Biogaleria

Mamíferos

Fuinha: a prova de que as aparências iludem

Apesar de se deslocar em pequenos saltos, a fuinha (Martes foina) é um animal que raramente salta à vista. A sua atividade estritamente noturna – repartida entre a procura de alimento e a patrulha do seu território –, aliada ao seu pequeno porte, contribuem para que passe despercebida com facilidade.

Este mustelídeo – família de mamíferos carnívoros que inclui lontras, doninhas e furões – apresenta uma pelagem acastanhada com tons de mel, corpo alongado, orelhas curtas e uma cauda longa e peluda. Pesa, geralmente, entre um a dois quilos e mede até cerca de 85 centímetros. A espécie exibe um certo grau de dimorfismo sexual, sendo os machos, em regra, maiores que as fêmeas.

A sua aparência delicada pode sugerir um animal inofensivo, mas a fuinha é, na verdade, uma caçadora exímia. Dotada de patas com cinco dedos armados com garras fortes e não retráteis, é extremamente ágil e uma trepadora nata – qualidades que abonam a seu favor aquando da caça.

Predadora oportunista, goza de um cardápio diversificado e adaptável à disponibilidade de alimento, variando conforme o local de ocorrência e a estação do ano. Embora prefira micromamíferos, pequenos mamíferos pertencentes ao grupo dos roedores e dos insetívoros como o ouriço-cacheiro ou o musaranho-de-dentes-brancos, não desdenha um prato de aves ou répteis. Em território português e, especialmente, em zonas de ecossistema mediterrâneo, a sua alimentação inclui uma grande variedade de frutos, durante a primavera e o verão e, com o fim da abundância frutícola, artrópodes e pequenos mamíferos.

Fazendo jus ao seu nome, a fuinha tem o curioso hábito de armazenar, junto da sua toca, as sobras das suas refeições para consumo posterior, em períodos de escassez.

Um mamífero viajado

A Martes foina apresenta uma distribuição generalizada em Portugal continental e, de forma geral, por toda a Europa, exceto no Reino Unido e Península Escandinava e Balcânica. Na Ásia, a sua presença estende-se pela Mongólia, Himalaias, Cáucaso e noroeste chinês.

No que a habitats diz respeito, a fuinha tem uma boa capacidade de adaptação a um leque diversificado que difere segundo a região onde ocorre. Se no norte da Europa está associada a áreas urbanas, no sul – Portugal incluído – prefere zonas rurais, como montados e sobreirais.

Em território português, coexistem duas espécies do género Martes: a fuinha (Martes foina) e a sua “irmã”, mais rara, a marta (Martes martes), cuja distribuição se encontra praticamente confinada aos carvalhais do extremo norte do país, sobretudo em Montesinho e no Gerês.

Apesar de semelhantes, as duas espécies podem ser facilmente distinguidas. A fuinha, para além de ser tendencialmente maior, exibe uma mancha branca no peito e garganta que se estende pelos membros anteriores, que se assemelha a um babete, e que apresenta contornos regulares. Já a marta detém uma mancha mais reduzida, de tom amarelado e contornos irregulares.

O que é meu, é meu

 As fuinhas são animais extremamente territoriais e solitários. A dimensão dos seus territórios varia, tendo em média cerca de 2,6 quilómetros quadrados, sendo que os dos machos tendem, em regra, a ser mais extensos do que os das fêmeas.

Apesar deste comportamento, é possível que machos e fêmeas partilhem parcialmente a mesma área. Não obstante, os encontros entre ambos estão limitados, geralmente, à época reprodutora, que tem início em meados de junho. O acasalamento ocorre habitualmente entre julho e agosto.

Na fuinha, dá-se um fenómeno biológico curioso: a implantação diferida. Após a fecundação, o desenvolvimento do embrião é temporariamente suspenso, sendo a sua implantação no útero adiada por vários meses. Como resultado, as crias – entre três a sete por ninhada – só nascem entre março e abril, após uma gestação efetiva de cerca de 30 a 40 dias. Tal acontece com outras espécies, como o texugo.As crias nascem cegas e desprovidas de pelagem, permanecendo sob cuidados maternos durante as primeiras semanas. No entanto, ganham independência rapidamente e atingem a maturidade sexual por volta dos 15 meses.

Sabia que…

– Sótãos e pilhas de cortiça são alguns dos locais originais que a fuinha pode eleger para se aninhar;

– A fuinha é dos poucos mamíferos carnívoros que consegue caçar ratazanas;

– A marcação territorial das fuinhas é feita a partir da deposição de montes de excrementos;

  • Fuinha

    Martes foina

  • Mamífero

  • Género

    Martes

  • Família

    Mustelidae

  • Habitat

    A fuinha é um animal que se adapta a um leque variado de habitats, que variam consoante a região geográfica em que ocorre. Em Portugal, está associada a zonas rurais, tendo como preferência montados e sobreirais.

  • Distribuição

    Ocorre um pouco por toda a Europa, sendo o Reino Unido e a Península Escandinava e Balcânica duas das poucas exceções. Na Ásia, pode ser encontrada na Mongólia, Himalaias, Cáucaso e noroeste chinês.

  • Estado de Conservação

    Pouco Preocupante, na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

  • Altura / comprimento

    Entre 65 e 85 centímetros.

  • Longevidade

    Em regra, entre 8 e 12 anos de vida.

Como protegemos a espécie?

A fuinha ocorre em 67 das propriedades florestais geridas pela The Navigator Company, de Norte a Sul do país. É uma espécie de fauna protegida, inserida no anexo III da Convenção de Berna e III de CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Selvagens da Fauna e da Flora Ameaçadas de Extinção).

Por ser um mamífero generalista, adapta-se, por isso, a uma grande variedade de habitats. E por ser oportunista, é também muito versátil no que toca à sua alimentação. As medidas de conservação colocadas em práticas nas nossas florestas dedicam-se à preservação dos seus habitats – sendo a sua destruição uma das maiores ameaças à espécie –, mantendo presentes os seus recursos alimentares, os seus refúgios e locais para reprodução.

Temas: