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Anfíbio

O pequeno cantor verde

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Nos recantos mais húmidos e tranquilos de Portugal, encontra-se um pequeno artista que muitas vezes passa despercebido: a rela-meridional. Este anfíbio, apesar de não ser tão famoso como o lince-ibérico, é um dos grandes representantes da biodiversidade nacional. Venha conhecê-lo melhor.

Elegância e agilidade

Seja nas margens de charcos, ribeiros ou zonas alagadas, a rela-meridional (Hyla meridionalis) é um especialista em adaptar-se aos habitats mais variados. O seu segredo? Almofadas adesivas nas pontas dos dedos, que a tornam numa escaladora exímia – um verdadeiro “homem-aranha” dos anfíbios.

A rela-meridional é um pequeno anuro (anfíbio sem cauda), com um comprimento médio de 3 a 5 centímetros. O seu corpo é compacto e hidrodinâmico, coberto por uma pele lisa de um verde-vivo que a ajuda a camuflar-se entre a vegetação. Alguns indivíduos podem apresentar tonalidades mais amareladas ou acastanhadas, dependendo do ambiente. Uma característica distintiva é a lista escura que sai do focinho e termina por cima do ombro. O facto desta faixa não se prolongar lateralmente até ao ventre (presente noutras espécies de rela), facilita a sua identificação. Os olhos são grandes, com pupilas horizontais e íris douradas, um verdadeiro toque de elegância. As patas da frente têm 4 dedos e as de trás 5.

Dieta crepuscular

Ativa essencialmente à noite, a dieta da rela é composta maioritariamente por insetos voadores, como mosquitos, mariposas e libelinhas – os seus preferidos – mas também não diz que não a aracnídeos e outros pequenos invertebrados, desde que não sejam aquáticos.

Como predador ágil e eficiente, captura as suas presas num salto rápido e certeiro. É, portanto, um valioso aliado no controlo de pragas, incluindo mosquitos e outros insetos que incomodam os humanos – um verdadeiro serviço público.

Como inimigos mortais tem as lontras, genetas, cegonhas, garças-reais. Cobras-de-água e outros anfíbios. Os girinos são presas fáceis para os cágados, peixes, aves, larvas de insetos coleópteros e as larvas das libelinhas – um dos predadores mais ferozes.

Sinfonia noturna

A primavera é a altura em que a rela-meridional se torna mais visível e, especialmente, audível. Os machos chegam primeiro aos locais de reprodução e formam verdadeiras orquestras para atrair as fêmeas. Emitem chamamentos sonoros ritmados que podem durar horas e ouvir-se a quilómetros de distância (cerca de 2kms), enchendo o saco vocal até parecerem pequenos balões.

Após a escolha do parceiro, a fêmea deposita os ovos na água, que são seguidamente fertilizados pelo macho, geralmente em charcos, poças temporárias ou zonas húmidas protegidas, aos pequenos grupos, podendo na totalidade chegar aos 1000 ovos.

Os ovos, pequenos e gelatinosos, eclodem ao fim de poucos dias (8 a 15), libertando pequenas larvas conhecidas como girinos. Estes, como bons nadadores que são, permanecem na água, onde se alimentam de matéria orgânica e algas, até completarem a metamorfose. Num processo fascinante, os girinos desenvolvem patas, perdem a cauda e transformam-se em pequenas réplicas dos adultos com cerca de 1,5cm, prontas para a vida terrestre. Este processo leva aproximadamente 3 meses.

Refúgios húmidos e ensolarados

Em Portugal, a rela-meridional é mais comum nas regiões mediterrânicas, como o Alentejo e o Algarve, mas também pode ser avistada noutras zonas, desde que haja água e vegetação suficientes.

Prefere habitats húmidos e ensolarados, como margens de ribeiras, lagoas, zonas de regadio e até jardins com água disponível. Apesar disso, é uma espécie com uma notável capacidade de adaptação, sendo encontrada também em ambientes mais secos, desde que existam refúgios e água nas proximidades para a reprodução.

Desafios e proteção

Apesar de em Portugal não estar em perigo, em outros países, como o País Basco, a rela-meridional está classificada como em perigo. Infelizmente, como tantas outras espécies, esta também enfrenta ameaças preocupantes, começando a mostrar sinais de declínio.

A perda de habitats devido à urbanização e agricultura intensiva, a poluição das águas, as alterações climáticas e a introdução de espécies exóticas estão a afetar seriamente as suas populações.

É, pois, necessário pensar na recuperação dos habitats e dos biótopos de reprodução, no controlo da poluição e das espécies exóticas, como o lagostim-vermelho-do-Louisiana, que compete diretamente por espaço e que caça os seus ovos e larvas. Proteger a rela-meridional é proteger um dos artistas do palco da biodiversidade nacional.

Sabia que…

  • Regra geral a rela-meridional apresenta uma cor verde-vivo, mas consoante a cor do substrato e o estado emocional do animal podem observar-se tons mais escuros (castanho, cinzento).
  • Durante o inverno e no pico do verão, as relas-meridionais estivam em cavidades do solo, debaixo de folhas mortas ou entre troncos e raízes.
  • Esta espécie de batráquio chega a constituir coros de cerca de 100 indivíduos.
  • As relas-meridionais podem sofrer uma mutação na pigmentação da pele – falta de pigmento amarelo – que faz com que fiquem azuis em vez de verde-vivo.
  • No Sudoeste Alentejano esta espécie é conhecida por lucra e os sons que emite são conhecidos pelos cantos da Primavera por se realizarem principalmente em Março.
  • Rela-Meridional

    Hyla meridionalis

  • Animal – Anfíbio

  • Género

    Hyla

  • Família

    Hilídeos

  • Habitat

    Espécie com uma grande plasticidade ecológica. Vive em árvores, arbustos, pomares e vinhas, geralmente perto de habitats de água doce.

  • Distribuição

    Distribui-se pelo centro e sul do território continental português, com tendência a expandir-se para norte.

  • Estado de Conservação

    Estatuto de Conservação: LC – Pouco Preocupante

  • Altura / Comprimento

    Chega a atingir um comprimento máximo de 5,5 cm.

  • Longevidade

    Na natureza chegam a viver cerca de 10 anos.

Como protegemos a espécie?

As maiores ameaças para a rela-meridional vêm da fragmentação e destruição dos seus habitats, a contaminação da água devido ao uso excessivo de fertilizantes e pesticidas;

Nas propriedades da Navigator Company, onde vivem estes anfíbios. Para reduzir as perturbações nos habitats ribeirinhos estabelecemos uma faixa de proteção de cada lado do curso de água e em redor das charcas, onde por exemplo o corte da vegetação ribeirinha típica, a mobilização de solo e o uso de produtos químicos é altamente condicionado e seletivo, tendo estas operações como objetivo o restauro ou requalificação destas áreas.

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