Pequena, discreta e, ainda assim, incrivelmente especial. A Serapias lingua, conhecida entre nós como erva-língua, é uma das muitas joias botânicas que podemos encontrar a pontuar os prados e clareiras de matos da região mediterrânica, onde se sente em casa.
A erva-língua é uma orquídea silvestre, de caule verde e ereto, folhas basais verdes, lisas. Modesta na sua altura, que varia entre os 10 e os 60 centímetros, desenvolve-se a partir de tubérculos subterrâneos, responsáveis pela continuação da espécie.
Mas o que lhe falta em estatura, sobra-lhe em carácter. O nome comum e o epíteto específico — língua — devem-se à forma do seu labelo. A estrutura floral que, nesta espécie, se alonga como uma língua estreita, achatada, aparece-nos, por vezes avermelhada, castanha ou púrpura, coberta por uma fina pilosidade, conferindo-lhe uma textura aveludada, como se a flor nos tentasse dizer algo em silêncio.
E talvez diga. Basta olhar para a erva-língua com atenção para perceber que há ali um jogo delicado entre forma e função. O labelo atua como um autêntico palco de sedução, onde se desenrola a complexa coreografia da polinização. Atrai, de forma engenhosa, os polinizadores certos, frequentemente abelhas e outros insetos, com promessas visuais que nem sempre se cumprem em néctar, mas que asseguram a perpetuação da espécie.
Como muitas orquídeas, a Serapias lingua prefere solos bem drenados, calcários e ácidos, ricos em luz, onde a concorrência por espaço não é feroz. Surge em habitats de valor ecológico elevado, como prados seminaturais e matos claros, espaços cada vez mais ameaçados por alterações no uso do solo, abandono agrícola ou intensificação florestal.
Encontrá-la em flor, entre março e junho, é sempre uma pequena celebração da biodiversidade mediterrânica. Não por ser rara, mas porque representa uma das faces mais subtis e encantadoras da nossa flora. Entre duas a seis, as pequenas flores podem ser simples ou ramificadas, dependendo das condições climáticas. Apresentam uma cor que varia do púrpura ao rosa, sendo as extremidades de uma tonalidade mais escura.