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Verão sem picadas: como escapar aos mosquitos duplicate

Entre o suor, o sangue, o dióxido de carbono, e até o sabonete que usa, muitos são os fatores que atraem os mosquitos até si. Conhecer o “inimigo” é o primeiro passo para garantir noites sem picadas e sem comprometer a biodiversidade.

Com a chegada do verão, em Portugal, os dias tornam-se mais longos e convidativos para atividades ao ar livre. Mas há um visitante persistente que insiste em marcar presença nos nossos serões: o mosquito. Este pequeno díptero, pertencente à família dos Culicidae, não só perturba noites tranquilas como também pode representar riscos reais para a saúde humana.

Com mais de 3.500 espécies no mundo, os mosquitos são responsáveis por mais de um milhão de mortes por ano, atuando como transmissores de doenças como a malária, dengue, febre amarela, zika e vírus do Nilo Ocidental. Em Portugal, o mosquito-tigre (Aedes albopictus) tem vindo a alargar a sua distribuição geográfica, aumentando a necessidade de medidas preventivas eficazes, mas que respeitem o equilíbrio ecológico.

Por estas razões, os investigadores foram impelidos a conhecer melhor estes artrópodes, descobrir o que os move e o que os leva a escolher as suas vítimas, optando por um determinado tipo de pessoa em detrimento de outra.

Porque é que alguns são mais picados do que outros?

Vários estudos científicos ajudam a explicar por que razão certos indivíduos parecem ser mais atraentes para os mosquitos. Um dos principais fatores é o tipo de sangue. Pessoas com sangue tipo O têm 85% mais probabilidade de ser picadas do que as de tipo A ou B.

Os mosquitos conseguem detetar sinais químicos na pele, como o ácido láctico, e são especialmente atraídos por compostos carboxílicos presentes no suor humano, que têm um odor semelhante a manteiga rançosa. A microbiota da pele também desempenha um papel importante, já que certos microrganismos produzem odores irresistíveis para os pequenos sugadores de sangue.

Além disso, estes insetos são verdadeiros “caçadores químicos”, conseguem detetar dióxido de carbono da respiração humana até 60 metros de distância, identificam silhuetas escuras e preferem zonas do corpo mais quentes.

Curiosamente, o uso de sabonetes perfumados, mesmo com compostos como limoneno (considerado repelente), pode, em alguns casos, aumentar a atração dos mosquitos, dependendo da combinação química com a pele de cada pessoa.

Estratégias para se proteger e respeitar a biodiversidade

Embora ainda não exista um repelente universal, há várias formas de reduzir o risco de ser picado:

  • Use roupas claras e leves, que cubram a maior parte do corpo. Os mosquitos são atraídos por cores escuras.
  • Evite as horas de maior atividade, como o amanhecer e o entardecer.
  • Instale redes mosquiteiras nas janelas e sobre as camas, sobretudo em zonas com vegetação densa ou perto de água.
  • Elimine pontos de água parada em redor da casa: vasos, calhas, pneus ou recipientes esquecidos são autênticos berçários para larvas.
  • Use repelentes eficazes, preferencialmente com DEET (N,N-dietil-meta-toluamida), ainda considerado o composto mais fiável, ou alternativas naturais, como óleo de eucalipto-limão.
  • Experimente sabonetes com aroma a coco, que em alguns estudos demonstraram ter potencial repelente.
  • Cultive plantas aromáticas como lavanda, manjericão, alecrim ou citronela, que ajudam a afastar os mosquitos de forma natural.

Apoio aos predadores naturais

Nem todos os insetos são nossos inimigos. As libélulas, por exemplo, são grandes aliadas no controlo natural de mosquitos assim como alguns besouros. Mas também os morcegos, as andorinhas e até alguns tipos de aranhas ajudam a esta demanda. Instalar caixas-ninho ou evitar o uso de pesticidas químicos pode ajudar a criar um ambiente propício a estes predadores, contribuindo para um controlo biológico mais equilibrado e sustentável.

A luta contra os mosquitos deve ser encarada como uma responsabilidade comunitária. Desde pequenas ações individuais até políticas públicas de prevenção, todos podemos contribuir. Participar em campanhas de sensibilização, alertar para focos de reprodução em espaços públicos ou incentivar soluções baseadas na natureza são passos importantes para um verão mais seguro e livre de picadas incómodas.

Sabia que…

    1. Só as fêmeas picam

    Apenas as fêmeas dos mosquitos picam, pois necessitam do sangue para obter proteínas e ferro essenciais ao desenvolvimento dos seus ovos. Os machos alimentam-se apenas de néctar.

    1. O zumbido tem um propósito

    O som agudo que ouvimos é produzido pelo bater das asas, que vibram entre 300 e 600 vezes por segundo (podendo chegar a 700 Hz ou mais). Além de ser o elevado ritmo que gera o zumbido, este serve também como meio de comunicação entre machos e fêmeas durante o acasalamento.

    1. A cerveja faz de si um alvo mais apetecível

    Estudos demonstraram que pessoas que bebem cerveja atraem mais mosquitos, mesmo sem alterações óbvias na temperatura corporal ou dióxido de carbono expirado. Ainda não se conhece bem o motivo, mas mudanças no odor corporal após o consumo podem ser a causa.

    1. Mosquitos mais antigos que os dinossauros… quase

    Os fósseis mais confiáveis de mosquitos datam de há cerca de 125 milhões de anos, durante o período Cretáceo. No entanto, análises moleculares indicam que este grupo já existia há aproximadamente 197 milhões de anos, no início do Jurássico

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