“O mar caótico das dunas, que invadia progressivamente as terras de cultivo, foi contido e semeado de penisco. Sobre as altas vagas de areia nasceu a espuma verde do mato e os pinheiros, escuros e rugosos, afundam as raízes”, conta Jaime Cortesão (1884-1960), em “Portugal, a Terra e o Homem”, descrevendo uma das maiores campanhas de florestação, à qual se deve o litoral português debruado por habitats de pinhal.
Várias das árvores que conhecemos como pinheiros (espécies do género Pinus) crescem naturalmente no território português, mas as grandes áreas de pinhal que temos de norte a sul não existiriam se não tivessem sido plantadas. O Pinhal de Leiria, cuja plantação se iniciou no reinado de D. Afonso III (1210-1279), é disso testemunho e terá sido uma das iniciativas pioneiras de reflorestação no mundo.
Séculos depois (XVIII e seguintes), novos habitats de pinhal foram criados do Minho ao Algarve para travar o avanço das areias do litoral, que ameaçavam ocupar aldeias, campos agrícolas e assorear a foz dos rios. Em 1936, mais de 23 mil hectares de dunas tinham sido arborizados, principalmente com pinheiros, e é a eles que se refere Jaime Cortesão quando fala do penisco – um dos nomes dados à semente do pinheiro-bravo (Pinus pinaster). Por esta altura, decorreram também as grandes campanhas de florestação dos baldios, que arborizaram milhares de hectares nas encostas serranas, em especial no centro e norte do país (serras da Estrela e Gerês, por exemplo). Mais uma vez, os pinheiros-bravos foram a espécie de eleição.
Os pinhais portugueses são, assim, maioritariamente, constituídos pela espécie de Pinus mais comum em Portugal, o pinheiro-bravo, mas também pelo pinheiro-manso (Pinus pinea) e ainda pelo menos frequente pinheiro-de-casquinha ou silvestre (Pinus sylvestris), considerado raro (apenas uma população nativa, no Gerês) e Em Perigo, segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular Portuguesa. Ainda presentes estão espécies exóticas de Pinus, como o pinheiro-negro (Pinus nigra) que tem sido bastante plantado, o pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis) e o pinheiro-radiata (Pinus radiata). Os dois primeiros são nativos de outros países europeus e o último da América do Norte.
Com tão vasta presença em Portugal, “os pinhais são a segunda formação florestal, com uma área próxima de 1 milhão de hectares…”, refere o sexto Inventário Nacional Florestal, só superados pelas formações de folhosas perenifólias: montados de sobreiro (Quercus suber) e azinheira (Quercus rotundifolia).
São várias as espécies florísticas que crescem no sub-bosque dos pinhais e os animais que neles habitam ou se alimentam, embora com diferenças entre pinhais litorais (dunares), interiores e serranos, assim como entre o norte e o sul do país, já que as diferentes localizações, com topografia, clima e solos distintos, acabam por criar habitats de pinhal com características distintas.
Tojo, rosmaninho, sargaça, urzes e fetos são exemplos da flora que cresce habitualmente sob a sombra das copas dos pinheiros. Na zona litoral, entre os animais, podemos encontrar anfíbios e répteis, como o sapo-de-unha-negra, a cobra-rateira, a cobra-de-água-viperina, a víbora-cornuda e a lagartixa-de-carbonell (esta última, só existe naturalmente na Península Ibérica – endemismo ibérico). Algumas das aves mais comuns são os chapins, mas também pica-paus e carriças, e dos mamíferos fazem parte, entre outros, a raposa e a geneta, o rato-do-campo e o esquilo. Muitos deles (aves e mamíferos) encontram no pinhão uma fonte de alimento: as formas como as pinhas caídas no chão estão roídas indicam a presença de diferentes espécies.
Refira-se que vários pinhais-bravos e pinhais-mansos (ou mistos) com árvores adultas, localizados em dunas costeiras, integram um dos habitats prioritários para a conservação do Plano Sectorial da Rede Natura 2000 – Habitat 2270. Este é um habitat que pode ser encontrado desde a zona de Ovar e Espinho, no Norte, a Vila Real de Santo António, no Sul de Portugal, mas a sua descrição é complexa, pois abrange um conjunto muito vasto e específico de características, inclusive sobre as espécies de flora identificadas no subcoberto destes pinhais. Por exemplo, entre muitas outras, é indicada para este habitat a existência de sobreirais, carrascais, matos de zimbros e ou de camarinhas (que, por sua vez, integram outros habitats prioritários do Plano Setorial da Rede Natura 2000).