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O mundo enigmático do lobo-ibérico

De olhar profundo e enigmático, o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) é uma subespécie endémica da Península Ibérica e também um dos animais mais famosos da floresta. Apesar das histórias e mitos que surgiram em seu redor ao longo dos anos, que lhe conferiram um certo estatuto, atualmente encontra-se estritamente protegido em Portugal ou não estivesse em perigo de extinção. 

De focinho pontiagudo, orelhas relativamente curtas e olhos em tom amarelo, o Canis lupus signatus foi descrito em 1907 pelo zoólogo espanhol Angel Cabrera. Embora seja considerado um canídeo de grande porte que pode chegar aos 180 cm de comprimento (macho), distingue-se das outras subespécies de lobos por ser um pouco menor e ter a pelagem num tom mais amarelo-acastanhado. Enquanto no verão se torna escassa e clara, no inverno torna-se entre o cinzento-amarelado e o negro, reforçada por uma lista escura do pescoço à cauda e outras mais na parte interior das patas dianteiras.

Além das características físicas, muito mais há a saber sobre este belo animal, tal como a forma como se organiza socialmente. Vivendo em alcateias, estas têm uma hierarquia muito bem definida onde todos reconhecem e respeitam o seu papel, além de serem bastante leais ao grupo.

Por norma, é formado por um casal dominante e os seus descendentes, variando ao longo do ano entre dois (no inverno) a dez indivíduos (entre o final do verão e o início do outono). Contudo, estes números variam consoante a altura do ano e a quantidade de alimento a que têm acesso nos seus diferentes habitats, sejam florestas, bosques ou matagais.

Em termos de reprodução, acontece uma vez por ano entre março e abril, para as crias nascerem depois após dois meses de gestação, por volta de junho. Quanto ao número, a média é de 5 e pode variar entre o mínimo de 1 e o máximo de 11 crias.

Quanto à alimentação, o lobo-ibérico caça em matilha e idealmente come cerca de 3 a 5 quilos de alimento por dia, entre pequenos roedores e ungulados silvestres como o corço, o veado e o javali, pelos quais tem preferência.

Infelizmente, com a diminuição das espécies de grande porte, vê-se forçado a alimentar-se de animais domésticos. Por este motivo, em Portugal encontra-se sob proteção legal para sua conservação e recuperação, já que a espécie possui o estatuto “Em perigo, de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Por tudo isto, o seu abate é proibido e em caso de ataques a rebanhos, os seus donos são compensados monetariamente. O lobo-ibérico é ainda abrangido por várias Convenções, tais como a de Berna, CITES e Convenção sobre a Diversidade Biológica.

Para reverter o seu estatuto, o Parque Natural de Montesinho recebe o projeto HabMonte, que tem vindo a recuperar lameiros e a fazer a gestão de áreas florestais numa iniciativa dinamizada pelo ICNF que pretende contribuir para a proteção e conservação de habitats naturais protegidos e para a valorização de habitats do lobo-ibérico e das suas presas, ambos fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas. Segundo o ICNF: “Recuperar estas pastagens permite dispersar pelo território a fauna selvagem herbívora do Parque Natural de Montesinho – em particular, veados, corços e javalis –, que assim encontram maior disponibilidade alimentar fora do perímetro agrícola das aldeias. A dispersão destes animais favorece também o lobo-ibérico, que tem nos herbívoros de grande porte as suas presas naturais, afastando-o das aldeias e dos rebanhos”.

Também no Parque Nacional da Peneda-Gerês, composto por 70 mil hectares de património natural e uma biodiversidade única, esta espécie faz parte daquela que é a primeira área protegida criada no país, integrada na Rede Nacional de Áreas Protegidas, gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). É precisamente aqui que o lobo-ibérico tem a sua população-mãe em Portugal.

 

SABIA QUE …

O homem e o lobo coexistem há muitos milhares de anos – teorias existem que coloca ambas as espécies lado a lado há 100 mil anos. Mais consensual é a hipótese de que a sua domesticação se tenha dado há 10 mil ou mesmo 15 mil anos. No séc. XIX era ainda uma espécie comum (Bocage, 1863). Porém, no início do séc. XX já era tido como pouco comum (Seabra, 1910), até que a partir da década de 50 do séc. XX deu-se uma redução drástica, ocupando atualmente apenas 20% do território que constituía o seu habitat natural.

Tanto a fêmea como as crias são mantidas na toca desde o nascimento até ao fim do período de amamentação, sendo que todos os membros da alcateia contribuem para os cuidados dos pequenos lobos.

Dentro do grupo, os lobos-ibéricos usam vocalizações para partilharem a localização entre si, assim como alertar sobre uma eventual situação de perigo. Por outro lado, o seu uivo pode ser ouvido a até um quilómetro de distância.

Entre as várias ameaças a esta espécie está a destruição do habitat (muitas vezes causada pela construção de autoestradas e outras infraestruturas de grande dimensão) que leva à escassez ou até mesmo extinção de presas selvagens. Também a perseguição humana leva a casos de envenenamento.

O lobo-ibérico é uma das poucas espécies da fauna portuguesa abrangidas por uma legislação nacional específica, nomeadamente a Lei de Proteção do Lobo-ibérico (Lei n.º 90/88, de 13 de agosto e Decreto-Lei n.º 54/2016, de 25 de agosto), que interdita o seu abate, captura e destruição do respetivo habitat.

  • Mamífero

  • Lobo-ibérico

    Canis lupus signatus

  • Género:

    Canis

  • Família:

    Canidae

  • Estatuto de conservação:

    “Quase Ameaçado” (NT) na Península Ibérica e Em Perigo (EN) em Portugal, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

  • Habitat:

    Florestas ou bosques abertos das zonas montanhosas e planícies adjacentes.

  • Distribuição:

    Entre as serras do norte e centro de Portugal, existindo duas populações: uma com cerca de 50 alcateias nas Serras da Peneda, Gerês e Montesinho e outra a sul do rio Douro, apenas com 10 alcateias e isolada das restantes populações.

  • Altura/comprimento:

    As fêmeas medem entre 130 a 160 cm e pesam entre 25 a 35 kg, enquanto os machos chegam aos 180 cm de comprimento e 40 kg.

  • Longevidade:

    Podem viver até aos 13 anos de idade em estado selvagem e até aos 17 anos em cativeiro.

Como cuidamos do lobo-ibérico?

Em termos de conservação do Canis lupus signatus, esta passa pela recuperação e preservação do seu habitat, começando pelo cumprimento da legislação. Em zonas em que existe referenciação de alcateias, observam-se alguns cuidados especiais, tais como limitar as operações florestais às horas com luz solar, pausando as atividades entre o pôr-do-sol e até uma hora depois do nascer do sol. Apenas desta forma será possível aumentar a área de ocupação e a distribuição das populações atuais no nosso país.

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