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Aroeira: o outono pintado de cor

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Com a sua aparência robusta e folhas de um verde profundo, a aroeira, ou Pistacia lentiscus traz um toque de cor vibrante a uma época do ano tradicionalmente mais cinzenta. Desvende-a e deslumbre-se com as surpresas e contrastes que esta planta tem para oferecer.

A aroeira, também conhecida como lentisco, alfostigueiro, árvore-do-mástique, darmacho, entre outros, é uma planta que se tivesse voz, contaria histórias que atravessam séculos. Com uma linhagem respeitável e constituição robusta, a aroeira tem sido utilizada há milhares de anos para os mais variados fins, desde os medicinais até aos alimentares.

Encontrada nas encostas ensolaradas do Mediterrâneo e nas regiões centro e sul de Portugal, é uma verdadeira sobrevivente, adaptando-se facilmente ao calor escaldante e aos ventos impiedosos das paisagens secas.

Pertencente à família das Anacardiaceae, a aroeira integra um taxón botânico com mais de 90 géneros espalhados pelo mundo, incluindo notáveis figuras, como o pistáchio (Pistacia vera), a manga a (Mangifera indica) e o caju (Anacardium occidentale). Em Portugal, o género Pistacia está representado apenas por duas espécies nativas: a cornalheira (Pistacia terebinthus) e a aroeira (Pistacia lentiscus), a protagonista da nossa história de hoje.

De folhas persistentes e raízes profundas

No outono, enquanto muitas espécies iniciam um estado de dormência que lhes permite poupar energia e enfrentar os meses mais frios do ano, a aroeira permanece ativa, robusta e vistosa. As suas folhas, de um verde profundo, e os frutos de um vermelho intenso ao preto, enchem a paisagem de cor.

A Pistacia lentiscus é um arbusto perene, que, ao contrário de outras plantas que perdem as folhas no inverno, mantém-se verde durante todo o ano. Com uma altura entre 1 e 4 metros, dependendo do solo e do clima, a aroeira é densamente ramificada desde a base e tem um crescimento lento e irregular. As suas folhas são compostas por pequenos folíolos de um verde brilhante, levemente coriáceos, e com margens inteiras. Às vezes, adquirem um tom vermelho intenso no outono e no inverno.

Como espécie dióica, esta planta apresenta pequenas flores femininas e masculinas em plantas separadas, de tons esverdeados e avermelhados respetivamente, surgindo em cachos (inflorescências, semelhantes a espigas) na primavera – entre março e maio. No entanto, o verdadeiro destaque são os seus frutos – drupas -, pequenos, redondos e aromáticos, inicialmente vermelhos e depois quase negros quando amadurecem no outono, cada um contendo apenas uma semente.

A casca do tronco, fina e acinzentada, esconde o verdadeiro tesouro: a resina de mastique, uma substância aromática utilizada para os mais variados fins desde os tempos mais antigos.

As raízes profundas da aroeira permitem-lhe sobreviver em solos arenosos, pobres e áridos. Estas raízes são a base da sua resistência, garantindo-lhe acesso à água que outras plantas dificilmente conseguem alcançar.

Adaptada à aridez e ao calor extremo, a aroeira permanece sempre verde e colorida, suportando até os ventos mais fortes, incluindo os marítimos. Contudo, não tolera o frio prolongado.

A resina milenar

Extraída através de pequenas incisões no tronco da aroeira, a resina mastique é uma substância viscosa e aromática, ligeiramente picante e doce. Utilizada durante séculos na culinária e na medicina era considerada quase mágica pelos antigos gregos. Quando mastigada, a resina fortalece os dentes e refresca o hálito, sendo o antecessor natural da pastilha elástica.

Conhecida pelas suas propriedades medicinais desde a antiguidade, a resina da aroeira era usada como bálsamo em feridas e queimaduras e, como remédio para problemas de estômago e respiratórios. É uma verdadeira farmácia, pois possui propriedades antissépticas, antifúngicas e antibacterianas. No entanto, o seu uso deve ser feito apenas sob indicação médica, devido ao alto teor de taninos, que podem causar intoxicações graves.

Na culinária, a resina é utilizada como especiaria, conferindo um sabor único e subtil a pratos de carne e peixe, licores, pastelaria e confeitaria. No campo da cosmética, o óleo extraído das suas bagas é utilizado na fabricação de sabonetes e perfumes.

Valor ecológico e ambiental

A aroeira desempenha um papel crucial nos ecossistemas onde habita. As raízes profundas ajudam a fixar o solo, protegendo contra a erosão e salvaguardando as encostas mediterrâneas. Durante o verão, a aroeira mantém-se verdejante, oferecendo sombra e abrigo à biodiversidade que a rodeia.

Os seus frutos são uma importante fonte de alimento para aves, enquanto os seus ramos oferecem abrigo para coelhos e perdizes. Além disso, esta espécie tem uma notável capacidade de regeneração após os incêndios, facilmente rebentando, mesmo quando parece totalmente destruída.

No cenário natural, a aroeira é um exemplo da nossa biodiversidade nacional, desafiando os elementos e oferecendo o seu contributo quando menos se espera. Ao encontra-la na natureza, não deixe de apreciar os seus contrastes e surpresas.

Sabia que…

  • Antigamente, no Oriente, as esposas mascavam a resina da aroeira com o fim de obter dentes brancos e hálito perfumado, deixando os sultões bastante contentes.
  • Os frutos quando espremidos dão origem a um óleo muito usado na iluminação, especialmente no Oriente, onde era preferido ao azeite.
  • A resina também serve para o fabrico de cimentos dentários, pasta para obturações dentárias e dentaduras.
  • Aroeira

    Pistacia lentiscus L.

  • Planta

  • Género

    Pistacia

  • Família

    Anacardiaceae

  • Habitat

    Pode ser encontrada em bosques e matos mediterrânicos, matagais, carrascais e em montados de azinho e na berma de caminhos.

  • Distribuição

    Espécie nativa da região mediterrânica. Existe em toda a bacia do Mediterrâneo, assim como em Portugal e ilhas Canárias. Em Portugal, ocorre no centro e sul do País, sendo raro a inexistente nas províncias do norte.

  • Estado de Conservação

    Pouco preocupante (LC) segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

  • Altura / comprimento

    Arbusto: 1- 4 m de altura por 2 a 3 m de largura Árvore: até 6-7 metros de altura

  • Longevidade

    Cerca de 100 anos. Folhosa perene

Como protegemos a espécie?

Nas florestas sob gestão da The Navigator Company a espécie pode ser encontrada na composição florística de matagais, em muitos casos como espécie característica dos habitats naturais constantes na Diretiva Habitats, sendo aí promovidas quando necessárias, para além da proteção e cartografia destes, ações de manutenção ou melhoria do estado de conservação.

Aproveitando o papel crucial das suas raízes profundas, alguns exemplares desta espécie foram introduzidos em 2017 em áreas mais secas da Quinta de São Francisco, ajudando a fixar o solo e protegendo contra a erosão.

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