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Conservação

Tritão-de-ventre-laranja: vive na terra e reproduz-se na água

Endémico da Península Ibérica, o tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai) é uma das várias espécies de fauna que habitam nas propriedades geridas pela The Navigator Company. Por viver entre dois mundos, em terra e na água doce, procura habitats como as florestas onde existam cursos de água.

De olhos pequenos, proeminentes e em posição lateral, o tritão-de-ventre-laranja é um anfíbio de pequena dimensão facilmente distinguível pela cor vibrante na região ventral, que se encontra distribuído por todo o país, entre o norte e o centro, até chegar à Costa Vicentina.

Embora o possamos encontrar nas florestas, também tem sido observado em bosques, prados e zonas agrícolas pouco movimentadas, geralmente sempre próximas de água, tais como charcos, poças, lagoas, tanques, represas, albufeiras e ribeiros com corrente fraca. Acima de tudo, devem reunir as condições apropriadas à sua reprodução, que acontece em ambiente aquático e cuja época se prolonga de novembro a julho, dependendo da latitude e da altitude. Ou seja, nas zonas com temperaturas mais amenas, a fase aquática começa em finais de novembro, enquanto nas zonas mais frias começa a partir de abril.

Na verdade, a reprodução em si é um processo bastante interessante. Em águas paradas ou com pouca corrente, após a corte de acasalamento ser bem-sucedida, a fêmea deposita de 100 a 250 ovos na vegetação aquática existente, ao longo de vários dias. Estes, por sua vez, vão eclodir entre 10 a 20 dias após a postura, dependendo de fatores como a temperatura da água e a disponibilidade de alimento para as larvas.

Quando eclodem, entre fevereiro e junho, as larvas medem entre 8 e 10 mm e podem crescer até 20 a 30 mm, nascendo com as patas anteriores. Isto permite-lhes nadar rapidamente para se esconderem junto da vegetação aquática, protegendo-se de eventuais predadores. Já a metamoforse dos primeiros juvenis fica completa em maio, embora só atinjam a maturidade sexual após 2 a 4 anos. Ainda na fase juvenil, o tritão-de-ventre-laranja apresenta uma coloração dorsal escura e uma coloração amarela ou vermelha intensa.

Curiosamente, na sua fase adulta, por norma a fêmea é maior e mais robusta, aparentando ter uma forma mais cilíndrica e medindo entre 7 a 9 cm, enquanto o macho mede entre 6,5 e 7,5 cm, mas as diferenças não se ficam por aqui. As fêmeas apresentam um desenho dorsal mais uniforme com manchas escuras e os membros posteriores são mais desenvolvidos, enquanto os machos têm o corpo mais delgado e manchas escuras bem evidentes. Durante o período de acasalamento, a cauda apresenta um evidente achatamento lateral e desenvolve mesmo uma pequena crista.

Em termos de conservação, as populações do tritão-de-ventre-laranja parecem estabilizadas na sua zona de distribuição, pelo que está classificado com o estatuto de “Pouco Preocupante”.

Sabia que…

O nome deste tritão deve-se ao tom laranja da região ventral, salpicada por manchas laterais redondas e escuras. Por outro lado, a sua coloração dorsal pode variar entre tons castanhos, verde-azeitona ou amarelos, ponteados por algumas manchas negras. Por vezes, uma linha mais clara percorre a região vertebral. 

Consoante a fase em que se encontra o tritão-de-ventre-laranja, existem diferenças bastante acentuadas:

– Na fase terrestre: a sua atividade é mais noturna; a sua pele é rugosa e apresenta uma coloração mais escura e uniforme; os adultos alimentam-se de invertebrados de consistência mole, como minhocas e lesmas, enquanto as larvas se alimentam de pequenos crustáceos e larvas de moscas e mosquitos.

– Na fase aquática ou na altura de reprodução: a sua atividade é tanto noturna como diurna; a sua pele torna-se lisa e clara; a alimentação dos adultos e das larvas é constituída por pequenos invertebrados aquáticos.

Em termos de predadores, as larvas são presas de larvas de libélulas, insetos aquáticos, larvas de salamandras e adultos de tritão-marmorado (Triturus marmoratus), enquanto o tritão-de-ventre-laranja adulto pode ser capturado por cobras-de-água.

Quando se sente ameaçado, o tritão-de-ventre-laranja adota uma postura defensiva e arqueia o corpo de forma a exibir o laranja do ventre. Como estratégia de defesa, opta pela fuga ou, em alternativa, liberta substâncias tóxicas pelas suas glândulas cutâneas.

  • Tritão-de-ventre-laranja

    Lissotriton boscai

  • Anfíbio

  • Género:

    Lissotriton

  • Família:

    Salamandridae

  • Estatuto de conservação:

    Pouco preocupante (IUCN)

  • Habitat:

    Ocorre numa grande variedade de habitats, tais como prados, bosques e zonas agrícolas, associadas a zonas com massas de água límpida e fresca, como ribeiros com vegetação aquática abundante e corrente fraca, poços, charcos, lagoas, represas, albufeiras e até tanques.

  • Distribuição:

    Espécie endémica do oeste da Península Ibérica. Em Portugal continental, ocorre de norte a sul, embora de forma mais fragmentada na metade sul do país.

  • Tamanho:

    Fêmeas: entre 7 e 9 cm Machos: 6,5 a 7,5 cm

  • Longevidade:

    9 anos para as fêmeas 6 anos para os machos

Como cuidamos desta espécie?

Ainda que na lista vermelha da IUCN o tritão-de-ventre-laranja tenha o estatuto de “Pouco Preocupante” (LC), esta espécie é um endemismo ibérico e, por isso, está legalmente protegida pela Diretiva Habitats 92/43/CEE (anexo IV).

Por ser um anfíbio e respirar através da pele, é muito sensível a alterações ambientais, como a poluição do ar e da água, e por esta razão serve de bioindicador das condições do ambiente. Ou seja, podemos encontrá-lo mais facilmente em zonas bem preservadas.

Para a Navigator, este é o ponto de partida para proteger esta espécie, avistada com alguma frequência na Quinta de São Francisco que faz parte do património da própria empresa, responsabilizando-se no que diz respeito à conservação da biodiversidade. Preservando os habitats onde os cursos de água e a vegetação em redor são elementos centrais, estaremos a garantir a existência do tritão-de-ventre-laranja, que vive entre a terra e a água doce.

 

Que ameaças existem?

 – A destruição ou alteração do habitat e dos locais de reprodução;

– A poluição dos corpos e cursos de água doce.


Que medidas podemos adotar?

– Recuperando e protegendo o habitat e os locais de reprodução;

– Erradicando e controlando as espécies exóticas;

– Diminuindo os efeitos da poluição.

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