2030.
Os próximos passos em direção à bioeconomia circular deverão começar com o repensar o território português e as suas particularidades, intensificando a gestão do território e impulsionando a produtividade, respeitando-se a biodiversidade. Se não se desperdiçar o melhor recurso natural que temos, a floresta, é bem possível que Portugal encabece a lista de países europeus na liderança desta transição.