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Por que desaparecem os seres vivos? Uma crise anunciada

Mudanças climáticas, destruição de habitats e poluição colocam milhares de animais em risco de desaparecer. A Terra enfrenta uma nova extinção em massa, mas ainda há esperança na conservação da biodiversidade.

Ao longo da história da Terra, a vida nunca foi imutável. Espécies surgem, adaptam-se, transformam-se e, inevitavelmente, desaparecem, a isto chama-se evolução biológica. A extinção é parte integrante do processo evolutivo, mas a sua escala e rapidez variaram ao longo dos tempos. Registos fósseis revelam que ocorreram pelo menos cinco grandes extinções em massa, responsáveis por eliminar enormes parcelas da biodiversidade. Hoje, os cientistas alertam: estamos à beira da Sexta Grande Extinção e, ao contrário das anteriores, esta não é provocada por forças naturais incontroláveis, mas pela atividade humana.

As extinções do passado tiveram causas diversas. Há cerca de 445 milhões de anos, na transição entre o Ordovícico e Silúrico, uma glaciação súbita reduziu drasticamente o nível do mar, levando à primeira grande crise biológica, com a perda de 85% das espécies da altura. No final do período Pérmico, há 252 milhões de anos, erupções vulcânicas colossais eliminaram cerca de 90% da vida marinha e terrestre. E há 66 milhões de anos, o impacto de um asteroide na zona do golfo do México selou o destino dos dinossauros não-avianos. Estes episódios demonstram que mudanç-as rápidas no clima, cataclismos geológicos e choques cósmicos podem reconfigurar por completo a teia da vida.

O impacto humano na biodiversidade

Nos dias de hoje, porém, os motores da extinção são outros. O mais evidente é a destruição de habitats. Florestas tropicais dão lugar a campos de cultivo e pastagens; recifes de coral morrem devido ao aquecimento e à acidificação dos oceanos; zonas húmidas são drenadas para expansão urbana. O rinoceronte-de-java, hoje com menos de uma centena de indivíduos, é uma das vítimas diretas desta perda de território.

A sobre-exploração é outro fator crucial. A caça excessiva junto com a destruição do habitat levou ao desaparecimento do dodó, ave endémica das ilhas Maurícias, e ao extermínio do pombo-passageiro na América do Norte, outrora uma das aves mais abundantes do planeta. Atualmente, espécies como o pangolim e o atum-rabilho (Thunnus thynnus) enfrentam riscos semelhantes devido à caça e à pesca intensiva.

As alterações climáticas aceleram ainda mais este processo. Mudanças na temperatura, no regime de chuvas e na subida do nível do mar obrigam as espécies a adaptar-se num ritmo quase impossível. O urso-polar, dependente do gelo marinho para caçar, vê o seu habitat desaparecer ano após ano. Da mesma forma, os recifes de coral – autênticas cidades subaquáticas de biodiversidade – estão entre os ecossistemas mais ameaçados.

Também as espécies invasoras desempenham um papel destrutivo. O coelho introduzido na Austrália, por exemplo, devastou ecossistemas locais, contribuindo para o declínio de marsupiais nativos. Plantas, insetos e microrganismos – larvas (de animais marinhos), propágulos e ovos, levados muitas vezes em águas de lastro de grandes navios comerciais – transportados involuntariamente pelo comércio global têm efeitos semelhantes em muitos outros territórios.

Apesar da gravidade do cenário, existem sinais de esperança. A intervenção humana também pode inverter tendências. O caso do lince-ibérico é exemplar: considerado o felino mais ameaçado do mundo no início dos anos 2000, tem vindo a recuperar e o seu número a aumentar graças a programas de reprodução em cativeiro e à proteção do seu habitat. Este sucesso mostra que é possível travar a extinção quando existe vontade política e cooperação científica.

A história da vida na Terra ensina-nos que a extinção ou a evolução são inevitáveis, e a diversidade pode renascer se lhe dermos tempo e espaço. O desafio que hoje enfrentamos é decidir se queremos ser os agentes de destruição ou de preservação. A Sexta Grande Extinção não é um destino inevitável, é uma escolha que ainda podemos evitar.

Sabia que…

    • Os impactos mortais do calor extremo

    Ondas de calor cada vez mais intensas, impulsionadas pelas alterações climáticas, estão a provocar uma mortalidade massiva em várias espécies. No México, por exemplo, macacos-aranha caíram das árvores devido a exaustão por calor, com temperaturas a ultrapassarem os 43 °C. No Canadá, uma «cúpula de calor» em 2021 matou cerca de 10 mil milhões de cracas e 3 mil milhões de mexilhões.

    • Primeiro mamífero extinto pela mudança climática

    O roedor Melomys rubicola, endémico da minúscula ilha de Bramble Cay (Austrália), foi declarado oficialmente extinto em 2016. A causa mais provável foi a subida do nível do mar provocada pelas alterações climáticas. Este terá sido o primeiro mamífero extinto diretamente por influência humana sobre o clima, de acordo com um estudo publicado na revista New Scientist.

    • Metade dos vertebrados desapareceram em menos de meio século

    Um estudo conservador indica que a população global de vertebrados — incluindo mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes — caiu cerca de 52% nos últimos 45 anos. Estima-se que 41% dos anfíbios e 26% dos mamíferos estejam atualmente em perigo.

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