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Morcego Pipistrellus, o eco da noite

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Sobre o sol vivo pousa uma manta azul-escura de estrelas, espalhando-se pelos campos, fazendo descer a temperatura e anunciando a chegada da  noite — fiel aliada das criaturas das trevas. Ou assim dizem os aficionados do terror.

Se há espécie que é incomodada com preconceitos e que pouco aprecia associações a más companhias, é, sem dúvida, o morcego.

Esta espécie é fundamental na biodiversidade: agente polinizadora, exímia farmacêutica, excelente ouvinte e a única, entre mamíferos, que efetivamente, consegue voar.

Uma mais-valia para a biodiversidade

A natureza vive de estrutura e precisão, requisitando a ajuda dos morcegos para polinizar os campos através do pólen transportado pelas suas asas.

E no caso de um encontro surpresa com um individuo cheio de sucos vermelhos na ponta do focinho, não será caso para alarme: trata-se apenas do enorme gosto que têm por frutos do bosque e outras frutas, levando sementes no sistema digestivo, que mais tarde vão sendo dispersadas por novos territórios.

Também o controlo de pragas é outra das suas inerentes tarefas. Muitos morcegos, alimentam-se de uma grande diversidade de insetos como melgas, mosquitos e borboletas, que facilmente se deixam caçar quando expostas em zonas urbanas repletas de candeeiros.

Por último, mas não menos importante, tem sido a sua ajuda nos mais variados avanços científicos. Quer na vertente de engenharia através do estudo das suas asas, quer em estudos da ecolocalização, os seus ensinamentos têm sido preciosos.

Em Portugal, existem cerca de 28 espécies deste pequeno herói, pertencentes ao grupo Chiroptera e, ao contrário do que possam alegar sobre este doce e incompreendido mamífero, não tem qualquer perfil para protagonizar um papel num filme do Conde Drácula.

Retrato de uma família ao avesso

Neste retrato familiar, ninguém fica invisível, mas aconselhamos a virar a fotografia ao contrário.

Hoje, abrimos as asas ao Pipistrellus pipistrellus, do género Pipistrellus espécies de morcego mais pequenas e comuns a sobrevoar os campos e cidades de Portugal continental.

Este pequeno grupo é constituído sobretudo pelo Pipistrellus pipistrellus (morcego-anão), pelo Pipistrellus pygmaeus (morcego-pigmeu) e pelo Pipistrellus kuhlii (morcego-de-kuhl).

Morcego-anão

Como o nome sugere, o morcego-anão é um dos mais pequenos da sua espécie.

Até há pouco tempo, estas duas espécies eram confundidas taxonomicamente, sendo possível distinguir o morcego-anão através de alguns pormenores físicos: a formação dentária, a cor branca das glândulas salivares, a ausência de uma sutura entre as fossas nasais e uma forte capacidade vocalizadora de ecolocalização, que se sobrepõe tanto à do morcego-pigmeu como à do morcego-de-peluche. Até hoje, as diferenças de vocalização são o método mais preciso para distinguir espécies.

Apresenta cores castanhas e negras, tem boa visão e ao contrário dos outros morcegos da mesma família, a célula da membrana alar conectora do quinto dedo ao cotovelo não apresenta nenhuma nervura.

Tem também um talento inato para utilizar ecos de ultrassons como sistema de localização, chegando a captar frequências elevadíssimas de 20 000 Hz.

O Pipistrellus pipistrellus é fissurícola, o que, como o nome sugere, prefere predominantemente habitar fissuras — instalando-se em placas de revestimento, telhas de edifícios ou mesmo em pontes, minas, grutas e até fendas nas cascas das árvores.

Durante o período de hibernação, estes espaços transformam-se em abrigos, mais predominantemente conhecidos por colónias – nome dado a vastos grupos de morcegos.

Encaixa-se, tal como o morcego-pigmeu e o morcego-de-kuhl, nos hábitos alimentares de insetívoro: toma partido da iluminação urbana, que atrai um banquete variado de insetos, melgas, mosquitos e borboletas.  Chega a ingerir até três mil insetos por noite, desempenhando o referido controlo de pragas.

Além destas zonas urbanas, caça em áreas agrícolas, florestas coníferas, bosques e zonas à margem de rios e ribeiras.

Morcego-pigmeu

O Pipistrellus pygmaeus é muito semelhante, mas distingue-se na coloração do pénis (amarelo-esbranquiçado) e no padrão de venação das asas, que contém duas células na membrana que une o antebraço ao quinto dedo.

Geralmente, o chamamento social do morcego-pigmeu tem menos pulsação, mas uma frequência muito mais elevada que a do morcego-anão.

Nos hábitos alimentares, é banhista e idílico, optando por zonas ribeirinhas. Caça junto às margens, linhas e planos de água, com especial apreço por insetos aquáticos.

Morcego-de-kuhl

O maior de entre os três, com uma coloração castanho-avermelhada no dorso e acinzentada no ventre.

Apesar dos pelos bicolor e das asas mais estreitas com linha clara e definida, é bastante confundível com os dois irmãos. O chamamento social é mais uma vez o melhor fator de distinção.

Distribuem-se de maneira mais alargada pelo sul da Europa até à Índia, África e Ásia.

É uma espécie fissurícola e sinantrópica: vive em orifícios de telhados, edificações e gosta de árvores ou rochas, alimentando-se em espaços de campo aberto, zonas ribeirinhas, pradarias, bosques abertos, matos ou até áreas mais desérticas.

O beijo do vampiro

Durante os períodos de acasalamento, de julho a setembro, as fêmeas são mais extrovertidas e os machos austeros e solitários, dedicados a defender as zonas adjacentes aos abrigos.

As maternidades são formadas por fêmeas, que geram entre uma a duas crias.

A partir das quatro semanas, as crias tornam-se independentes e podem atingir a maturidade sexual com a chegada do outono.

SABIA QUE…

  • Tal como os gatos, os morcegos têm hábitos muito higiénicos. Limpam-se a si e aos outros, contribuindo para o controlo de parasitas.
  • O estudo da ecolocalização nos morcegos tem ajudado a ciência a desenvolver suportes de mobilização para os cegos.
  • A Síndrome do Nariz Branco é uma doença fúngica que tem vindo a dizimar milhões de morcegos. Crê-se que a presença do fungo nas roupas e itens dos humanos que visitam grutas pode estar a propagar este mal.
  • Mais de 300 frutas dependem da polinização dos morcegos. Sem eles, não teríamos a banana, o abacate e as mangas.
  • ANIMAL

    Mamífero

  • GÉNERO

    Morcego

  • FAMÍLIA

    Vespertilionidae

  • Família

    Zonas urbanas, bosques, florestas coníferas, margens junto aos rios e ribeiras e zonas desérticas.

  • DISTRIBUIÇÃO

    Morcego-anão: espécie de morcego com maior presença em Portugal, distribuindo-se maioritariamente por Trás-os-Montes, Beira Alta, Ribatejo, Estremadura e Alto Alentejo. Na Europa, ocorre a sul da Finlândia e Noruega, Chipre, Turquia e Grécia. No resto do mundo pode ser visto a Noroeste de África, Ásia Menor e nas áreas do Médio Oriente, Irão e Afeganistão. Morcego-pigmeu: distribui-se por todo o território, com especial presença na região sul e centro. Ocorre por toda a Europa, África e Ásia: ocorre a sul da Europa até à Índia e China, à península Arábica, a norte de África e Canárias e surge também na região mediterrânica e no Médio Oriente. Morcego-de-kuhl: distribui-se de maneira mais alargada pelo sul da Europa até à Índia, África, Ásia e África. Em Portugal, voa por todo o território continental.

  • ESTADO DE CONSERVAÇÃO

    Morcego-anão: Segundo os critérios LC, Pouco Preocupante. Morcego-pigmeu: Segundo os critérios LC, Pouco Preocupante. Morcego-de-kuhl: Segundo os critérios LC, Pouco Preocupante.

  • ALTURA / COMPRIMENTO

    Morcego-anão: 3,4 a 4,5 cm. Morcego-pigmeu: 4,3 cm. Morcego de kuhl: 4,6 cm.

  • LONGEVIDADE

    Morcego-anão: Entre 4 a 5 anos. Morcego-pigmeu: Entre 7 a 8 anos. Morcego de kuhl: 8 anos.

Como protegemos a espécie?

Foram encontradas as espécies Pipistrellus kuhlii e Pipistrellus pipistrellus na zona de Pampilhosa da Serra. Não são, até agora, realizadas medidas concretas, a não ser as já habituais proteção das galerias ripícolas e outras zonas de conservação, como afloramentos rochosos.

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