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Falcão-peregrino: o mestre dos ares

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Se existisse uma competição para a ave mais veloz do planeta, o falcão-peregrino (Falco peregrinus) seria o campeão indiscutível. Com mergulhos que podem ultrapassar os 390 km/h, este predador é um verdadeiro caçador dos céus, um mestre da aerodinâmica e um dos mais fascinantes representantes da biodiversidade global.

O falcão-peregrino é uma ave de rapina de tamanho médio, com um corpo robusto e asas longas e pontiagudas que o tornam incrivelmente ágil. Mede entre 34 a 58 cm de comprimento, com uma envergadura que pode chegar a 120 cm.

A sua plumagem é uma obra-prima da natureza: o dorso cinzento-azulado contrasta com a barriga clara e finamente riscada, enquanto a cabeça ostenta uma “barrete” escuro, como se usasse uma máscara de super-herói. E talvez o seja, pelo menos no mundo das aves! Quando observado de perto, destacam-se as patas amarelas, as finas barras transversais típicas dos adultos e o marcante “bigode”.

Viajante e estratega à escala global

O nome “peregrino” não é por acaso: esta espécie tem uma distribuição global impressionante, estando presente em todos os continentes, exceto na Antártida. Pode ser encontrado em escarpas rochosas, montanhas, desertos e até mesmo em grandes cidades, onde edifícios altos substituem penhascos naturais. A sua capacidade de adaptação é notável e demonstra porque continua a ser um dos predadores mais eficazes do mundo.

Mas o falcão-peregrino não se limita a ser rápido, é também um estratega nato. A sua tática de caça é uma combinação de velocidade e precisão cirúrgica. Planeia a grande altitude, fixa o olhar na presa (geralmente aves de pequeno e médio porte) e, num único mergulho vertiginoso, atinge-a com uma violência fulminante. As suas garras afiadas fazem o resto do trabalho.

Na época de reprodução as suas habilidades em voo também se fazem notar. Durante o acasalamento o falcão-peregrino dá um verdadeiro espetáculo aéreo. Os casais executam voos sincronizados e perseguições aéreas num bailado romântico digno de um filme. São monogâmicos e tendem a regressar ao mesmo local de nidificação todos os anos. Os ninhos, chamados “ninhos de arribas”, são frequentemente localizados em falésias ou estruturas altas. A fêmea põe entre dois a quatro ovos, que são incubados durante cerca de um mês.

Vulnerável apesar de predador

Apesar da sua vasta distribuição, o falcão-peregrino enfrentou um declínio grave no século XX, devido ao uso de pesticidas como o DDT, que enfraquecia as cascas dos seus ovos. Esta ave de rapina é extremamente sensível aos poluentes ambientais e, por isso, é reconhecida como um “barómetro” na monitorização da contaminação ambiental e os seus efeitos na ecologia e na saúde humana.

Um estudo recente demonstrou que para aprofundar a ligação entre estas aves e o meio ambiente, é fundamental que as investigações futuras alarguem o âmbito da monitorização, abrangendo novos poluentes em desenvolvimento. De acordo com Antonio Giordano, fundador e diretor da Sbarro Health Research Organization (SHRO) e coautor do estudo, a monitorização desta espécie pode revelar informações essenciais sobre a integridade e os níveis de contaminação dos habitats onde se encontra. Giordano destaca que esta prática não só orienta ações de conservação, mas também permite investigar o impacto dos poluentes ambientais na saúde humana, conforme referido num artigo publicado no portal de divulgação científica Phys.org.

De acordo com as conclusões do estudo, “a integração dos dados da monitorização dos falcões em quadros mais amplos de saúde ambiental aumentará a nossa capacidade de detetar e mitigar os efeitos da contaminação, apoiando, em última análise, a preservação da biodiversidade, a integridade dos ecossistemas e o bem-estar humano para as gerações futuras”.

Os investigadores sugerem que, ao considerar o falcão-peregrino como um bioindicador essencial, será viável desenvolver estratégias de conservação e iniciativas de saúde pública mais eficientes. Defendem, ainda, a implementação de uma abordagem integrada de “One Health” (Uma só Saúde), que realce a interligação entre a vida selvagem, os seres humanos e a saúde ambiental. Desta forma, o falcão-peregrino poderá servir como uma fonte importante de indicadores relevantes.

O falcão-peregrino é muito mais do que um recordista de velocidade: é um exemplo de adaptação, resiliência e eficiência predatória. Um verdadeiro senhor dos ares que merece todo o nosso respeito e admiração.

Sabia que…

  • Sabia que os falcões-peregrinos têm uma visão cerca de oito vezes mais apurada do que a dos humanos? Se tivessem smartphones, provavelmente conseguiriam ler as mensagens a quilómetros de distância!
  • Durante a Idade Média, o falcão-peregrino era reservado para príncipes e nobres, enquanto outras classes sociais utilizavam aves diferentes na falcoaria. 
  • Era uma das aves mais conhecidas do antigo Egito. Era o animal utilizado para representar os deuses Hórus, aparecendo a sua imagem na escrita hieroglífica aludindo ao deus, também ele um falcão sobre a Terra.
  • Falcão-peregrino

    Falco peregrinus

  • Ave

  • Género

    Falco

  • Família

    Falconidae

  • Habitat

    Esta espécie tende a ocupar habitats em áreas montanhosas ou costeiras, embora também possa ser avistada em grandes centros urbanos.

  • Distribuição

    Esta ave está presente em todos os continentes, à exceção da Antártida. Em Portugal, o falcão-peregrino apresenta uma distribuição ampla, embora fragmentada, ocupando os principais maciços montanhosos do país, os vales escarpados do nordeste e toda a faixa costeira das regiões centro e sul.

  • Estado de Conservação

    No Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal é considerada vulnerável (VU)

  • Altura / comprimento

    Um adulto pode variar entre os 38 e os 50 cm.

  • Longevidade

    Regra geral, vivem entre 10 a 15 anos quando selvagens, mas em cativeiro podem chegar aos 25 anos.

Como protegemos a espécie?

Temos vindo a identificar a presença de espécies protegidas nas nossas propriedades, como é o caso do falcão-peregrino, detetado recentemente na propriedade do Zambujo em atividade de caça. Mesmo na ausência de ninhos, assumimos o compromisso de preservar e valorizar a biodiversidade. Por isso, o nosso foco passa por manter — e sempre que possível, melhorar — o habitat natural destas espécies, promovendo um equilíbrio sustentável entre a gestão florestal e a conservação da natureza.

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