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Águia-de-bonelli

A águia-de-bonelli, também conhecida como águia-perdigueira, não passa despercebida pelos céus portugueses. É uma ave de rapina imponente que, em adulta, pode ultrapassar o metro e meio de envergadura.

Espécie majestosa, de médio-grande porte, a águia-de-Bonelli é uma rapina mediterrânica e asiática, que existe naturalmente em Portugal, onde encontra diferentes habitats que lhe permitem viver durante todo o ano.

A norte e centro (Trás-os-Montes, Douro, Beiras interiores e Estremadura), os vales escarpados perto de ribeiras e rios constituem lugares perfeitos para nidificar, enquanto a sul a águia-de-bonelli escolhe zonas acidentadas e florestadas com árvores de grande porte, incluindo sobreiros, pinheiros e eucaliptos. É assim que acontece nas serras algarvias e do sudoeste alentejano, onde é observado um padrão de nidificação arborícola.

Para caçar, prefere zonas abertas – montados, pastagens ou terrenos agropastoris. A sua alimentação baseia-se em mamíferos, aves e, por vezes, répteis. Da dieta fazem parte, por exemplo, coelhos-bravos, perdizes, pombos e garças-reais. O nome águia-perdigueira foi-lhe atribuído por caçar outras aves em pleno voo. Nenhuma presa – ou potencial predador – escapa à sua visão apurada.

Esta é uma espécie monogâmica, cuja nidificação decorre, normalmente, entre janeiro e junho. Em cada ninhada, costuma nascer apenas uma ou duas crias. Após a eclosão, a fêmea mantém-se por perto, enquanto o macho é incumbido de trazer alimento.

De asas castanhas-escuras, cauda clara com larga banda terminal escura, ventre e peito brancos – peito salpicado por penas castanhas – e mancha branca no dorso, a águia-de-bonelli é tão bela quanto difícil de avistar. A sua raridade torna mais difícil identificá-la em Portugal.

No nosso país, está classificada como Em Perigo, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005). As perturbações humanas ao habitat e alimento estão entre os principais fatores de ameaça, incluindo o corte de árvores de grande porte, a degradação do arvoredo, a electrocução, os parques eólicos, os incêndios rurais, as atividades de recreio e caça durante a época de reprodução, a meteorologia adversa (tempestades, por exemplo) e uma doença em particular – a Tricomoníase (pelo consumo de pombos domésticos infetados). Globalmente, embora com populações a decrescer, foi considerada uma espécie Pouco Preocupante (2019).

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Sabia que…

  • A Tapada Nacional de Mafra, em parceria com o LIFE LxAquila, projeto coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e financiado pelo programa LIFE da União Europeia, instalou uma câmara num ninho, para que seja possível acompanhar, em direto, o crescimento de águias-de-bonelli ali nascidas. Em 2022, é possível assistir ao seu crescimento, até ao momento em que a cria deverá abandonar o abrigo (previsivelmente, em junho de 2022);
  • As paradas nupciais da águia-de-bonelli começam no final do ano (novembro-dezembro), normalmente, com grandes elevações seguidas de rápidos voos picados. Cada casal tem, habitualmente, mais do que um ninho que vai ocupando em anos diferentes. No final do inverno, a fêmea põe um a dois ovos e a incubação prolonga-se por perto de 40 dias. As crias nascem por volta de abril e mantêm-se no ninho por 60 a 65 dias. Em junho-julho começam a sair e tornam-se independentes cerca de mês e meio a dois meses depois.
  • Em 2020, na região do Alentejo foram identificados 65 casais com ninhos, face a 27 em 2005, de acordo com informação divulgada, em 2022, pelo ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, no âmbito do projeto BIOTRANS – Gestão Integrada da Biodiversidade na Área Transfronteiriça.
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  • AVE

  • Águia-de-bonelli

    Aquila fasciata

  • Género:

    Aquila

  • Família:

    Accipitridae

  • Estatuto de conservação:

    Em Perigo, em Portugal; a nível internacional, é considerada Pouco Preocupante, segundo a Lista Vermelha da IUNC – União Internacional para a Conservação da Natureza.

  • Habitats:

    Vales com acesso a fragas e rios ou zonas florestadas, com árvores de grande porte.

  • Distribuição:

    Em Portugal, as regiões do Douro Internacional, as planícies do Baixo Guadiana e as serras do sudoeste alentejano e algarvio têm sido as que mais aves concentram, existindo também um núcleo relevante nas regiões da Grande Lisboa/Oeste. Além-fronteiras, vive e reproduz-se em vários outros países mediterrânicos (França, Itália e Grécia, Marrocos e Argélia, por exemplo), pelo Médio Oriente e Península Arábica, assim como por vários países asiáticos (Índia, Mianmar e China, por exemplo). Nas regiões mais orientais habita em climas subtropicais e tropicais, em afloramentos rochosos.

  • Altura/comprimento:

    Entre 55 e 74 cm, com envergadura até cerca de 1,65 m.

  • Longevidade:

    15 anos (em estado selvagem).

Como cuidamos da águia-de-bonelli

A águia-de-bonelli está identificada em diferentes propriedades da The Navigator Company, principalmente no sudoeste alentejano e algarvio, mas também, em menor escala, em Trás-os-Montes e no Alto Alentejo. Nestas zonas, beneficia de medidas de acompanhamento e proteção implementadas pela empresa desde 2006.

Inicialmente, a Navigator trabalhou com o CEAI – Centro de Estudos da Avifauna Ibérica para desenvolver um plano de conservação nas suas propriedades, no âmbito do Projeto LIFE Natureza “Conservação de Populações Arborícolas de Águia de Bonelli em Portugal”. Estabeleceram-se, assim, zonas de tampão específicas para cada caso, em redor dos ninhos, com o condicionamento das atividades impactantes no terreno durante o período crítico para a reprodução.

No âmbito desse projeto foram também colocadas plataformas artificiais para construção de ninhos pelas águias. No final, desenvolveu-se um manual de boas práticas com os contributos de vários atores locais. O sucesso destas intervenções demonstrou que a “conservação sustentável da população arborícola de águia-de-bonelli no Sul de Portugal é conciliável com a exploração económica e recreativa dos seus habitats através do envolvimento responsável de todas as partes interessadas”, referiu Rogério Cangarato, ornitólogo envolvido na preservação da espécie e que apoia a empresa neste desafio.

Deste então, os ninhos são monitorizados anualmente, por amostragem, e nos casos de nidificação no interior das propriedades da empresa foram estabelecidas Áreas de Alto Valor de Conservação. A estabilidade de área mais críticas nas proximidades dos ninhos implicou a alteração do ciclo de corte dos povoamentos florestais e, em algumas parcelas, os eucaliptos foram mantidos, contribuindo para a formação de bosquetes de árvores maduras e de grande porte, que apoiam a manutenção dos locais de nidificação.

Desde o arranque do projeto que os técnicos florestais da Navigator recebem formação sobre a conservação da águia-de-bonelli e também eles sabem como evitar a perturbação destas áreas nas suas atividades silvícolas quotidianas.

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