Biohistórias

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A conservação da biodiversidade na The Navigator Company

A conservação da biodiversidade na The Navigator Company foi integrada nas operações florestais do dia a dia. O resultado? Propriedades em que eucaliptais, carvalhais, amiais e múltiplos habitats, com aves de rapina, lontras, veados e pequenos anfíbios, entre tantos outros, encontram condições para prosperar.

Longe vai a ideia de que, em propriedades destinadas à plantação de eucalipto para a produção de pasta e papel, não podem existir habitats raros, linhas de água protegidas por densa vegetação, outras espécies de flora, ou diversidade de fauna e de outros valores naturais. Não só esta é uma diversidade possível, como desejável para o equilíbrio dos ecossistemas. E, por isso, este é um pilar essencial de uma gestão florestal sustentável.

Quando a preocupação com a biodiversidade é integrada de forma natural, transversal a todas as operações e com uma preocupação de preservar os habitats e espécies existentes, os números falam por si: dos cerca de 105 mil hectares de área gerida pela Navigator, em Portugal, mais de 11,8% são em zonas com interesse para a conservação. Desses, 4075 hectares estão classificados como habitats protegidos pela Rede Natura 2000 (habitats raros, ameaçados ou vulneráveis, segundo as orientações da União Europeia) e 1655 hectares são Áreas de Alto Valor de Conservação (AAVC) – como por exemplo, áreas com habitats prioritários para conservação, que apresentam um estado favorável (e não degradado) e que são críticas para a existência de determinada espécie.

Em Vale de Beja, por exemplo, pode ser observado um destes Altos Valores de Conservação. Trata-se de um carvalhal de carvalho-cerquinho (Quercus faginea), habitat Rede Natura 2000 (9240 – Carvalhais ibéricos de Quercus faginea e Quercus canariensis) cujo estado de conservação em Portugal é desfavorável e que em Vale de Beja existe em grande dimensão e bem preservado. A prioridade, aqui, tem sido manter esta AAVC e aumentar a sua área, requalificando novas zonas de carvalhal e criando corredores ecológicos entre os diversos habitats identificados.

Nesta e nas restantes áreas florestais da Navigator, foram já identificadas mais de 800 espécies e subespécies de flora e 245 espécies de fauna (março 2022). Embora a maioria não tenha um estatuto de ameaça preocupante, 53 estão nessa categoria e 21 classificadas como quase ameaçadas – com 36 consideradas “Vulnerável”, 13 “Em Perigo” e quatro “Criticamente em Perigo”. É exemplo deste último grupo o carvalho-de-monchique (Quercus canariensis), espécie endémica do sudoeste do Mediterrâneo, com menos de 300 exemplares em Portugal, e que está identificada em duas propriedades geridas pela Navigator.

Já as águias-de-bonelli (Aquila fasciata), aves de rapina de grande dimensão e um característico ventre branco, são espécies “Em Perigo” que podem ser vistas em diversas propriedades Navigator no sudoeste alentejano e Algarve. São “visitas” comuns, uma vez que nidificam em grandes árvores destas florestas, nomeadamente em eucaliptos antigos.

Aquila fasciata

Um “triângulo” pela biodiversidade na The Navigator Company

Estas zonas de conservação e o levantamento de habitats e espécies presentes nas propriedades não surgem por acaso. Tudo nasce na Estratégia de Integração da Conservação da Biodiversidade desenvolvida pela Navigator, há mais de uma década, no âmbito da certificação da gestão florestal sustentável.

Os pressupostos da Estratégia permitem criar, na prática, uma espécie de “triângulo” que norteia a abordagem à biodiversidade na The Navigator Company, dividido em três vértices: identificar, gerir e integrar:

  • Identificar: através de amostragem, são identificadas zonas com valores potenciais de biodiversidade nas propriedades e é feito um levantamento das características do habitat, espécies existentes e grau de conservação – com apoio de especialistas externos. Esta primeira avaliação estabelece uma base para a monitorização que é feita continuamente, ao longo do tempo, de forma a perceber a evolução dos valores existentes.
  • Gerir: o mapeamento e a classificação de zonas com interesse para a conservação nas suas propriedades possibilitam à Navigator fazer a gestão destes habitats tendo em vista manter ou melhorar o respetivo estado de conservação. São ecossistemas naturais e seminaturais que permitem promover a biodiversidade na The Navigator Company, equilibrar o impacto das plantações e contribuir para conservar o património natural de Portugal. Cada área é uma área, é certo. Por isso, a gestão destas zonas pode ser mais ou menos ativa, dependendo das características. Por vezes, é necessário implementar ações de requalificação – em 2021, 53 hectares foram alvo de restauro –, ou criar corredores ecológicos para espécies vulneráveis (de forma integrada com a envolvente das propriedades). Outras vezes, o mais adequado é deixar estes habitats seguir o curso natural, definindo zonas tampão de proteção nas quais não existe qualquer tipo de operações florestais, protegendo os ninhos, tocas e outros locais fundamentais para os animais existentes.
  • Integrar: a conservação dos valores naturais não é encarada de forma isolada e estanque dentro da The Navigator Company. Pelo contrário, é um racional integrado e sempre presente no planeamento de operações florestais (orientadas por uma Matriz de Impactes, que identifica qual a mitigação a fazer para cada operação). As equipas no terreno recebem formação para identificarem e reconhecerem valores potenciais de biodiversidade e todas as atividades têm em conta a necessária compatibilização das operações florestais com as melhores práticas de conservação. Tal implica, por exemplo, definir logo no início de um projeto quais as áreas a plantar e as áreas a proteger, definindo também zonas tampão e de proteção de linhas de água, essenciais para os diferentes habitats.
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Desafios para o futuro

Além da Estratégia interna para a Conservação da Biodiversidade – que está em permanente evolução para antecipar e responder a vários desafios, incluindo as Normas de certificação florestal sustentável –, a Navigator é signatária do act4nature Portugal, desde 2020. Este compromisso, numa iniciativa do Business Council for Sustainable Development (BCSD) Portugal, tem como objetivo mobilizar as empresas a proteger e promover a biodiversidade, revertendo o seu declínio.

O equilíbrio entre ecossistemas, promovido de forma integrada em cada propriedade, permite que sejam hoje encontrados nos eucaliptais corços, gamos, lebres e várias espécies de micromamíferos (tal como indicam os resultados preliminares do projeto WildForest, liderado pela Universidade de Aveiro) além de diversos insetos (como a ameaçada vaca-loura) e uma grande diversidade de aves. A sua presença é favorecida por ambientes mais diversos e naturais na envolvente dos eucaliptais.

Os resultados das monitorizações realizadas ao longo do tempo confirmam uma das grandes prioridades da Estratégia: os valores identificados nas propriedades mantiveram-se e, em alguns casos, registam melhorias.

E para o futuro da biodiversidade na The Navigator Company? Por um lado, a empresa pretende continuar a reforçar os três vértices atuais – identificar, gerir, integrar –, prosseguindo o investimento na proteção e restauro de áreas de particular valor natural e reforçando a integração da conservação em todas as atividades florestais. Por outro, o aprofundamento da gestão florestal sustentável faz surgir a necessidade de um novo vértice de atuação, em linha com as novas tendências internacionais da gestão e compatibilização de valores naturais. O “triângulo” passa assim a “quadrado”, com um novo desafio: quantificar o capital natural em termos dos serviços do ecossistema. Assim será possível perceber qual o ganho de biodiversidade obtido com as ações de proteção e conservação implementadas.

Este é um desafio complexo, sobretudo tendo em conta o número extenso de propriedades e de ações em curso, bem como pela falta de indicadores de avaliação comuns. Ainda assim, alguns projetos em desenvolvimento permitem algumas respostas, ainda que a uma escala muito pequena.

É o caso, por exemplo, da quantificação dos ganhos de biodiversidade resultantes das ações de restauro dos carvalhais em Vale de Beja. O projeto, desenvolvido pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, usa os micromamíferos como indicador desses ganhos. Mas será preciso encontrar novas abordagens para uma avaliação com várias outras dimensões, que possa ser escalável a todas as áreas geridas pela empresa – mais de 1200 propriedades florestais. Esse será, certamente, um dos próximos passos (de gigante) a dar em prol da biodiversidade na The Navigator Company.

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