Biohistórias

Eucalipto

Conhecer o eucaliptal

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O eucalipto tem uma importância significativa nos setores florestal, social e económico. Descubra mais sobre como o eucaliptal da The Navigator Company se integra no mosaico florestal e como podem a produção e as medidas de preservação da Natureza caminhar lado a lado.

Multifacetado e com grande potencial, o eucalipto é aproveitado em Portugal desde o século XIX, destacando-se na economia da floresta. A sua função produtiva colmata a procura que advém do crescimento populacional e da sua procura por bens e serviços a utilização de matérias-primas não renováveis, nomeadamente as de origem fóssil.

Permite ainda a preservação das florestas naturais e o reforço da preservação de outras espécies florestais, com foco nas medidas de preservação da Natureza. Uma boa gestão florestal possibilita a coexistência, na paisagem natural, do eucaliptal e de outras florestas. Ao ser gerido de forma responsável, a conservação dos recursos naturais e a biodiversidade são preservados.

O eucaliptal no mosaico florestal

O eucaliptal não se esgota em si mesmo: antes, faz parte de um mosaico vivo que, apesar de ter como principal objetivo a produção, tem ainda como missão preservar os valores de conservação dos recursos ali presentes, bem como a sua biodiversidade. Assegurar a boa gestão florestal é assegurar a existência de outras espécies de flora ou fauna, zonas de refúgio, de alimentação, de reprodução e de passagem de muitas espécies de aves migratórias observadas.

São várias as fases por que passa um eucaliptal: no início, o terreno é preparado para uma nova plantação. São considerados eucaliptais jovens aqueles que têm entre um a quatro anos de crescimento. Aos eucaliptais desenvolvidos, com entre quatro a oito anos seguem-se os eucaliptais adultos, com entre oito e doze anos. No final deste período, as árvores estão prontas para o corte, com a finalidade de assegurar a proveniência de matéria-prima, distinguindo-se da desflorestação por ser este o seu propósito.

O eucaliptal da The Navigator Company faz parte de um mosaico de paisagem diverso em que existem outros tipos de florestas – algumas de produção de madeira, como os choupais e os pinhais, mas também para a produção de cortiça, como os sobreirais e os montados. Outras há dedicadas à produção de fruto, das quais se destacam os pinhais de pinheiro-manso, mas também pequenos olivais tradicionais, a colheita de medronho, e disponibilidade de pastagem para o gado.

Nestas propriedades tão diversificadas, onde o eucaliptal é dominante, existem zonas de conservação cujo intuito é promover o bom estado de conservação dos habitats e das espécies que lá ocorrem, garantindo-se a sua manutenção e melhoria das funções e serviços dos ecossistemas.

A localização das florestas de produção e a proteção dos seus  cursos de água, possibilita a diversidade de espécies arbóreas e arbustivas e animais, criando habitats de diferentes características que permitem a existência de uma biodiversidade rica, ao mesmo possibilitando conciliar valores paisagísticos e de recreio. Conservar e restaurar os valores naturais presentes nestas zonas tem uma grande relevância na sua gestão, permitindo a coexistência de áreas dedicadas à cultura e ao lazer, garantindo ainda a qualidade das águas, a riqueza piscícola, enquanto se contribuiu para o processo de sequestro e retenção de carbono.

Desta paisagem, que se deseja variada, contam-se ainda as faixas de descontinuidade e os acessos, essenciais para a proteção da floresta, retardando a propagação do fogo. Caminhos e acessos ajudam a rápida ação das equipas de combate a incêndios. Contribuem para este controlo da vegetação as áreas dedicadas à silvopastorícia, que não só ajudam a reduzir o combustível acima do solo, como ainda promovem a fertilidade do solo. Ainda parte deste mosaico, as zonas destinadas ao uso agrícola originam uma descontinuidade na paisagem. 

O que vem do eucaliptal

Considera-se que a madeira do Eucalyptus globulus, predominante, entre as várias espécies e híbridos de eucalipto, em Portugal, tem características particulares e que beneficiam a produção de pasta e papel. A nível global, esta espécie é vista como a ideal para esta aplicação. No entanto, o eucaliptal contribui positivamente em várias frentes:

Celulose
Além da produção de papel, a celulose pode dar origem ao lyocell, usado na produção têxtil e no fabrico esponjas. Já outros elementos, como a nitrocelulose e a nanocelulose, integram, por exemplo, vernizes, esmaltes e componentes eletrónicos.

Madeira
É utilizada na construção civil, na produção de mobiliário e no carvão vegetal, entre outros.

Produtos florestais não lenhosos
De entre estes produtos destacam-se o mel e os óleos essenciais, usados na medicina natural e na produção de cosméticos, por exemplo.

Serviços ambientais
Pode reduzir o recurso a materiais em florestas autóctones. A sua gestão cuidada contribui para a produção de oxigénio, o sequestro de carbono e a proteção do solo. Estima-se que cada eucalipto retenha de 4 a 9 toneladas de carbono por hectare anualmente, resultando em 11 a 24 toneladas de oxigénio.

Recuperação de solos

Em solos degradados, é frequente recorrer-se ao eucalipto, como espécie pioneira, para a sua recuperação.

Biocombustíveis e bioenergia
Pode contribuir para a produção de etanol, energia térmica e eletricidade.

Breve história do eucaliptal em Portugal

Uma espécie florestal de especial importância em Portugal, que ocupa 26% da floresta segundo o o 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6, 2019), o eucalipto atua em várias frentes, dos produtos comerciais diversificados à recuperação do solo ou ao sequestro de carbono. Por cá, a história do eucalipto começou a escrever-se há quase dois séculos: o registo do primeiro eucalipto plantado remonta a 1829, na Quinta da Formiga, em Vila Nova de Gaia. A espécie florestal estabeleceu-se de norte a sul, com destaque para a capital e para as plantações nas Matas Nacionais do Choupal (1868/1869), de Vale de Canas (1875), das Virtudes (1906), do Escaroupim e do Urso (1910).

O forte investimento na disseminação do eucaliptal prendeu-se sobretudo com o seu potencial, sendo que em 1869 aconteciam as primeiras plantações com o objetivo de aproveitar estes recursos para produção comercial – o que representou a aquisição, no Porto, de mais de dois mil eucaliptos com esta finalidade. A iniciativa da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses prendia-se, à data, com a confeção de travessas de caminho-de-ferro.

Década após década, o eucalipto foi o seu lugar, na produção florestal e na indústria, até, no arranque dos anos 1900, serem realizados os primeiros ensaios para a produção de pasta de papel (com pinho) pela Caima Pulp Company. As tentativas ambiciosas deram frutos e, em 1921, a fábrica desta empresa, em Albergaria-a-Velha, tornou-se a primeira – em todo o mundo – a produzir comercialmente pasta para papel recorrendo somente a madeira de eucalipto. Em 1957, a Companhia Portuguesa de Celulose em Cacia (atualmente parte da The Navigator Company) deixou também a sua marca na história, ao aplicar o processo kraft, no qual é feita, com o processo ao sulfato, a divisão química das fibras da madeira. O produto final era a inovadora pasta branqueada de eucalipto.

A importância do eucaliptal era cada vez mais notória, mas não descurava duas preocupações: a qualidade diferenciadora do produto, a sua aplicabilidade e a gestão cuidada do eucaliptal. Avançou-se, menos de uma década depois, com os trabalhos de seleção de árvores de eucalipto superiores (Departamento Florestal da Celbi, na Quinta do Furadouro) e foi criado, em 1983, o Centro de Investigação Tecnológico e Florestal da Portucel, em Aveiro. Tudo culminaria, em 1996, com a constituição do RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel.

Curiosidades sobre o eucaliptal

  • O eucalipto não é dominante na floresta portuguesa. Dados do 6.º Inventário Florestal Nacional indicam que os montados ou povoamentos de sobreiro e azinheira (folhosas perenifólias) são as formações florestais mais presentes (34% da floresta). Os eucaliptais surgem em terceiro lugar, depois dos pinhais, com cerca de 845 mil hectares (26% do total). 72% da florestal nacional é preenchida por espécies autóctones, sendo que apenas 2% desta é floresta natural.
  • O eucaliptal pode proteger os solos em termos de erosão (dependendo do modelo de silvicultura), diminuindo este risco, por escoamento de água, sobretudo em zonas com maior inclinação. Promove uma melhor infiltração de água e, por sua vez, tem grandes sombras que ajudam a baixar as amplitudes térmicas em solo descoberto.
  • 70% dos nutrientes do eucalipto encontram-se nas suas cascas, folhas e ramos. Como tal, quando caem ao solo e se começam a desfazer, introduzindo-se nos terrenos, aumentam a matéria orgânica e beneficiam o ciclo de nutrientes, contribuindo para a qualidade dos solos, permitindo colmatar falhas elementares já existentes nos solos. Esta gestão pode ser ainda potenciada por uma fertilização adequada.
  • O eucalipto convive bem com outras espécies florestais. É uma espécie exótica que não é considerada invasiva, como atesta o Decreto-Lei n.º 92/2019 que exclui as espécies da Lista Nacional de Espécies Invasoras – até porque tem uma capacidade regenerativa inferior a outras árvores, como o pinheiro, e as suas sementes não se espalham com facilidade.

Estrutural no país, com um potencial solidificado e gerador de riqueza e emprego – origina, diretamente e indiretamente, mais de 80 mil postos de trabalho –, o eucalipto é uma das espécies florestais mais importantes, em Portugal. É fundamental, também por isso, conhecer melhor o eucaliptal, a fim de tornar mais clara a sua relevância e impacto no território, beneficiando a sua gestão. Uma paisagem diversificada, constituída por mosaicos, assegura que os valores naturais da floresta existem em harmonia com os eucaliptais bem geridos, protegendo os seus recursos e preservando o ambiente – indo muito além da produção.

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