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Carvalho-de-monchique

Muitos portugueses nunca terão visto um carvalho-de-monchique e é fácil perceber porquê: pensa-se que existam apenas cerca de 300 em Portugal, estimativa que levou a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental a classificá-lo numa das categorias de conservação mais preocupantes – a de Espécie Criticamente em Perigo.

Entre os Quercus nativos de Portugal, este será o mais raro e o seu risco de extinção deve-se ao reduzido número de árvores identificadas, ao decréscimo de populações estimado nas últimas décadas e à ausência de bosques maduros. “Há apenas pequenos bosquetes, com árvores jovens, com algumas décadas, mas não vemos bosques densos e contínuos de árvores centenárias”, sublinha Carlos Vila-Viçosa, um botânico especialista nos Quercus portugueses.

Os carvalhos-de-monchique que se conhecem no território português estão restritos à Serra que lhes dá o nome e aos vales da bacia do rio Mira, que desagua em Vila Nova de Milfontes. Nestas zonas, beneficiam de um clima que lhes é favorável: a proximidade do Atlântico, a presença de linhas de água e os declives acentuados contribuem para uma menor amplitude térmica entre o dia e noite, com formação de nevoeiros (precipitação oculta) que ajudam a manter os níveis de humidade nos vales, mesmo durante a época estival.

A melhor altura para os observar é na primavera, quando a floração se evidencia, com flores masculinas, amareladas, em inflorescências que lembram pequenos cachos (amentilhos), e flores femininas, pequeninas e discretas. Nesta época, a árvore mantém simultaneamente folhas antigas, já secas e amareladas, e folhas verdes, jovens, que vão empurrando as anteriores (folhas marcescentes). Esta coexistência permite ao carvalho-de-monchique manter a sua copa, de folhas longas e recortadas, durante todo o ano. Os frutos, bolotas, amadurecem no outono.

Carvalho-de-Monchique_1

Sabia que…

  • O carvalho-de-monchique é conhecido além-fronteiras como carvalho-da-argélia. Este é um dos países onde este Quercus se distribui naturalmente, juntamente com Marrocos e Tunísia. Isto, além da ocorrência na Península Ibérica, onde, pela sua raridade, os carvalhais ibéricos de Quercus canariensis (e de Quercus faginea ou carvalho-cerquinho) estão protegidos pela Rede Natura 2000 (habitat 9240).
  • A espécie também é conhecida como carvalho-das-canárias. Esta designação, relacionada com o nome científico Quercus Canariensis, é particularmente curiosa pelo facto de a espécie não existir nas ilhas Canárias. Aparentemente, a amostra botânica que serviu para caracterizar e nomear a espécie foi erradamente etiquetada como proveniente de Tenerife, quando a sua origem mais provável seria Marrocos, revela a Flora Ibérica.
  • Pensa-se que o carvalho-de-monchique tenha surgido durante o Mioceno (entre 23 milhões e 5 milhões de anos, aproximadamente), um período de intensa atividade geológica, em que se formaram cadeias montanhosas – inclusive na região mediterrânica – e de grande crescimento biológico.
Carvalho-de-Monchique
  • Carvalho-de-monchique

    Quercus canariensis Willd.

  • PLANTA

  • Género:

    Quercus

  • Família:

    Fagaceae

  • Estatuto de conservação:

    Criticamente em perigo em Portugal, segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental.

  • Habitats:

    Florestas e bosques serranos, em vales profundos e húmidos ou na proximidade de cursos de água.

  • Distribuição:

    Sul da Península Ibérica e Norte de África (ocidente da bacia mediterrânica). Em Portugal, está limitado à região Sudoeste.

  • Altura/comprimento:

    Até 30 metros.

  • Longevidade:

    300 anos.

Como cuidamos do carvalho-de-Monchique

O carvalho-de-monchique está identificado em duas propriedades florestais da The Navigator Company, em Marmelete (Serra de Monchique) e em São Teotónio (Odemira). Esta identificação, um trabalho de campo feito com o apoio de Carlos Vila-Viçosa, é o primeiro passo para sinalizar e proteger estas árvores.

“A identificação dos seus habitats como Áreas de Alto Valor de Conservação permite-nos, desde logo, delimitá-los e estabelecer zonas nas quais a conservação e recuperação da biodiversidade é o objetivo primordial”, revela Nuno Rico, responsável pela Conservação da Biodiversidade na empresa, explicando que uma das ações desenvolvidas tem passado pela restauro dos bosques que constituem o habitat destes carvalhos, onde se encontram também espécies como o carvalho-cerquinho (Quercus faginea), e de outros habitats e espécies que com ele contactam, como os sobreirais e medronhais.

A recuperação destes habitats promove a regeneração natural do carvalho-de-monchique, mas dada a raridade da espécie, a Navigator desenvolveu também um plano para apoiar a sua expansão: a plantação, a partir de bolotas que se desenvolvem em viveiro e são depois devolvidas à terra, começou em 2019, em Monchique.

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