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Espinhoso, mas com muito estilo

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Com orelhas redondas e nariz curioso, o ouriço-cacheiro adora vaguear à procura de um bom petisco. Também conhecido como ouriço-terrestre, o Erinaceus europaeus é um mamífero coberto de espinhos, mas inofensivo, apenas se protege quando é ameaçado. Conheça melhor este amoroso notívago, que acumula gordura no outono e hiberna no inverno.

Apesar da aparência “punk”, o ouriço-cacheiro, Erinaceus europaeus, é tímido, pacífico e muito fofinho. Vive para uma boa soneca e um jantar saboroso, mas não lhe toquem, porque transforma-se num caso bicudo. Este inofensivo mamífero insectívoro é uma maravilha da fauna portuguesa, repleto de peculiaridades que o tornam uma figura carismática, fascinante e com um papel relevante na biodiversidade nacional.

Conhecido também como ouriço-terrestre ou ouriço-cacho, pertence à família Erinaceidae e é facilmente reconhecido pelo seu corpo coberto de espinhos, um mecanismo de defesa eficaz e único em território português.

Sempre pronto a defender-se

De andar engraçado e bamboleante, o ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) tem patas pequenas e um corpo arredondado e robusto, medindo cerca de 24 a 30 cm de comprimento, acompanhado de uma cauda discreta que raramente ultrapassa os 5 cm. O seu peso varia entre os 400 e os 1200 gramas, sendo que os exemplares mais pesados costumam estar em fase de preparação para a hibernação.

A sua pelagem é uma combinação de pelos suaves na parte ventral e os famosos espinhos na parte dorsal (cerca de 6 mil). Estes espinhos, que não passam de pelos modificados, podem chegar a ter cerca de 2 a 3 cm de comprimento e são bastante aguçados, constituindo a sua principal defesa contra predadores.

Quando se sente ameaçado, o ouriço-cacheiro enrola-se numa bola quase impenetrável, protegendo as áreas mais vulneráveis do seu corpo. Os espinhos apresentam anéis claros e escuros alternados, com uma banda preta na ponta, variando de cor entre o amarelado e o acastanhado. A muda de espinhos não é sazonal nem regular, podendo mantê-los durante bastante tempo, até cerca de 18 meses, antes de serem substituídos.

Desloca-se com as plantas das patas totalmente apoiadas no solo, mas devido às suas características físicas, apenas consegue percorrer entre 90 e 200 metros por hora, o que muitas vezes o coloca em situações de perigo. No entanto, está bem-adaptado tanto ao meio terrestre como ao aquático, sendo conhecido como um bom trepador e nadador. A visão é pouco desenvolvida, mas compensada pela acentuada sensibilidade do olfato e audição.

Apesar da sua aparência “áspera”, o ouriço-cacheiro tem um rosto encantador, com olhos grandes e brilhantes, orelhas redondas e um focinho pontiagudo, sempre alerta para farejar insetos, vermes e outros petiscos apetitosos.

Fêmeas: solitárias, mas bem acompanhadas

No que toca aos cuidados parentais, o ouriço-cacheiro é também um solitário. Após o ritual de acasalamento, que ocorre entre abril e agosto, é a fêmea que assume a responsabilidade de cuidar das crias. A gestação dura cerca de 30 a 40 dias e as ninhadas têm habitualmente entre 2 a 10 crias, podendo ocorrer até duas vezes por ano. O desmame acontece passadas 4 a 6 semanas do nascimento, e os juvenis abandonam a toca passados 22 dias.

É uma espécie poligâmica; após a cópula, o macho abandona a fêmea para procurar outras parceiras, e a fêmea é livre de acasalar com outros machos.

Para criar as suas crias e hibernar durante os meses mais frios, constroem ninhos com gramíneas e folhas em tocas, conhecidos como hibernaculum. 

Voraz apetite noturno

O ouriço-cacheiro é um animal insetívoro, essencialmente noturno e solitário, passando os seus dias a descansar em tocas ou abrigos improvisados entre folhas e raízes. Ao cair da noite, torna-se um explorador curioso, percorrendo vários quilómetros em busca de alimento. Apesar de não ser territorial, o seu território é bastante extenso para o seu tamanho, variando entre 5 e 40 hectares, consoante a escassez ou abundância de alimento.

Embora, a dieta seja predominantemente insetívora, o Erinaceus europaeus é um verdadeiro “gourmet oportunista”. Para além de insetos, aranhas e minhocas, não rejeita caracóis, pequenos répteis, frutas caídas, cogumelos e até restos de comida humana, se os encontrar. Este apetite variado e voraz faz do ouriço-cacheiro um importante controlador de pragas nos ecossistemas onde habita, sendo um verdadeiro aliado dos agricultores e jardineiros.

É um símbolo de resiliência e adaptação, capaz de sobreviver em ambientes variados e de se proteger com os seus métodos de defesa refinados. Respeitar e proteger este pequeno mamífero é essencial para manter a biodiversidade e o equilíbrio dos nossos ecossistemas. Afinal, o simpático ouriço-cacheiro, com o seu ar tímido e passos silenciosos, é um verdadeiro tesouro da fauna nacional.

Sabia que…

  • Uma das curiosidades mais interessantes sobre o ouriço-cacheiro é a sua capacidade de hibernar. Durante o inverno, quando a comida escasseia e as temperaturas descem, o ouriço entra num estado de torpor profundo. A sua temperatura corporal cai drasticamente, e os seus batimentos cardíacos desaceleram, permitindo-lhe sobreviver com as reservas de gordura acumuladas durante o outono. Este período de hibernação pode durar de outubro a abril, dependendo das condições climáticas.
  • É presa de diversos animais, como raposas, martas, serpentes e aves de rapina, mas o seu principal predador é o texugo, porque as suas fortes garras permitem penetrar a espessa camada de espinhos do ouriço-cacheiro.
  • Os ouriços-cacheiros têm cinco dedos em todos os pés, mas o dedo interno deixa uma marca quase impercetível, sugerindo tratar-se, por vezes de um animal de apenas quatro dedos.
  • Se quisermos descobrir indícios da sua presença, os ouriços-cacheiros deixam fezes, pegadas e trilhos bem visíveis nas ervas altas.
  • Ouriço-cacheiro

    Erinaceus europaeus

  • Animal - Mamífero

  • Género

    Erinaceus

  • Família

    Erinaceidae

  • Habitat

    De hábitos essencialmente noturnos, o ouriço-cacheiro é uma espécie amplamente distribuída pela Europa, sendo bastante comum em Portugal. Pode ser encontrado tanto em áreas rurais como em ambientes suburbanos e até mesmo em alguns parques e jardins das cidades. Prefere habitats que ofereçam uma boa cobertura vegetal, como florestas, bosques, prados, campos agrícolas, sebes, e jardins, onde pode facilmente encontrar alimento e abrigos naturais. Escava tocas onde hiberna durante o Inverno.

  • Distribuição

    Em Portugal continental é relativamente abundante, distribuindo-se do norte ao sul do país, por todo o território nacional. Ocorre, enquanto espécie introduzida, no arquipélago dos Açores.

  • Estado de Conservação

    Pouco preocupante (LC) segundo o Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental.

  • Altura / comprimento

    No total mede entre 24 e 30,5cm de comprimento

  • Longevidade

    Vivem geralmente dois a três anos, no entanto podem atingir os 10 anos de longevidade em cativeiro.

Como protegemos a espécie?

Apesar das populações de ouriço-cacheiro, tanto em Portugal como a nível mundial parecerem estar estáveis, estão protegidas pela Convenção de Berna, devido às diversas ameaças que enfrentam, nomeadamente provenientes da atividade humana.

O tráfego rodoviário é uma ameaça, uma vez que muitos ouriços acabam por ser atropelados durante as suas explorações noturnas. A espécie é também ameaçada por outros fatores, como a perda de habitat, a predação e uso de pesticidas.

O ouriço-cacheiro é uma das 253 espécies de fauna que a The Navigator Company protege nas suas florestas, havendo registos desde 2008 ao longo de 19 propriedades, de norte a sul do país. De destacar a Quinta de São Francisco, propriedade emblemática onde se localiza o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, e habitam cerca de 20 espécies de mamíferos, incluindo o ouriço-cacheiro.

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