Teofrasto (372 a.C. a 287 a.C.), filósofo grego e pioneiro da botânica, referia-se à espécie como “pinheiro doméstico”. Nós chamamos-lhe pinheiro-manso (Pinus pinea). A sua história de domesticação e plantação é tão antiga que não se sabe exatamente qual a sua região de origem.
O pinheiro-manso é uma conífera (árvores que produzem pinhas) considerada nativa no Sul da Europa e no Oeste da Ásia, regiões onde a valorização da sua madeira e principalmente da sua semente – o pinhão, a que chamamos fruto – remonta de há milhares de anos. A primeira evidência de utilização humana surge em Gibraltar e está datada de há mais de 49 mil anos.
Em Portugal continental, há pinheiro-manso por quase todo o país e esta é a espécie florestal cuja presença mais tem aumentado: de 120 mil para 194 mil hectares entre 1995 e 2015. O Alentejo concentra 68% da sua presença. Ela é tão comum em Alcácer do Sal, onde o seu crescimento é favorecido por longa exposição solar, que esta zona foi batizada como o “solar do pinheiro-manso”.
Sendo uma espécie pioneira – antiga, pouco exigente e que consegue viver em condições adversas (por exemplo, com pouca água e em solos áridos) –, adapta-se bem a muitos locais onde foi plantada. De tal forma, que é hoje considerada naturalizada em regiões distantes, como na África do Sul e em partes da América.
Estas características reforçam o valor ecológico do pinheiro-manso e fazem dele uma espécie de eleição para conter a erosão do solo e para efetuar ações de reflorestação em zonas áridas, que correm risco de desertificação. A sua presença ajuda ao restabelecimento de um habitat mais convidativo para outras plantas e animais.
Um pinheiro-manso adulto chega a elevar-se aos 30 metros, com uma copa de grande amplitude e um tronco que pode ultrapassar os dois metros de diâmetro. Estas dimensões generosas, juntamente com as suas inflorescências e sementes, tornam-no em alimento e casa para aves e roedores. Com a idade, as fendas e concavidades que podem abrir-se no tronco ajudam a convertê-lo num refúgio, inclusive para a nidificação.
O rabirruivo é uma das aves que aproveita os refúgios naturais do pinheiro-manso, mas não a única neste habitat: pombo-torcaz, chapim ou toutinegra-de-cabeça-preta são outros exemplos. O facto de o pinhal-manso ser apelativo também a vários mamíferos, como coelho-bravo – que faz a sua toca na base do tronco e se alimenta das ervas circundantes –, reforça o atrativo para algumas rapinas.
Apesar de ser uma espécie amplamente plantada (o que ajuda ao seu estatuto “Pouco Preocupante”, em termos de conservação), o pinheiro-manso está integrado no Plano Sectorial da rede Natura 2000 – habitat prioritário 2270 – Dunas com florestas de Pinus pinea ou Pinus pinaster – no âmbito da Diretiva Habitats (embora as características definidas para este tipo de habitat tenham uma complexa interpretação para Portugal).