Não são plantas nem animais, embora desempenhem papéis igualmente determinantes no equilíbrio dos ecossistemas. Falamos do reino dos fungos (fungi) que tem nos cogumelos os seus mais conhecidos representantes, mas que tem muito mais para desvendar.
Estima-se que existam entre 2,2 e 3,8 milhões de espécies, mas só cerca de seis centenas estão avaliados na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da UICN – União Internacional para a Conservação da Natureza, o que diz muito sobre o pouco que sabemos em relação à biodiversidade e conservação do imenso reino dos fungos.
Os cogumelos são as celebridades do reino, porque a sua parte aérea os torna mais fáceis de identificar, mas há muitos outros laboriosos fungos que trabalham “escondidos” do nosso olhar para o equilíbrio dos mais variados biomas da Terra. Embora pouco conhecidos e valorizados, intervêm de forma determinante em inúmeras funções estruturais à vida, desde a ciclagem de nutrientes à produção de medicamentos e de alimentos:
- Cerca de 80% das plantas terrestes, incluindo grandes árvores das nossas florestas e culturas alimentares, dependem da inter-relação que mantêm com os fungos (micorrizas). Acresce que a decomposição da matéria-orgânica não seria feita sem a sua ação (e a de outros organismos, como bactérias). Assim, todo o “lixo orgânico” se acumularia sobre o solo. Em consequência, não seriam renovados os nutrientes essenciais ao crescimento vegetal e o próprio solo não se renovaria nem conseguiria armazenar carbono tal como hoje acontece.
- Os bolores que estão na origem da penicilina, conhecida por ter sido o primeiro antibiótico isolado, também integram este reino: são microfungos do género Penicillium. Menos conhecido, mas igualmente importante, o fungo Tolypocladium inflatum é usado como medicamento imunossupressor no caso de transplantes e no tratamento de doenças autoimunes.
- De forma similar, as leveduras (Saccharomyces) que intervêm na fermentação e crescimento dos cereais com que se faz o pão e a cerveja, ou das uvas com que se produz o vinho, também pertencem aos fungi, em representação dos fungos unicelulares.
Estes são apenas alguns exemplos de fungos e dos benefícios que nos proporcionam. O bem que fazem compensa a má fama que têm, já que o conceito de fungo continua muito associado às doenças que provocam, tanto nos animais como nas plantas. Enquanto esta conotação negativa persistir, será mais difícil juntar vontades e recursos para conhecer e catalogar a biodiversidade fúngica, antecipar que impactos negativos podem ter as extinções neste reino e até mesmo para prever e prevenir a evolução das doenças fúngicas.