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Abrótea-de-verão: uma estratega tolerante ao stress

Entre as pedras e a aridez dos campos mediterrânicos, ergue-se todos os anos um sinal de resistência e beleza. Com as suas hastes floridas e elegantes, a abrótea-de-verão (Asphodelus aestivus) é muito mais do que um ornamento natural. Esconde histórias, funções ecológicas e adaptações notáveis.

Desde o litoral às zonas serranas, a abrótea-de-verão é presença habitual nas paisagens mediterrânicas de Portugal. Prefere terrenos bem drenados, geralmente calcários ou arenosos, e suporta desde zonas de baixa altitude até cerca de 1 200 metros.

Ocorre sobretudo em clareiras de matos, prados ralos e terrenos incultos, onde a competição por água e nutrientes é reduzida. Contudo, está perfeitamente adaptada aos verões quentes e secos, mostrando-se uma verdadeira estratega tolerante ao stress ambiental.

O segredo da sua resistência está nos rizomas tuberosos – estruturas subterrâneas que acumulam reservas de amido que permitem à planta entrar em dormência e sobreviver nos meses sem chuva. Estes tubérculos funcionam como uma estrutura reguladora, permitindo que a planta ajuste a produção de flores e frutos ao ritmo das estações no clima mediterrâneo. Este estratagema pode ajudar a explicar a sua vasta distribuição em todo o Sudeste da Península Ibérica.

Flores que atraem vida

As folhas da abrótea-de-verão, verde-acinzentadas e verticais, surgem no outono-inverno e desaparecem no auge do calor, poupando energia e água. Entre o fim do inverno e a primavera, a planta lança caules florais simples e eretos que podem atingir até um metro e oitenta de altura.

As flores brancas, com seis pétalas marcadas por uma nervura central acastanhada ou rosada, têm seis estames, com pontas amarelas ou alaranjadas, e um centro (gineceu) colocado acima das outras peças florais, dividido em três partes. Estas flores atraem abelhas, abelhões e outros insetos polinizadores (entomofilia), garantindo néctar aos seus polinizadores e a sua reprodução.

Depois da floração, formam-se os frutos, pequenas cápsulas ovóides que libertam sementes escuras e duras, capazes de resistir no solo durante anos até que o ambiente seja favorável à germinação. É mais uma prova de como esta espécie é estratega e está moldada à imprevisibilidade do clima mediterrânico.

Entre o útil e o simbólico

Embora contenha compostos tóxicos (saponinas e alcaloides) nas raízes e sementes, a abrótea-de-verão foi utilizada em tempos na medicina tradicional (como diurético e purgante, em doses controladas) e em práticas veterinárias. Na antiguidade clássica, o género Asphodelus esteve ligado a rituais e simbolismos funerários, sendo associado à renovação e ao ciclo da vida.

Tal como acontece com o medronheiro, outra espécie mediterrânica autóctone, a abrótea-de-verão, além da sua beleza, é uma aliada na preservação dos ecossistemas: ajuda a fixar o solo, combate a erosão e pode ser utilizada em projetos de restauro de habitats mediterrânicos. A sua rusticidade natural faz lembrar a murta, um símbolo da flora portuguesa, apreciada tanto pelo seu valor ecológico como pelas propriedades tradicionais, sendo também muito usada em jardins naturalistas.

Sabia que…

  • As suas flores abrem gradualmente ao longo do caule desde a base para o topo, prolongando a floração por várias semanas, o que proporciona néctar contínuo aos polinizadores.
  • As flores são mais abundantes em anos de inverno chuvoso, refletindo a dependência da planta da água armazenada no solo.
  • É frequentemente confundida com a Asphodelus serotinus, mas distingue-se por ter hastes menos ramificadas e frutos menores (cápsulas de 5-8 mm, em contraste com 9-16 mm em A. ramosus).
  • Abrótea-de-verão

    Asphodelus aestivus

  • Planta

  • GÉNERO

    Asphodelus

  • FAMÍLIA

    Xanthorrhoeaceae

  • HABITAT

    Pastagens e matagais

  • DISTRIBUIÇÃO

    SW da Península Ibérica

  • ESTADO DE CONSERVAÇÃO

    Pouco preocupante (Least Concern, IUCN 3.1)

  • ALTURA / COMPRIMENTO

    Entre 70 a 180 cm.

  • LONGEVIDADE

    Perene, anual

Como protegemos a espécie?

São definidas zonas com interesse para a conservação que são geridas de forma a manter ou melhorar os habitats que proporcionam condições de alimentação, refúgio e reprodução, podendo funcionar como corredores ecológicos para facilitar a dispersão natural das espécies e o intercâmbio genético entre populações.

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