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Herdade de Espirra aumenta a sua biodiversidade

Há muito que a The Navigator Company se dedica a conservar os espaços florestais sob a sua gestão, reabilitando-os. Numa altura em que os polinizadores se encontram em declínio a nível mundial, a Herdade de Espirra está a realizar sementeiras para atrair, também, insetos. Acima de tudo, o projeto pretende contribuir para o aumento da biodiversidade que é tão importante para o equilíbrio dos ecossistemas.

 Na região de Pegões, a Herdade de Espirra proporciona mais do que os 40 hectares de vinha que integra na sua propriedade gerida pela The Navigator Company, com cerca de 1.700 hectares. Aqui, existem viveiros de produção de muitas espécies de plantas e uma área florestal composta por cerca de 600 hectares de eucaliptos, 500 hectares de sobreiros e ainda 300 hectares de pinheiro-manso, além das linhas de água e das várias espécies de fauna que podemos encontrar em múltiplos habitats naturais. Alguns destes são protegidos pela Rede Natura 2000, como é o caso do habitat 6.310 Montados de Quercus spp. de folha perene. Naturalmente, a conservação da biodiversidade tornou-se uma prioridade e tudo o que é feito neste sentido tem um propósito muito claro: permitir uma gestão florestal sustentável.

Quanto à biodiversidade na herdade, atualmente decorre um projeto de requalificação que pretende, não só, melhorar o estado de conservação dos habitats ripícolas junto às margens dos cursos de água, mas também melhorar o mosaico de habitats e ter maior diversidade.

Segundo António Aires, coordenador de produção e exploração florestal da região sul da Navigator, “trata-se de um projeto holístico. Tem uma parte de ecologia no sentido de aumentar a biodiversidade, uma parte social ao integrar as pessoas que vivem na região (ex.: apicultores que podem instalar colmeias e pastores que fazem pastoreio na herdade), além do lado pedagógico de recebermos escolas para dar a conhecer vários habitats às crianças, sempre a pensar num modelo sustentável.

Tudo começou há cinco anos com um processo de reabilitação das linhas de água e das zonas adjacentes, através da remoção das plantas invasoras como são exemplo as acácias e as canas, operacionalizada pelo Técnico Florestal Ricardo Barrela. “Numa fase inicial houve uma primeira intervenção muito física com o uso de equipamentos para cortar, destroçar cepos, arrancar e levar para biomassa. Fizemos depois a manutenção, pois essas plantas deixam um banco de sementes e de raízes que voltam a germinar.” Controlando melhor a rebentação das invasoras através de sementeiras, segue-se um processo de seleção da regeneração natural e de plantação. Nomeadamente, com “zonas de trigo, centeio, triticale e espelta, uma espécie de trigo ancestral. Por outro lado, estamos a fazer outras zonas, que é sobretudo uma grande mistura com espécies anuais e floríferas, com leguminosas, como por exemplo trevos, tremocilha (amarela e azul), ervilhaca e outras como o girassol, para melhorar a fertilidade dos solos e atrair, também, os insetos.” – conforme indicado por António Aires.

Para auxiliar o controlo natural de pragas, no ano de 2020 a Navigator colocou caixas-ninho na Herdade de Espirra com o intuito de fomentar a reprodução de aves, uma vez que estas têm como presas algumas pragas existentes nas florestas.

Considerando que 40% das espécies de insetos podem estar em risco de extinção nos próximos anos, de acordo com um estudo científico global de 2019, mais do que nunca é crucial tomar medidas de preservação. “Por estarem em declínio a nível mundial, para nós é muito importante dar uma pequena ajuda nessa preservação e ensinar a quem nos visita a importância de respeitar e preservar estas espécies de insetos.” Afinal, com o seu desaparecimento, a maioria das plantas deixará de se reproduzir, acabando por desaparecer, fragilizando os ecossistemas e influenciando a existência de vida animal e humana.

Para acompanhar a evolução do projeto, foi efetuada uma monitorização pelo Clube Xzen, uma associação que visa aproximar crianças e jovens da natureza e da ciência. Segundo Pedro Henriques, presidente desta organização, na Herdade de Espirra estão a realizar um trabalho de monitorização e levantamento da população de insetos em duas parcelas de terreno. “Uma, onde foi realizada uma sementeira com várias espécies de plantas para atrair os polinizadores e outra onde não foi realizada essa sementeira. O objetivo é fazer a comparação das duas parcelas para ver se a sementeira teve sucesso e houve maior número de insetos nesta zona. Para já, os resultados iniciais são positivos, tendo identificado uma maior diversidade e quantidade no número de espécies na área onde foi efetuada a sementeira, comparativamente à área (com o mesmo tamanho) sem sementeira.”

Contudo, o processo de monitorização pode acontecer de várias maneiras, dependendo do objetivo de estudo e da área em causa. “Podemos realizar transeptos, percursos numa determinada distância que vamos percorrendo e a cada um metro (para cada lado) registamos os insetos que são observados. Fazer amostras de 5 por 5 metros (25m2) e registar todos os insetos ou amostragens com armadilhas para moscas, dípteros ou escaravelhos.”, explica-nos Pedro Henriques.

Sobre a importância dos insetos, a sua existência é fundamental: quase 80% de todos os animais no Planeta Terra são insetos e claro, na Herdade de Espirra acabam por ser a base de todo o ecossistema. “Podemos encontrar todo o tipo de insetos: coleópteros, escaravelhos, borboletas, abelhas, vespas e formigas, dípteros, ortópteros, gafanhotos, neurópteros, entre outros.

No âmbito do projeto, foi reconstruída uma charca existente na propriedade.” Hoje, vemo-la cheia de água e já temos aqui espécies que vêm nidificar (como o mergulhão-pequeno), alimentar-se ou simplesmente beber água. Tem ainda uma outra finalidade que é a componente da defesa da floresta contra incêndios. Ou seja, os nossos bombeiros podem vir aqui abastecer-se facilmente para combater os incêndios sem terem de ir buscar água muito longe e com isso perderem eficiência”, refere ainda António Aires.

É certo que certas zonas vão demorar algum tempo a ficarem completamente reabilitadas, mas tanto António Aires como Pedro Henriques acreditam que o futuro é de tal forma promissor, pelo sucesso que está a ser, que poderá vir a ser replicado noutras propriedades da Navigator.

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