Biohistórias

Espécies Ameaçadas

O risco de extinção e os diferentes níveis de ameaça

Já reparou nas expressões “espécie vulnerável”, “em perigo” ou “extinto na natureza” associadas a algumas espécies? A perda de biodiversidade tornou mais frequente ouvirmos estas classificações. Conheça a categorização criada pela União Internacional para a Conservação da Natureza, o seu significado e importância para determinar o risco de extinção de uma espécie.

Quando ouvimos falar do risco de extinção de uma espécie, este risco foi determinado por equipas de especialistas – desde biólogos a ecólogos e especialistas em conservação – que, após um trabalho prévio do histórico de ocorrência e de anos de observação em campo, atribuíram, para uma determinada região e momento, à referida espécie um nível de ameaça, determinado por critérios que são aceites globalmente.

Os critérios que nos permitem conhecer o risco de extinção e o nível de ameaça foram estabelecidos pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN na sigla inglesa), uma organização fundada em 1948, que junta entidades oficiais e não governamentais de mais de uma centena de países em torno de um objetivo comum: a conservação global dos recursos naturais e da biodiversidade.

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Os critérios em causa, seguidos por todas as listas ou livros vermelhos, avaliam elementos como a dimensão e a fragmentação das populações, o número de indivíduos maduros (reprodutores), a distribuição geográfica da espécie e área que ocupa (e a sua evolução ao longo do tempo), ameaças e pressões, entre outras variáveis, com base nas quais é estimada uma probabilidade de risco de extinção, o que permite atribuir à espécie uma de três categorias de ameaça:

  • Criticamente em Perigo (CR – Critically Endangered): espécies cujo risco de extinção na natureza é extremamente elevado.

Algumas espécies incluídas nesta categoria:
O carvalho-de-monchique (Quercus canariensis), com menos de 300 exemplares, em Portugal, é um exemplo; o lince-ibérico (Lynx pardinus) é um dos animais inserido nesta categoria, segundo dados do Livro do Mamíferos de Portugal Continental.

  • Em Perigo (EN – Endangered): espécies que correm um risco muito elevado de extinção na natureza.

Algumas espécies incluídas nesta categoria:
O pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris) e o teixo (Taxus baccata) são espécies consideradas “Em Perigo”, no Norte e Centro de Portugal, segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular em Portugal Continental, tal como o lobo-ibérico (Canis lupus), segundo dados do Livro do Mamíferos de Portugal Continental.

  • Vulnerável (VU – Vulnerable): espécies com um risco elevado de extinção na natureza.

Algumas espécies incluídas nesta categoria:
Em Portugal, o gato-bravo é um dos animais inseridos nesta categoria, segundo dados do Livro do Mamíferos de Portugal Continental. Quanto a plantas, o cardo-burriqueiro-elegante (Onopordum illyricum) é uma espécie “Vulnerável” (VU) segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular em Portugal Continental.

risco de extinção

Quando as espécies observadas têm populações de dimensão considerável e estão presentes em amplas áreas do seu território nativo, não se enquadram em nenhuma das anteriores categorias. Consoante apontarem as evidências, as espécies podem ser consideradas como:

  • Quase Ameaçada (NT – Near Threatened): durante o período em que foi observada, a espécie não está ameaçada, mas há informações e indícios de que possa, num futuro próximo, evoluir de forma negativa e vir a integrar uma das categorias de ameaça.
  • Pouco Preocupante (LC – Least Concern): é atribuída às espécies cujas populações e área de distribuição são amplas – estáveis ou em crescimento – pelo que a espécie não inspira preocupações quanto ao risco de extinção. Exemplos no mundo animal: o ouriço caixeiro (Erinaceus europaeus) ou a toupeira (Talpa europaea), tanto no Livro Vermelho (anterior) como na IUNC.

São também atribuídas designações às espécies consideradas extintas:

  • Extinta (EX – Extinct): uma espécie é considerada extinta quando não existe dúvida razoável sobre a morte do seu último indivíduo. A categoria é atribuída após terem falhado todas as tentativas exaustivas para encontrar um indivíduo nos habitats que lhe são conhecidos e em que potencialmente poderá existir (em toda a sua área de distribuição histórica). Isto significa que as prospeções decorreram durante um período de tempo adequado ao ciclo de vida e forma biológica da espécie em questão.

De forma similar, pode ser atribuída a categoria “Regionalmente Extinta” (RE) quando não restam dúvidas de que, numa dada região, morreu o último indivíduo da espécie, embora existam populações noutras regiões, nas quais é nativa. Um exemplo é o urso pardo (Ursus arctos) que, apesar de ter sido considerado “Regionalmente Extinto” em mais de 20 países onde existia naturalmente, tem populações estáveis em vastas extensões do planeta, pelo que foi classificado globalmente na Lista Vermelha da IUCN como uma espécie que não corre risco de extinção – “Pouco Preocupante” (LC).

  • Extinta na natureza (EW)
    É a categoria atribuída às espécies que apenas existem em cativeiro, em resultado de cultivo ou com uma ou mais populações naturalizadas fora da sua área natural de distribuição. Também esta categoria é atribuída após terem sido realizados estudos exaustivos sem que tenha sido identificado pelo menos um indivíduo na natureza.

Refira-se que são ainda identificadas com a designação “Informação Insuficiente” (DD – Data Deficient) as espécies que carecem de informação adequada e/ou suficiente para poderem ser avaliadas direta ou indiretamente quanto ao risco de extinção – e que necessitam de informação relevante adicional para poderem ser avaliadas. São exemplo de animais cuja informação é insuficiente o arminho (Mustela erminea), a marta (Martes martes) e o toirão (Mustela putorius). Da mesma forma, pode haver espécies identificadas como “Não Avaliada” (NE – Not Evaluated) para formas de vida que não foram ainda sujeitas aos critérios de avaliação.

risco de extinção

Sabia que…

  • A Lista Vermelha da IUCN tem listadas perto de 143 mil espécies. Destas, mais de 40 mil estão ameaçadas, ou seja, correm risco de extinção. Incluem-se nelas 41% dos anfíbios, 37% dos tubarões e raias, 34% das espécies de coníferas (plantas/árvores), 33% dos corais, 26% dos mamíferos e 13% das aves. O objetivo é catalogar 160 mil espécies, possibilitando um olhar alargado acerca da biodiversidade mundial e a criação de um plano de conservação adequado. Esta lista é atualizada algumas vezes por ano.
  • No âmbito da Diretiva Habitats, aplica-se um processo semelhante ao da IUCN para determinar o Estado de Conservação dos habitats e suas espécies. As três classes atribuídas – “Favorável” (FV), “Desfavorável” ou “Inadequado” (UI) e “Desfavorável ou Mau” (U2) dão pistas sobre a situação da espécie a longo prazo. Há também uma quarta classificação para os casos em que a informação não permite a avaliação: “Desconhecido” (XX).

Sem informação não pode haver proteção eficaz da biodiversidade

 

A avaliação efetuada através destas metodologias constitui um indicador da biodiversidade a nível global. A informação que dela advém apoia a definição de políticas e ações de conservação coerentes com os níveis de ameaça de espécies e habitats.

Se a informação recolhida localmente contribui para traçar este cenário global, ela é essencial também para definir estratégias regionais, nacionais e transfronteiriças que privilegiem a preservação das espécies que correm maior risco de extinção e dos habitats que se encontram estado mais desfavorável de conservação.

Nas florestas sob gestão da The Navigator Company, esta ferramenta apoia a avaliação de impactes e sua mitigação e a classificação de zonas com interesse para a conservação, nas quais são implementadas medidas de gestão ativas que promovem a manutenção e requalificação de habitats com elevado valor natural, assim como a definição de estratégias de proteção e, em alguns casos, de apoio à multiplicação das espécies em risco.

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