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Cegonha-preta

Na primavera, as migradoras reforçam a população portuguesa de cegonha-preta e, no outono, deixam o país rumo a África. Algumas cruzam o litoral, num voo elegante, que intercala vigorosos batimentos de asas e momentos tranquilos, em que planam, suspensas nos céus.

Quer por terra, quer no ar, a cegonha-preta (Ciconia nigra) é uma espécie fácil de identificar, pelo contraste de cores, dimensão e beleza. A plumagem escura e lustrosa na parte superior do corpo e no pescoço, a cor branca na parte inferior, e as patas e bico longos e encarniçados são características distintivas. Ao sol, o negro das penas reflete esverdeados e púrpuras.

Apesar do seu tamanho generoso – a envergadura de asa pode ultrapassar os dois metros – a cegonha-preta é muito leve, com um peso que não ultrapassa os três quilos, o que a ajuda a planar.

Muito menos comum em Portugal do que a “prima” cegonha-branca (Ciconia ciconia), a rara cegonha-preta é uma ave que encontramos como residente, mas também como migradora. Esta sobreposição é pouco comum, indica a organização Aves de Portugal. Durante a primavera e início do verão, a cegonha-preta vive e nidifica por toda a Europa e grande parte da Ásia. Quando o outono se anuncia, a maioria da população voa para sul, para passar o inverno em terras mais quentes. Algumas, no entanto, mantêm-se todo o ano em Portugal e também em Espanha. A nível mundial, a sobreposição entre residentes e migradoras só é observada na Península Ibérica e no sul do continente africano.

Assim, no final de setembro e início de outubro, muitas cegonhas-pretas que nidificaram em Portugal e noutros países europeus voam em direção à África Subsariana. Embora Gibraltar seja o ponto preferencial para a travessia do Mar Mediterrânico, algumas desviam-se desta rota e podem ser vistas em Portugal, em paragem ou a cruzar os céus. Nesta época, podem ser observadas principalmente no litoral: Sagres é um dos locais, por excelência, para avistar esta e outras migradoras, indica a SPEA – Sociedade Portuguesa do Estudo das Aves.

As residentes vivem, sobretudo, na metade interior do país, e as migradoras nidificam principalmente nas áreas envolventes de três grandes rios, também na zona mais próxima da fronteira com Espanha: Douro Internacional, Tejo Internacional e Guadiana. A preferência por zonas tranquilas com abundância de água – rios, ribeiras, lagoas, represas – justifica-se também pela sua dieta que, embora contenha insetos e micromamíferos, como pequenos ratos e outras aves, é rica em peixes, crustáceos e anfíbios.

Ave recatada, a cegonha-preta coloca os seus ninhos em zonas escarpadas e em árvores de grande porte e vastas copas, desde sobreiros (Quercus suber) e pinheiro-manso (Pinus pinea) a azinheiras (Quercus rotundifolia) e alguns eucaliptos, pinheiros e outros carvalhos. A fêmea põe três a cinco ovos brancos, que incuba por 30 a 40 dia, e as crias permanecem no ninho até conseguirem voar, sendo alimentadas por pouco mais de dois meses. Findo esse tempo, os pais deixam o ninho e os filhotes.

Sabia que…

  • Em Portugal, existem cerca de 100 casais de cegonha-preta, segundo o ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que tem vindo a monitorizar a espécie desde 1995. Em 2021, identificou, através de recenseamento, dez casais e 21 crias pré-voadoras, o que indicou um crescimento do número de crias na zona do Douro Internacional.
  • Os ninhos de cegonha-preta são construídos a partir de paus e lama e, muitas vezes, são reutilizados ano-após-ano. As perturbações ao seu habitat podem originar o abandono temporário do ninho, ovos e crias. Isto é especialmente crítico na fase da incubação e após a eclosão, pois pode levar à perda da postura ou dos pequenos juvenis. A contaminação das águas, a colisão com linhas elétricas, a construção de infraestruturas hídricas, viárias, e mesmo recreativas ou turísticas, são algumas das ameaçadas à espécie.
  • Uma das principais diferenças entre a cegonha-preta e a cegonha-branca reside na distribuição de cores da sua plumagem: a parte superior e pescoço são integralmente escuros na primeira, enquanto na segunda apenas são escuras as penas de voo (no segmento final das asas). A cegonha-branca é um pouco maior, bastante mais comum em Portugal e menos recatada. Ao contrário da cegonha-preta, que é difícil de avistar, a branca vive perto das zonas urbanas e ali nidifica em zonas elevadas, desde árvores a estruturas construídas, como postes elétricos, torres de igreja, chaminés e até em instalações habitadas, inclusive fabris.
  • AVE

  • Cegonha-preta

    Ciconia nigra

  • Género:

    Ciconia

  • Família:

    Ciconiidae

  • Estatuto de ameaça:

    Espécie “Vulnerável” (VU) em Portugal e “Pouco Preocupante” (LC) no mundo, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. É protegida pelo anexo I e II da Convenção de Berna e Bona e ainda pelo anexo II da Convenção de CITES.

  • Habitats:

    Escarpas, junto a linhas de água ou serras, zonas florestais e agroflorestais maduras, pouco perturbadas.

  • Distribuição:

    Por toda a Europa, parte significativa da Ásia e da África. Em Portugal, pode ser observada principalmente na metade interior do país e, em passagem migratória também no litoral, em especial junto ao Cabo de São Vicente, no Algarve.

  • Altura/comprimento:

    Comprimento entre 90 e 105 centímetros, com uma envergadura de asa de entre 170 e 205 centímetros.

  • Longevidade:

    Entre 20 e 30 anos, na natureza.

Como apoiamos a presença da cegonha-preta?

A cegonha-preta tem sido avistada em algumas áreas florestais sob gestão da The Navigator Company, desde o Mogadouro, no Nordeste de Portugal, a Nisa, onde é nidificante, Vale do Sado e Alentejo.

Em Nisa, no decorrer da monitorização de valores naturais, foi descoberto um local de nidificação, em rocha, em 2016. Exceto num ano, o mesmo local tem sido usado com sucesso para a nidificação anual entre 2016 e 2022.

Como a cegonha-preta se alimenta num raio de cerca de 20 quilómetros em redor da zona onde nidifica, as principais medidas aplicadas nas zonas florestais geridas pela empresa são direcionadas à preservação dos cursos de água e charcas, que constituem importantes locais de alimentação. A preservação destas zonas de água doce é importante quer para as populações residentes, quer para as migradoras que nidificam em Portugal, e até para as que cruzam o território no decorrer das suas viagens, parando para se alimentar.

Adicionalmente, nos casos em que se justifica, também são tomadas medidas temporárias que previnem a realização de atividades no terreno que possam perturbar os locais de nidificação.

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