Biogaleria

Aves

Andorinha-das-chaminés, a mensageira da primavera

Temas:

Sempre que se avistam as primeiras andorinhas do ano, em Portugal, há uma certeza: a primavera está próxima. Símbolo de esperança, de família e de lar, esta ave estival é um verdadeiro símbolo nacional e um caso de amor de um país por uma ave, presente em muitas das nossas casas. Conheça agora a espécie e o roteiro anual da andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) em busca de calor e alimento.

Das cinco espécies terrestres de andorinha que podem ser observadas nos céus portugueses, a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) é a primeira a surgir e a pressagiar que o bom tempo primaveril está a chegar ao nosso país. A espécie visita-nos durante nove meses, habitualmente entre fevereiro e outubro, bem distribuída por todo o território. Porém, as alterações climáticas podem estar a alterar este intervalo de tempo da sua visita.

Para se fixar, a andorinha-das-chaminés prefere zonas humanizadas, procurando também linhas de água, zonas alagadas e prados. Se não a avistar em pleno voo, é bem possível que a encontre em estruturas elevadas, sobre postes ou fios elétricos.

Característica distintiva desta espécie estival, a sua cauda negra, bifurcada e longa, em proporção uma das mais compridas da avifauna portuguesa apresenta guias caudais – as retrizes, bem visíveis quando em voo, ligeiramente mais curtas nas fêmeas. O azul-escuro é a cor que predomina no seu corpo: na cabeça, na banda peitoral, no dorso e na parte superior das asas, chegando a ser de um azul metalizado que aparenta ser preto à distância. Na testa e na garganta dois apontamentos de cor arruivados. Olhos, bicos e patas, estas curtas, são pretos, mas escondidos por penugem branca, existente igualmente em toda a parte inferior do corpo.

É uma espécie com uma dispersão muito alargada. Depois de passar o inverno na América do Sul, África Subsariana, Ásia Meridional, Sudoeste Asiático e Norte da Austrália, a andorinha-das-chaminés faz a sua subida estival até à Europa, à América do Norte, ao Norte de África e da Ásia. Quando regressa, pode utilizar o mesmo ninho ou, se não o encontrar, utilizar a mesma localização para construir um novo, feito de lama.

Voa em bandos não muito grandes à procura de alimento, exibindo os seus movimentos elegantes e rápidos, rasando o chão com mestria (é frequente vê-la a rasar, quase a tocar nos a caminhos ou estradas), demonstrando toda a sua habilidade, enquanto procura alimento. Caça maioritariamente invertebrados e insetos, sendo, por isso, importantes no equilíbrio da biodiversidade, evitando pragas e doenças.

Espécie monogâmica, fêmea e macho passam a sua vida juntos, sendo, por isso, relacionada ao amor. As guias simétricas são de extrema importância para o macho já que são percecionadas pela fêmea como sinal de um exemplar saudável e, logo, bom reprodutor. A fêmea faz duas a três posturas por ano. Os ovos, geralmente 4 a 5, são brancos com manchas vermelhas. Entre os predadores interessados estão as rapinas, as gaivotas, os morcegos, os mustelídeos ou mesmo os gatos e as formigas-de-fogo. Antes de adquirirem as cores dos progenitores, os juvenis exibem uma cor acastanhada clara, ainda sem as suas guias caudais distintivas.

Andorinha-das-chaminés: espécie adorada, mas repelida

Em Portugal, o seu estatuto de conservação é “Pouco preocupante” (LC), apesar dos mais recentes dados avançados pelo último Censo de Aves Comuns (CAC), que reuniu informações entre 2004 e 2023, indicar que a sua população em Portugal teve um decréscimo de 36% desde essa data.

Este censo, uma ferramenta que faculta dados importantes sobre o estado da biodiversidade a partir dos quais os governos nacionais e as entidades europeias podem agir com o objetivo de conservação das espécies, indica ainda a intensificação agrícola como uma das principais causas do declínio das aves europeias.

Entre outros perigos que a andorinha-das-chaminés enfrenta contam-se as alterações climáticas que obrigam a que a espécie altere a sua rota e também o menor acesso a locais para fazer os seus ninhos. Se, por um lado, o desaparecimento de edifícios devolutos, com as suas cavidades e esconderijos abrigados, contribui fortemente para esta menor disponibilidade de locais seguros onde nidificar, por outro a destruição dos ninhos continua a ser feita ilegalmente.

A sujidade por baixo dos ninhos é uma das principais queixas que leva alguns particulares, mas também entidades públicas, a considerar a sua remoção. A eliminação não-autorizada de qualquer ninho é proibida pela Lei portuguesa. Para obter autorização, deve ser feito um pedido ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que irá indicar a melhor altura para o fazer, fora da época de nidificação.

Outra solução para manter as boas relações com esta espécie e evitar riscos para a saúde pública pode passar pela colocação de prateleiras para dejetos, uma forma de preservar a arquitetura dos edifícios e o património natural, ou mesmo pela colocação de ninhos artificiais.

Sabia que…

  • São oitos as subespécies de andorinha-das-chaminés. No nosso país, a subespécies presente é a Hirundo rustica rustica.
  • Bordallo Pinheiro registou em 1896 a patente da sua andorinha de cerâmica. Sugere a marca que o artista teria em mente que esta se poderia tornar um símbolo português, um pressentimento que se mostrou certeiro.
  • A expressão latina una hirundo non facit ver, traduzida para “uma andorinha não faz a primavera”, de Aristótles (348 a.C – 322 a.C.), esconde um ensinamento: não se deve idealizar que tudo o que segue um evento afortunado (o avistamento de uma andorinha) é igualmente bom.
  • Dois exemplos do significado da andorinha pelo mundo: na China, é símbolo da família a harmonia; na mitologia grega simboliza o eterno retorno e a ressurreição, espécie ligada a Ísis, deusa da maternidade, fertilidade e natureza, que se transformava em andorinha todas as noites.
  • A tatuagem da andorinha foi uma das primeiras a estar em voga no início do século XX, entre os marinheiros. Era tatuada pelos mais experientes, após feitas cinco milhas náuticas. Os marinheiros acreditavam ser um símbolo de boa sorte, pois avistá-la anunciava a proximidade da terra. Acreditavam também que, ao morrer no mar, a sua alma seria levada até ao céu por andorinhas, representação da luz a transformação.
    Fonte: https://www.usni.org/magazines/naval-history-magazine/2022/august/earning-your-ink
  • Andorinha-das-chaminés

    Hirundo rustica

  • Ave

  • Família

    Hirundinidae

  • Estatuto de conservação

    Pouco preocupante (LC), em Portugal.

  • Habitat

    A espécie opta por zonas humanizadas, inclusive cidades, e próximas a linhas de água, campos abertos como prados, com vegetação baixa, e zonas húmidas, como lagoas e barragens.

  • Distribuição

    Ocorre por todo o território português, com maior incidência na Grande Lisboa, concelhos de Aveiro, Évora e Algarve.

  • Longevidade

    11 anos

  • Tamanho

    Com 17 a 19 centímetros (comprimentos) e com 32 a 34 centímetros (envergadura) e entre 17 a 20 gramas

Como apoiamos a presença da andorinha-das-chaminés?

A andorinha-das-chaminés é uma das espécies de ave migratória que pode ser observada nas propriedades geridas pela The Navigator Company.

Na Quinta de São Francisco é frequente observar a andorinha-das-chaminés voando no céu, ligeiramente acima das copas das árvores, onde captura insetos. Apesar da sua presença assídua durante toda a primavera e verão, não existem indicações de que nidifique neste local, frequentando apenas esta área de conservação para se alimentar.

É uma espécie que não necessita de cuidados especiais, além dos habituais: o respeito pela espécie e manutenção ou melhoria dos habitats que frequenta, deixando-a seguir o seu curso.

Temas: