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A primavera toca à campainha

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Com o aproximar do fim do inverno, as temperaturas baixas são as primeiras a abandonar-nos, mas para evitar uma total descaracterização da estação, a chuva e o cinzento que embrenha o céu batem o pé. Os primeiros vestígios de primavera tocam à campainha e, rapidamente, saem para a natureza pequenas plantas que fazem do seu florescimento um anúncio público do chegar da nova estação – qual ardina, qual quê.

A campainha-amarela (Narcissus bulbocodium) é uma dessas plantas apressadas que não espera pelo equinócio de março para despertar e colorir de amarelo as nossas florestas, campos, jardins ou quintais. Apesar de pequena, tem a força para desafiar a colossal monotonia tonal que ao inverno é inerente.

Pertence à família Amaryllidaceae, sendo “prima” de espécies, por todos, conhecidas devido ao seu avultado valor de cariz condimentar, medicinal ou ornamental, como o alho ou o cebolinho.

As espécies da família Amaryllidaceae são herbáceas perenes que apresentam um só cotilédone – folha embrionária que irrompe durante a germinação da semente. Caracterizam-se pelo seu desenvolvimento a partir de um caule subterrâneo, de forma arredondada, se a planta for bolbosa ou com uma estrutura vegetal de crescimento horizontal, no caso de ser rizomatosa.

Bolbos e rizomas cumprem funções de reserva que permitem às plantas a possibilidade de se manterem “adormecidas” durante épocas agrestes ao seu desenvolvimento. As plantas acordam do seu “sono” assim que as condições ambientais o permitam, normalmente, no outono, dando um rápido começo ao seu processo de renovação. As primeiras folhas surgem, ainda, durante o outono, já o seu florescimento tende a acontecer no inverno, a partir de fevereiro.

Uma campainha silenciosa que não está avariada

Narciso-de-cebola-lanuda ou cuco são algumas das denominações comuns desta herbácea bolbosa, capaz de atingir os 40 centímetros de altura. O seu bolbo subterrâneo, de tonalidade esbranquiçada que resvala para o acastanhado, dá origem a um conjunto de duas a quatro folhas, que começam a surgir, por norma, no final do outono ou no início do inverno. Estas folhinhas verde-escuras são finas, compridas e eretas.

Posteriormente, dá-se a formação do caule florífero, ao qual se dá o nome de escapo, de formato cilíndrico e, também, ele de cor esverdeada. O escapo surge diretamente do bolbo, não apresenta ramificações e acarreta a função de suporte da flor.

A extremidade do escapo é, então, entre janeiro e abril, colorida de amarelo ou laranja pelo nascimento das vistosas flores que, de formato semelhante ao de um cone invertido, tendem a surgir numa posição quase paralela ao solo.

O fruto da campainha-amarela é uma cápsula esférica que contém uma avultada quantia de pequenas sementes escuras, mas brilhantes.

Os habitats das campainhas

Esta espécie ocorre no sudoeste europeu e no norte de África. Por cá, pode ser, facilmente, encontrada por todo o território continental.

A Narcissus bulbocodium tem preferência por locais com uma exposição solar controlada, com alguma zona de sombra e pautados por uma temperatura amena. No que aos solos diz respeito, ocorre em terrenos com pH ácido e pobres em azoto, como, por exemplo, solos arenosos, argilosos e calcários.

Em Portugal, podemos encontrar duas subespécies de Narcissus bulbocodium: a subsp. bulbocodium e a subsp. obesus. As duas subespécies são de fácil distinção devido à coloração da sua corola – o conjunto das pétalas da flor – sendo que a primeira apresenta uma banda verde ao longo do tubo e a segunda é, totalmente, amarela.

Uma outra distinção entre as subespécies é o seu local de ocorrência. A subsp. bulbocodium, , prefere solos arenosos ou argilosos e pode ser encontrada em prados húmidos, margens de linha de água, etc., já a subsp. obesus, espécie endémica da Península Ibérica, pode ser encontrada, sobretudo, no litoral centro e sul do país, em solos de origem calcária, como charnecas ou arribas, por exemplo.

Sabia que…

– O nome atribuído ao género Narcissus tem origem na mitologia grega. Narciso, filho do Deus Cefiso, o Deus dos Lagos, era um belo rapaz que suscitava a paixão de todos os homens e mulheres, no entanto, o jovem desprezava todas as propostas de amor recebidas. Como vingança perante esta atitude, os deuses fizeram com que ele se apaixonasse pela sua própria imagem, refletida na água de um lago. Completamente apaixonado e incapaz de se separar da sua própria figura, acabou por cair e morrer afogado. Junto a esse mesmo lago surgiu uma flor, extremamente, bela, à qual foi dada o nome de Narciso.

– A campainha-amarela tem, ao dia de hoje, inúmeras utilizações. O seu valor ornamental é inestimável, podendo ser encontrada, amiúde, em jardins ou canteiros. Já o agradável aroma que exala, confere-lhe a capacidade de perfumar armários ou divisões inteiras.

  • Campainha-amarela

    Narcissus bulbocodium

  • Planta

  • Género

    Narcissus

  • Família

    Amaryllidaceae

  • Habitat

    Pode ser encontrada em locais com uma exposição solar controlada, sombra e uma temperatura amena, com solos arenosos, argilosos e calcários de pH ácido e pobres em azoto. Por exemplo em prados, margens de linhas de água, charnecas ou dunas.

  • Distribuição

    Ocorre no sudoeste europeu e no norte de África.

  • Estado de Conservação

    Segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, Pouco Preocupante.

  • Altura / comprimento

    Pode atingir até 40 cm de altura

  • Longevidade

    Perene

Como protegemos a espécie?

Esta espécie está abrangida sob o Anexo V da Directiva Habitats (espécies de fauna e de flora cujas recolha e exploração são controladas), sendo no entanto comum no nosso país. A espécie está identificada e cartografada em algumas propriedades florestais geridas pela empresa de Norte a Sul do país, sendo que nesses locais se condiciona o uso de herbicidas.

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