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Taxonomia: a forma como a ciência organiza a biodiversidade

Com uma estimativa de mais de 8,7 milhões de espécies presentes no planeta é preciso um sistema robusto que permita dar nome, descrever e organizar tantas formas de vida. Para essa tarefa, a biodiversidade conta com a ajuda da taxonomia, um sistema que ajuda a identificar e estudar as espécies, para que possamos reconhecê-las e conservá-las.

Porquê a organizar e classificar os seres vivos em espécies, géneros ou famílias? Porque com tantos seres vivos no mundo, seria uma imensa confusão, particularmente nos artigos e comunicações científicas, se não houvesse uma metodologia uniforme e globalmente aceite que ajudasse a organizar e classificar os seres vivos. A taxonomia é a ciência responsável por dar nome, descrever e organizar as formas de vida na Terra.

A palavra taxonomia foi cunhada pelo botânico (e também taxonomista) suíço Augustin de Candolle (1778-1841) e deriva do grego táxis, que significa ordenar ou organizar, e nomos, termo cujo sentido é tornar norma ou lei.

A organização taxonómica é hierarquizada de forma a que cada grupo de seres vivos seja classificado dentro de grupos ou categorias progressivamente maiores, até que o último grupo engloba toda a vida na Terra. Para além de organizar sistematicamente todos os organismos conhecidos, este sistema permite também dar uma ideia das relações evolutivas entre eles.

As principais categorias da taxonomia são: espécie, género, família, ordem, classe, filo ou divisão, reino e domínio. Ou seja, uma espécie pertence a um género (que pode conter uma ou mais espécies), que por sua vez está incluído numa família (que, de igual forma, pode ter um ou mais géneros) e assim sucessivamente até chegarmos à categoria taxonómica mais elevada.

Tomemos como exemplo o lobo:

  • Espécie: Canis lupus (inclui apenas o lobo-cinzento e as suas diversas subespécies, entre as quais o lobo ibérico);
  • Género: Canis (inclui por exemplo o lobo e o cão doméstico);
  • Família: Canidae (inclui animais como a raposa ou o coiote);
  • Ordem: Carnivora (inclui todos os mamíferos carnívoros, desde a gineta ao urso);
  • Classe: Mammalia (inclui todos os mamíferos);
  • Filo: Chordata (inclui animais, como os peixes, repteis, aves, etc.);
  • Reino: Animalia (inclui todos os animais, desde os insetos aos mamíferos);
  • Domínio: Eukaria (inclui todos os eucariontes, ou seja, organismos com núcleo organizado, onde o material genético está rodeado por uma membrana).

Mas se já existe um nome comum, por que se usam nomes científicos e qual a razão de os usar numa língua diferente da nossa? Apesar de existirem inúmeras designações comuns, sobretudo para espécies com maior área de distribuição geográfica natural, estes nomes são muito variáveis: mudam de idioma para idioma (entre países) e região para região (mesmo dentro do mesmo país).

Um exemplo deste último caso pode ser encontrado na planta Ruscus aculeatus, que só em Portugal é conhecida por, pelo menos, quatro nomes comuns: gilbardeira, falso-azevinho, vasculhos e pica-ratos. Com tantos nomes, gera-se confusão na referência à espécie, sendo esta confusão ainda maior entre diferentes idiomas e países.

Assim se entende a importância dos nomes científicos, únicos, compostos por dois nomes (nomenclatura binomial) e que apenas designam uma determinada espécie conhecida, uniformizando a designação de um ser vivo em todo o mundo. Regressando ao exemplo anterior: Ruscus aculeatus é igual em Portugal, Argentina, Japão ou qualquer outro local do mundo e apenas se refere àquela espécie de plantas.

taxonomia-lobo

Sabia que…

  • O sistema de nomenclatura binomial das espécies foi iniciado por Carl Linnaeus (1707-1778) em 1753, na sua obra “Species Plantarum” e, embora já existissem denominações científicas anteriores, eram menos claras, pois cada ser vivo podia ter mais do que dois nomes.
  • Os dois nomes científicos atualmente usados têm a vantagem de formar uma combinação única, curta e de simples compreensão. O primeiro identifica sempre o género, que surge com letra inicial maiúscula. O segundo identifica o restritivo específico (pode repetir-se em géneros diferentes) e surge sempre com letra inicial minúscula.
  • O sistema de nomenclatura binomial é usado para todas as formas de vida na Terra, mas existem códigos próprios para cada grupo de seres vivos: Código Internacional de Nomenclatura Zoológica, Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas ou Código Internacional de Nomenclatura de Procariotas, que contêm pequenas diferenças entre si. Por exemplo, na nomenclatura zoológica pode haver espécies com restritivo igual ao género, opção que não existe na taxonomia botânica: raposa (Vulpes vulpes), enguia (Anguilla anguilla) ou águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) são alguns exemplos.
  • A língua da nomenclatura binomial é, normalmente, o latim. Em tempos, esta era a língua usada no ocidente pelos estudiosos e, por isso, é há muito utilizada para designar as várias espécies que foram identificadas. Esta era, assim, uma língua erudita, compreendida além-fronteiras desde os tempos medievais. Por outro lado, o latim tornou-se numa língua sem falantes – uma língua morta – e, portanto, sem evolução ou alteração, o que ajuda a manter estável a nomenclatura usada na taxonomia. Embora o latim seja, por excelência, a língua da taxonomia, os nomes podem ter outras origens, como grego clássico (outra língua morta), ou derivar de nomes de pessoas ou de lugares, por exemplo, em honra de naturalistas que identificaram dada espécie ou do sítio onde foi encontrada.

Taxonomia ganha maior precisão com dados genéticos

Se anteriormente grande parte da taxonomia era baseada maioritariamente em dados físicos (morfométricos), ecológicos ou geográficos, nos últimos anos, as modernas ferramentas de análise genética (marcadores moleculares), que vemos na foto abaixo, têm tornado possível ver diferenças, no genoma, que antes estavam ocultas. Estas diferenças têm permitido a classificação de novas espécies, subespécies, variedades ou simplesmente populações com elevado valor conservacionista, particularmente em situações em que os dados clássicos não eram suficientemente distintivos.

Como só é possível conservar aquilo que conhecemos, a taxonomia é, portanto, uma ferramenta fundamental não só para o nosso entendimento da vida na Terra, mas também para a conservação da biodiversidade.

As estimativas de novas espécies por descobrir mostram que a maior parte deste trabalho de classificação e organização das espécies ainda está por fazer. Sem uma descrição e organização da grande “árvore da vida”, muitas espécies correm o risco de se extinguir antes sequer de as conhecermos. O estudo taxonómico revela-se, pois, essencial nos esforços de conservação da biodiversidade e de gestão sustentada dos recursos naturais.

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