Conhecidas por serem animais de sangue frio com dentes afiados, há muito que as cobras dividem opiniões e são várias as pessoas com medo desta espécie. Ainda que seja o maior ofídio de Portugal, onde tem o estatuto de conservação “Pouco Preocupante” (LC) pelo Livro Vermelho dos Vertebrados, a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus) é, na verdade, inofensiva para os humanos.
Tal como o nome comum evidencia, a cobra-rateira adulta tem uma certa preferência por comer ratos e pequenos roedores, além de outras cobras, crias de aves que caem dos ninhos e anfíbios. Os juvenis, por sua vez, são insectívoros numa primeira fase e depois passam a caçar lagartixas. Seja qual for a fonte das suas refeições, o mais incrível é poder ultrapassar os 2 metros de comprimento, daí ser o maior ofídio do nosso país. Aliás, alguns exemplares de maiores dimensões conseguem mesmo caçar juvenis de coelho-bravo e sardões adultos. Por contribuírem para o controlo de roedores e pragas, desempenham um papel importante nos ecossistemas.
Quanto à sua distribuição em território nacional, pode ser avistada em todo o país, exceto nas zonas de maior altitude, a partir dos 1500 metros, podendo mesmo ser encontrada aos 1410 metros, na Serra da Estrela, mas são raros os avistamentos a partir dos 800 metros de altitude.
A cobra-rateira ocupa assim vários habitats, tais como matagais, áreas rochosas abertas, bosques autóctones, pinhais arenosos, montados, entre outros.
Inclusive, circula nos espaços abertos produzidos pela agricultura, onde existe uma elevada disponibilidade de presas (Pleguezuelos, 2003).
Tudo isto se deve ao facto de ser uma espécie bastante ágil em terra, capaz de trepar árvores quando necessário, seja para alcançar boa exposição solar ou para se alimentar. Curiosamente, também pode ser observada na água, recorrendo ao habitat aquático para caçar ou até mesmo para fugir dos predadores naturais. É o caso das aves de rapina (águia-calçada, águia-cobreira, águia-real, açor, peneireiro vulgar, milhafre-real e milhafre-preto) e de alguns mamíferos, como por exemplo o javali e o saca-rabos.
Se formos analisar a morfologia da cobra-rateira, facilmente identificamos os olhos grandes e a cabeça estreita e pontiaguda, à semelhança da sua escama frontal, com escamas supraoculares proeminentes.
Em termos de coloração dorsal do adulto, varia entre o verde oliváceo e o castanho ou acinzentado. No terço anterior do corpo apresenta uma mancha muito escura, enquanto a região ventral é amarelada, embora também possa ter manchas escuras. Já os juvenis têm o dorso verde ou castanho uniforme, com manchas escuras e claras.
Por ter o corpo coberto de escamas, caraterística de todos os répteis, esta espécie consegue conservar a humidade em climas áridos, além de lhe permitir ter pouco atrito quando se movimenta, o que a torna bastante rápida.
Caso um dia se cruze com uma cobra-rateira, lembre-se de que não existe razão para se preocupar visto que só morde quando se sente, de facto, ameaçada. Mas há ainda melhor notícia: sendo esta uma espécie de cobra venenosa (isto é, que inocula nas presas o seu veneno neurotóxico), a sua dentição é opistóglifa: as presas que injetam o veneno situam-se na parte posterior do maxilar superior, o que, na prática, significa que só consegue inocular veneno quando já está a engolir a sua presa. Contrariamente a espécies cujos dentes inoculadores retráteis se encontram na parte anterior do maxilar superior (dentição solenóglifa), a cobra-rateira torna improvável a inoculação de veneno em seres humanos.
Sabia que…
Com exceção da Antártida, Islândia, Irlanda, Gronelândia e Nova Zelândia, onde não existem cobras, existem mais de três mil espécies espalhadas um pouco por todo o mundo.
As cobras não têm pálpebras, nem ouvidos externos, cheiram com a língua e os maxilares são tão flexíveis que conseguem engolir presas até três vezes maiores que a sua própria cabeça.
A cobra-rateira é uma espécie que alcança a maturidade sexual entre os 3 e os 5 anos, reproduzindo-se na primavera. Após a fêmea depositar entre 4 a 20 ovos, o período de incubação dura cerca de dois meses. A sua longevidade pode ultrapassar os 25 anos.
Pode ser observada entre fevereiro e outubro, segundo o guia Anfíbios e Répteis de Portugal, altura do ano em que apresenta maior atividade. Depois disso, hiberna.
À semelhança de outras espécies de cobra, muda de pele várias vezes ao ano.