Veloz e furioso: a natureza do sacarrabos
O sacarrabos é uma das 15 espécies de mamíferos carnívoros que ocorre em Portugal e evidencia-se pela sua rapidez de ação (pode atingir até 32 km/h). A sua estratégia de caça incide sobretudo no facto de apanhar os seus alvos de surpresa: esta espécie tem a capacidade de explorar áreas subterrâneas, invadindo tocas de mamíferos ou desenterrando anfíbios, mas pode perseguir presas à superfície. Além de ser um animal escavador, pode ainda caçar em grupo, sendo uma das suas estratégias, neste caso, rodear a presa, para que esta não consiga escapar. O facto de possuir uma pupila horizontal é também uma vantagem, já que lhe permite ter uma visão panorâmica do ambiente que o envolve.
A origem do animal em Portugal não é consensual. Acreditava-se que o sacarrabos tinha sido introduzido no nosso país pelos árabes, durante a ocupação, mas um artigo de 2010 veio colocar várias questões e enfraquecer esta ideia. Um estudo do Museu de História Natural de Paris aponta para uma possível colonização natural, na sequência da passagem através do estreito de Gibraltar. Tal teria acontecido no final do Plistocénico (há 11,7 mil – 126 mil anos), ainda que o Journal of Archaeological Science aponte para o registo fóssil mais antigo encontrado, que remonta ao século IX e é coincidente com uma datação feita em Espanha (entre os séculos XI e XIII).
Quanto ao ambiente, os sacarrabos preferem os habitats que apresentam maior cobertura vegetal, com oliveiras, medronheiros e estevas, entre outros. Mais caraterística das zonas de montado, a espécie pode surgir noutras que sejam ricas em vegetação arbustiva ou, no caso de regiões de cultivo, opta por ficar perto dos cursos de água ou das silvas. É um animal tradicionalmente diurno e recebeu o seu nome, curioso, por causa do seu comportamento: uma fêmea, quando segue com a ninhada, desloca-se normalmente em fila indiana com as crias a tocar com o focinho na cauda do elemento que a antecede. Esta espécie também pode ser conhecida por outros nomes, como rato-do-egipto, manguço ou escalavardo.
Uma espécie “viajante”
Se há largos séculos o sacarrabos se estendeu além do continente africano, também em Portugal continental viveu as suas “aventuras”. Mais associado à região sul do país, ao Alentejo e Algarve, deslocou-se há cerca de três décadas, nos anos 90, para áreas mais a Norte, provavelmente devido ao abandono de terrenos agrícolas e à desertificação de algumas áreas. Como tal, é já natural encontrar esta espécie em localidades do Norte e do Centro.
Nas propriedades geridas pela The Navigator Company, pode ser observado em mais de 75 propriedades da empresa, inclusivamente no Zambujo, propriedade em restauro ecológico desde 2022, promovendo a maior ocorrência desta e de outras espécies de carnívoros.
Estranho para algumas pessoas, por não ser um animal muito conhecido, marca a diferença por apresentar caraterísticas distintas de outros animais de dimensões idênticas. O focinho é afunilado e o nariz, escuro, não tem pelos. Relativamente à cor da pelagem do corpo, tem uma mistura de pelos castanhos-claros e outros muito escuros; já a ponta costuma ser em tons cinzentos-claros. Em termos de comprimento, pode atingir até um metro de comprimento, na soma entre o corpo (50 a 55 centímetros, em média) e a cauda (entre 33 e 45 centímetros).
Quanto ao acasalamento, é habitual que aconteça durante a primavera, sendo que o sacarrabos tem, por norma, uma ninhada anualmente, composta por duas a quatro crias. Por sua vez, a gestação dura menos de três meses (84 dias), com o nascimento a acontecer nos meses de julho e agosto. Em adulto, pesa entre dois e quatro quilogramas e, em média, vive de 12 a 20 anos, caso sobreviva a doenças e às ameaças do seu meio.
Embora tipicamente selvagem, o sacarrabos continua a ser “domesticado” por algumas civilizações, nomeadamente no Norte de África. Dessa forma, o seu instinto natural é usado para proteger sobretudo terrenos agrícolas.