Nas margens dos rios e riachos de Portugal ergue-se uma figura elegante e misteriosa –o salgueiro-preto (Salix atrocinerea). Esta árvore, também conhecida como borrazeira-preta, destaca-se pela sua presença marcante, em que o tronco escuro contrasta com os seus ramos e folhas de dois tons, criando uma atmosfera invulgar. Conheça agora esta espécie notável.
O salgueiro-preto é um arbusto ou pequena árvore nativo da Europa Atlântica e da região mediterrânica, adaptada aos solos húmidos e à beira dos cursos de água. A sua presença ao longo das margens dos rios portugueses enriquece a paisagem e proporciona um habitat vital para diversas formas de vida.
De folha caduca, o salgueiro-preto (Salix atrocinerea) raramente ultrapassa os doze metros de altura. A sua copa é pouco densa e a casca do tronco, que começa por ser cinzenta e lisa, adquire, ao longo do tempo, um tom acastanhado, por vezes muito negro. As folhas, de formato alongado, largamente lanceoladas, assemelhando-se à ponta de uma lança, com as extremidades mais largas. Se a zona superior da folha, voltada para a luz, exibe um verde-escuro, a inferior é esbranquiçada devido à presença de pelos brancos compridos avermelhados.
A magia do salgueiro-preto atinge o seu ápice durante a floração. Destaca-se a sua floração precoce, entre janeiro e março. Este espetáculo natural transforma os ramos aparentemente simples da árvore, que nesta altura está sem folhas, em autênticas obras de arte, cobertos por pequenas flores de tons esverdeados, brancos ou amarelados, que contrastam com o tronco escuro. É uma espécie de floração dioica (isto é, as plantas masculinas apenas apresentam flores masculinas e as plantas femininas apresentam apenas flores femininas), flores essas dispostas em amentilhos verticais, semelhantes a cachos.
Mas a aparente simplicidade destas flores esconde uma complexidade intrínseca: ao atrair polinizadores como abelhas e borboletas, que beneficiam do néctar dessas flores, cria-se uma a simbiose entre o salgueiro-preto e estes polinizadores, contribuindo para a biodiversidade. O fruto do salgueiro-preto, menos vistoso, é uma cápsula pilosa, também ela coberta de pelos e que abre em duas metades (chamadas valvas), que matura entre abril e maio. Estas sementes são dispersas pelo vento ou pela água, em pequenos flocos que lembram o algodão, num processo muito semelhante ao dos choupos, igualmente da família das salicáceas.
Apesar das suas dimensões modestas, esta árvore revela-se surpreendentemente versátil nas suas aplicações. Tolera terrenos submersos pelas cheias invernais, é utilizada na estabilização de terrenos e no combate à erosão, devido ao seu sistema radicular tanto extenso quanto profundo, o que o torna uma escolha frequente, até ao seu papel crucial na engenharia natural, contribuindo para a recuperação e estabilização de margens ribeirinhas e atuando como uma eficaz barreira contra o vento.
Paralelamente, está a ser estudada a sua utilização no processo do tratamento de águas poluídas, testando-se a sua eficácia na transformação de substâncias nocivas em matéria orgânica, o que lhe confere um papel promissor na despoluição ambiental.
Para além da sua relevância ecológica, o salgueiro-preto é ainda reconhecido por conter salicina, uma substância extraída da casca, obtendo-se dela ácido salicílico, que está na base do acido acetilsalicílico, que é composto essencial da Aspirina, utilizado no tratamento de febre, dores de cabeça, entre outras condições. As suas propriedades já eram reconhecidas pelos egípcios e pelos sumérios, mas apenas em 1899 o medicamente começa a ser comercializado pela Bayer e obtém a sua fama mundial.