Biohistórias

Conheça o Habitat

Zambujo: a riqueza das florestas de Quercus rotundifolia

À medida que o projeto Zambujo reCover avança – referente ao restauro ecológico do Zambujo, propriedade gerida pela The Navigator Company e localizada em Idanha-a-Nova, no coração do Parque Natural do Tejo Internacional – são cada vez melhor caracterizados os habitats, bem como a fauna e a flora que lá ocorrem. Conheça um dos habitats com maior destaque: o Habitat 9340 – “Florestas de Quercus ilex e Quercus rotundifolia pt1”, um Habitat de Interesse Comunitário (HIC).

No âmbito do projeto Zambujo reCover, cujo arranque se deu em 2022, continua a decorrer o restauro ecológico de mais de 150 hectares da propriedade situada junto à fronteira com Espanha e equivalente a cerca de 150 campos de futebol. Destes, 118 hectares estão localizados numa Zona de Proteção Especial (ZPE) do Parque Natural do Tejo Internacional, classificada pela Rede Natura 2000, englobando também muitas Áreas de Alto Valor de Conservação e integrando vários habitats protegidos.

O Zambujo reCover, iniciativa conjunta entre a The Navigator Company e o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, com o apoio de especialistas externos, visa o aumento do valor ambiental dos habitats florestais naturais e seminaturais desta propriedade, a recuperação de solos pobres, a plantação de espécies autóctones, adaptadas às características daquela zona do país (relevo, clima árido e seco e solo pedregoso e sujeito a erosão) e do adensamento de azinhais já existentes, mas, sobretudo, a conservação da natureza ali existente.

No terreno, para melhorar o estado de conservação dos vários habitats presentes na propriedade e a sua resiliência aos efeitos das alterações climáticas, ao risco de desertificação, ao mesmo tempo potenciando os serviços de ecossistemas, foram plantados 40 hectares com azinheira e em 70 hectares foi adensada a área com espécies autóctones. Procedeu-se ao controlo seletivo da vegetação arbórea e arbustiva para promover o estado de conservação dos vários habitats protegidos, entre os quais o Habitat 9340 – “Florestas de Quercus ilex e Quercus rotundifolia”, subtipo Bosques de Quercus rotundifolia sobre silicatos” (HIC 9340 pt1), um dos vários Habitats de Interesse Comunitário (HIC) presentes no Zambujo, promovendo-se a fixação de carbono e nutrientes que enriquecem o solo.

Além destas, também estão a ser colocadas em prática ações experimentais com vista a melhorar a qualidade dos solos e a minimizar o risco de erosão. Todas as atividades levadas a cabo têm como prioridade máxima o respeito e a preservação das espécies de fauna presentes na propriedade, tais como aves protegidas que ali se refugiam, alimentam e nidificam.

Este habitat, bosque dominado por Quercus rotundifolia em mosaico com giestais silicícolas, cujo estado de conservação é considerado “evolutivo” (isto é, com tendência favorável) e “favorável” em alguns locais, tais como as zonas escarpadas do rio Erges, diferencia-se do subtipo “Bosques de Quercus rotundifolia sobre calcários” (pt2). As diferenças dão-se ao nível da natureza do solo e devido à presença de outras espécies da família dos fanerófitos (plantas lenhosas com botões a mais de 25 centímetros do solo), como a zêlha (Acer monspessulanum), a cornalheira (Pistacia terebinthus), Q. x mixta (= Q. suber x Q. rotundifolia) e o zambujeiro (Olea europaea subsp. sylvestris).

Nuno Rico, responsável pela Conservação da Biodiversidade na The Navigator Company, afirma que “Com a identificação e avaliação dos valores naturais ao longo dos anos da propriedade do Zambujo foi-nos possível avançar com a concretização de várias propostas de gestão ativa de biodiversidade, entre as quais se destacam a adaptação das práticas de gestão florestal, a definição de zonas com interesse para a conservação, o restauro ecológico, permitindo melhorar o habitat das espécies de fauna e flora aqui presentes e potenciais, indo de encontro aos objetivos das áreas classificadas”. No caso do Habitat 9340, está legalmente protegido pelo Decreto-Lei 140/99, de 24 de abril – Anexo B-1, republicado pelo Decreto-Lei 49/2015, de 24 de abril.

O que são Habitats de Interesse Comunitário (HIC)?

Existem nove tipos de Habitats de Interesse Comunitário (HIC), cada um com meios naturais e seminaturais próprios e abrangidos pelo Anexo I da Diretiva Habitats (Diretiva 92/43/CEE). Neste instrumento legal estão ainda listadas as espécies de fauna e fauna associadas a cada habitat (sendo que as aves têm a sua própria diretiva), e que os Estados-membros devem desenvolver esforços no sentido da sua preservação e conversação.

Nos 397 hectares do Zambujo foram identificados dois Habitats de Interesse Comunitário – entre eles bosques de Quercus rotundifolia sobre silicatos (HIC 9340 pt1) – com interesse conservacionista, ecológico e paisagístico. Este habitat encontra-se na última etapa da sucessão ecológica vegetal, a sequência de comunidades de seres vivos que se vão substituindo em etapas de complexidade cada vez maior até chegar à maturidade (o chamado clímax). Este habitat caracteriza-se por:

  • Bosques de copado denso e cerrado com dominância de azinheira (Quercus rotundifolia), com ou sem outras árvores em codominância, e com os estratos arbustivos, herbáceo vivaz (perene), umbrófilo (que ocorre à sombra) e lianóide (que cria lianas) bem desenvolvidos, com pouca ou nenhuma intervenção humana;
  • Espécies bioindicadoras, que ajudam a conhecer o estado dos ecossistemas onde se encontram: azinheira (Quercus rotundifolia), pereira-brava (Pyrus bourgaeana), lódão-bastardo (Celtis australis) e uva-de-cão (Tamus communis);

De entre os serviços que um bosque na última etapa de sucessão ecológica vegetal oferece contam-se o sequestro de CO2, a regulação do ciclo de água, a retenção de formação do solo via acumulação de muita matéria orgânica, além da regulação do ciclo de nutrientes e refúgio da biodiversidade.

O projeto “Zambujo reCover – Projeto de requalificação florestal e proteção de solos” visa a implementação de uma ação de restauro ecológico numa área de 153 hectares, através da rearborização com espécies autóctones, com os objetivos de promover conservação de solos e a melhoria de habitats protegidos.

A intervenção decorre no Zambujo, uma propriedade florestal situada no concelho de Idanha-a-Nova, em pleno Parque Natural do Tejo Internacional e na Zona de Proteção Especial do Tejo Internacional, Erges e Pônsul, área classificada como Rede Natura 2000.

Promovida pela The Navigator Company em parceria com o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, a iniciativa tem um orçamento global de 225 774,79 euros e é financiada pelo Programa COMPETE 2020 no âmbito da medida “Apoio à transição climática/Resiliência dos territórios face ao risco: Combate à desertificação através da rearborização e de ações que promovam o aumento da fixação de carbono e de nutrientes no solo” (REACT-EU/FEDER).

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