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Por um Natal em harmonia com a Natureza: não colha, cuide

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O Natal é aquela época do ano em que as casas se enchem de luzes, decorações brilhantes e… tradições que, à primeira vista, parecem inofensivas. Mas o que sempre pareceu mágico e encantador, pode, na verdade, ser um revés para a biodiversidade. Venha saber do que estamos a falar.

Quem nunca teve vontade de passear pela floresta e apanhar um pouco de musgo para o presépio? Ou talvez cortar uns ramos de azevinho ou gilbardeira para dar um toque mais rústico à decoração da sua casa? Pois bem, os especialistas alertam que a colheita destas espécies pode colocar em risco a sua conservação futura.

Musgo: O tapete verde que sustenta a floresta

Sabia que o musgo é um dos pilares dos ecossistemas? Em Portugal continental existem mais de 300 espécies de musgo, e cerca de 30% destas estão ameaçadas. Este pequeno organismo desempenha um papel vital nos solos onde habita: retém a humidade, protege o solo da erosão e é abrigo para inúmeras pequenas criaturas. Retirá-lo do seu habitat é como puxar o tapete debaixo dos pés da floresta.

Além disso, o musgo cresce a um ritmo muito lento. O que é colhido em minutos pode demorar até 20 anos a regenerar-se, dependendo da espécie. Embora a espécie mais usada no Natal, Hypnum cupressiforme, não esteja formalmente ameaçada, a apanha excessiva, especialmente para venda em larga escala, é uma preocupação crescente.

Este Natal, opte por alternativas sustentáveis como papel ou pedaços de cascas de árvores caídas. Acredite, o presépio continuará a ser encantador.

Azevinho: Bonito, mas protegido

Ao contrário do musgo, o azevinho (Ilex aquifolium) é protegido por lei desde 1989, e a sua apanha dá direito a multa. Esta planta é uma relíquia viva, um sobrevivente das antigas florestas subtropicais que cobriam Portugal antes da era glaciar. Encontra-se essencialmente no Norte da Europa, em áreas montanhosas e húmidas, até 1600 metros de altitude, bosques de folha caduca (carvalhais) e matagais, geralmente em encostas sombrias, vales fechados e perto de linhas de água.

É especialmente apreciado no Natal pelas suas folhas verde-escuras, brilhantes e recortadas que contrastam lindamente com os frutos vermelho intenso. Contudo, a exploração excessiva no século XX colocou a espécie sobre pressão, o que motivou a sua proteção legal.

Da próxima vez que encontrar um azevinho, admire-o, tire uma foto, mas não o colha. Invista numa decoração sustentável ou numa planta de comprada num viveiro ou loja especializada, que pode crescer e brilhar no Natal seguinte.

Gilbardeira: o “falso azevinho”

As suas bagas alimentam pequenos animais durante o inverno, e os cladódios em forma de folha proporcionam refúgio a várias espécies. Infelizmente, o seu crescimento é lento, o que significa que a colheita excessiva demora anos a ser compensada pela natureza.

A sua estética, semelhante à do azevinho, tornou-a popular como decoração natalícia, levando-a a ficar conhecida como “falso azevinho” e conduzindo a uma apanha descontrolada.

Este Natal, deixe na natureza o que é da natureza. Opte por decorações feitas em casa, com materiais reciclados e dê um passeio pela floresta apenas para admirar a sua beleza.

SABIA QUE…

  • Os musgos são verdadeiros “berçários” de muitas sementes em germinação. São também, muitas vezes, os primeiros a colonizar terras e rochas expostas a condições climatéricas extremas, estabelecendo assim as primeiras camadas orgânicas onde depois se instalam as ervas, os arbustos e as árvores.
  • Os musgos que existem nos troncos das árvores não as danificam, apenas as utilizam como “âncoras” para se estabelecerem, sem as parasitar. São apelidadas de “epífitas”, o que significa que crescem em cima de outras plantas.
  • O azevinho já era venerado pelos Celtas: os primeiros registos remontam ao século III a.C. Pensa-se que a espécie era para eles um símbolo de imortalidade e proteção, por se conseguir manter sempre-verde e ter frutos durante os invernos frios e nevados.
  • Tem uma espécie aparentada, que só existe nas ilhas da Madeira e nas espanholas Canárias, o Ilex canariensis. Também nos Açores existe uma subespécie endémica, ou seja, exclusiva do arquipélago: oIlex perado azorica. Embora tenham diferenças face ao Ilex aquifolium, partilham género e família, são todas espécies da floresta Laurissilva (que perdura nos dois arquipélagos portugueses) e têm frutos vermelhos, pequenos e arredondados.
  • Tradicionalmente, os caules secos da gilbardeira foram usados no fabrico de vassouras grosseiras, o que deu à planta outro dos seus nomes comuns: erva-dos-vasculhos. Pica-ratos era ainda um outro nome que lhe davam, devido aos espinhos que afastavam animais indesejados.
  • Os caules jovens desta planta podem comer-se: preparados tal como os espargos. Já os frutos não são comestíveis por seres humanos, pois são tóxicos.

Como protegemos as espécies?

Musgo

Nos locais onde ocorre faz-se a manutenção dos habitats naturais, condiciona-se as atividades de mobilização de solo e a passagem de veículos nas zonas húmidas. Faz-se também a manutenção de muros antigos que podem constituir habitats artificiais.

Azevinho

Nos locais onde está identificada a presença de Ilex aquifolium foram implementadas medidas de proteção, onde se inclui a cartografia e proibição de corte da espécie e a constituição de zonas de conservação, tendo também sido já experimentada a plantação de alguns indivíduos na zona de Monchique (indivíduos com proveniência local) como primeiro teste para futuramente tentar aumentar o número de indivíduos desta espécie nessa região.

Gilbardeira

Entre as medidas implementadas para a proteção da Gilbardeira, refiram-se, por exemplo, a proibição de circulação de veículos nas zonas onde o arbusto está identificado e a manutenção limitada a intervenções manuais, nos núcleos mais densos.

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