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O acrobata felpudo das florestas nacionais

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Se alguma vez passeou pelas florestas do norte e centro de Portugal e pensou ter visto um vulto ruivo a saltar entre os ramos, não estava enganado. O protagonista dessa cena cheia de destreza e cor é o nosso esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris), um habitante encantador e ágil dos bosques nacionais. Venha conhecê-lo melhor.

Com uma expressão quase traquina, o esquilo-vermelho apresenta-se de olhos vivos e orelhas pontiagudas, rematadas, no inverno, com um tufo de pelos compridos. É facilmente reconhecível, mas o nome da espécie pode conduzir ao engano. A pelagem é fofa e, regra geral, vermelho-acastanhada, mas os tons também podem variar entre o castanho escuro, o cinzento e o preto, conforme as estações do ano ou o local onde habita. O ventre, mais claro que o resto do corpo, geralmente é branco.

Com um corpo que pode medir até 25 centímetros e uma cauda de 20 centímetros adicionais, é difícil não reparar na sua marca mais distintiva – a cauda. Esta autêntica obra de arte é grande, felpuda, espessa e em formato de escova, ajudando-o a equilibrar-se em saltos ousados e funcionando como um verdadeiro “cobertor” em noites mais frias. O Sciurus vulgaris é um habitante encantador e um ágil acrobata arborícola das nossas florestas nacionais.

Trepa, salta e nada, mas de barriga cheia

Embora o esquilo-vermelho pareça ter estado extinto desde o século XVI até aos anos 80 em território português, a sua presença é atualmente bem notada nas florestas do Minho e Trás-os-Montes. Com a recuperação das suas populações, este habitante frequente das florestas de pinheiros, castanheiros e carvalhos vai progressivamente colonizando novas áreas, sendo já avistado em regiões mais a sul como o Parque Natural de Monsanto ou a Serra de Sintra.

Prefere florestas densas, onde pode saltar de árvore em árvore sem nunca tocar no chão, mas não é avesso a parques e áreas urbanas verdes, desde que haja árvores para se abrigar e alimento disponível. Para além de exímio trepador e saltador, este pequeno mamífero é um ótimo nadador, tendo já sido observado a fazer percursos de cerca de 1,6km.

A ementa deste roedor é variada e muda conforme a estação do ano. No outono, é comum vê-lo a comer bolotas, sementes de pinheiro, avelãs e castanhas, que cuidadosamente armazena para os meses mais duros de inverno. A sua memória, ao contrário do que se poderia esperar, não é infalível – muitos dos tesouros que esconde acabam esquecidos e acabam por germinar, contribuindo assim para a regeneração das florestas. Um verdadeiro jardineiro que ajuda a manter a biodiversidade.

No verão, adiciona ao seu cardápio cogumelos, bagas e até mesmo cascas de árvores, mas também é capaz de pilhar ninhos de aves para roubar ovos, se o estômago reclamar.

O frenesim do acasalamento

A época de acasalamento começa no final do inverno, com perseguições frenéticas e saltos acrobáticos para impressionar as fêmeas. Se houver correspondência, a fêmea constrói um ninho confortável, feito de ramos, folhas e musgo, bem no alto de uma árvore. Cerca de 40 dias depois, nascem entre duas a cinco crias, minúsculas, cegas e sem pelo.

Durante as primeiras semanas, a mãe é extremamente protetora, saindo apenas para procurar alimento e retornando rapidamente. Aos dois meses, os pequenos esquilos já são praticamente independentes, mas ainda permanecem próximos do ninho materno até dominarem a arte de escalar e saltar.

Os movimentos do esquilo-vermelho são uma mistura de destreza e acrobacia. Salta até cinco metros de distância, e quando corre pelos ramos parece mais um gato do que um roedor. O Sciurus vulgaris não tem medo das alturas, e frequentemente aventura-se em saltos mais arriscados que resultam em quedas aparatosas. Porém, sobrevivem graças à sua cauda. Esta, além de lhe proporcionar equilíbrio, e o ajudar a mudar rapidamente de direção, atua, também e sempre que necessário, como uma espécie de “paraquedas” natural.

A sua visão é igualmente impressionante: é capaz de ver ao mesmo tempo o que se passa ao seu lado e acima de si, um poder muito útil para detetar predadores como corujas e águias. Nos dedos possui garras compridas, curvas e dentadas nas faces laterais, ideais para trepar e se segurar aos troncos e ramos das árvores.

O esquilo-vermelho não é um animal territorial, podendo partilhar um ninho com diversos companheiros se as condições climatéricas assim o exigirem. São animais diurnos, que passam muito do seu período de atividade na copa das árvores ou arbustos. O território é de cerca de 7 hectares, embora tenha de ser considerado tri-dimensionalmente.

Apesar de discreto e tímido, o esquilo-vermelho é um símbolo de vitalidade e da regeneração da biodiversidade. Embora extinto em território nacional, foi capaz de regressar, de se propagar e adaptar aos diversos habitats.

Sabia que…

O esquilo-vermelho é um dos poucos esquilos mencionados na mitologia europeia, e a lenda nórdica de Ratatosk é uma delas. Ratatosk era um esquilo-vermelho que tinha a tarefa de transportar mensagens entre uma águia, que vivia no topo da árvore da vida, Yggdrasill, e o dragão/cobra Níðhöggr, que vivia entre as raízes.

Em certos países, como a Rússia, o abate de esquilos-vermelhos para comércio da sua pelagem, causou uma queda significativa na sua população.

“Tufty o esquilo” é uma mascote criada no Reino Unido para promover a segurança rodoviária. Esta personagem deu origem ao “Clube Tufty”, que no auge da sua popularidade possuía cerca de dois milhões de membros abaixo dos cinco anos.

Os esquilos vermelhos (Sciurus vulgaris) estiveram praticamente extintos em Portugal – estima-se que durante cerca de 400 anos –, devido à perda de habitats resultantes da fragmentação florestal.

  • Esquilo-vermelho

    Sciurus vulgaris

  • Animal - Mamífero

  • Género

    Sciurus

  • Família

    Sciuridae

  • Habitat

    É frequente avistá-lo em bosques e florestas de coníferas ou de folha caduca, chegando a ocorrer em áreas urbanas como jardins ou parques.

  • Distribuição

    Em Portugal, o esquilo-vermelho é muito frequente no Norte e no Centro do território continental. Mas também habita em quase toda a Europa, boa parte da Sibéria, norte da China, Península Coreana e norte do Japão.

  • Estado de Conservação

    O Sciurus vulgaris encontra-se protegido na maior parte da Europa por se encontrar listado no Apêndice III da Convenção de Berna para a Conservação da Vida Selvagem e Habitats Naturais Europeus. Também se encontra listado como espécie quase ameaçada na Lista Vermelha da IUCN e em Portugal tem o estatuto de Rara.

  • Altura / comprimento

    19 a 23 cm de comprimento

  • Longevidade

    5 a 10 anos

Como protegemos a espécie?

Existe uma preocupação generalizada em relação à preservação desta espécie de roedor. As doenças e a perda de habitat, bem como a sua fragmentação, têm contribuído para uma diminuição da população do esquilo-vermelho assim como das áreas que ocupa. Com um papel igualmente importante no decréscimo desta espécie parece ser a competição com outra espécie, o esquilo-cinzento (Sciurus carolinensis), proveniente da América do Norte e que, quando introduzido em áreas de ocupação de Sciurus vulgaris, substitui-o ao fim de cerca de 20 anos.

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