Biogaleria

Conheça a Espécie

Azevinho: uma relíquia com grande simbolismo

Os frutos, pequenos e redondos, são de um vermelho intenso, que sobressai por entre as folhas verde-escuras, lustrosas e recortadas. É assim o azevinho, uma espécie antiga, que se tornou símbolo do Natal, mas que os Celtas veneravam já séculos antes.

O azevinho é uma espécie que faz parte do imaginário de grande parte da população, mas serão mais os que o reconhecem pelas decorações natalícias do quem o terá avistado na natureza. Não é de estranhar que assim seja, porque o azevinho (Ilex aquifolium) é considerado uma espécie relíquia: sobrevivente das florestas subtropicais (Laurissilva) que cobriam o território de Portugal continental antes da era glaciar.

Apesar de ter conseguido subsistir às intensas oscilações climáticas da chamada Idade do Gelo, e de continuar a crescer naturalmente em zonas húmidas de montanha, a sua presença é hoje muito mais reduzida do que nesses tempos longínquos.

No século XX, o corte excessivo de ramos para as decorações natalícias trouxe novas pressões. Para prevenir o seu desaparecimento na natureza, foram proibidos, pela lei nacional e desde 1989, o seu arranque e corte total ou parcial, assim como transporte e venda. Mais tarde, a Rede Natura 2000 veio estabelecer que as florestas de Ilex aquifolium são um habitat natural com interesse comunitário: habitat 9380. Ainda assim, a União Internacional para a Conservação da Natureza avaliou o azevinho como “Pouco Preocupante” na sua Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas.

Reconhecer o azevinho

Arbusto ou pequena árvore, o azevinho pode elevar-se a perto de 20 metros, mas raramente ultrapassa os quatro a seis. Um grande exemplar, com cerca de 19 metros, pode ser visto na Mata Nacional do Buçaco, perto da Porta de Sula.

O azevinho tem plantas femininas e masculinas (espécie monoica). As suas flores são pequenas, dispostas em cachos de tons branco-rosado e nascem entre abril e junho. Estão presentes tanto nas plantas masculinas, as produtoras de pólen, como nas femininas que, após a floração, começam a frutificar.

Os frutos nascem ainda no verão e no outono começam a passar de verdes a vermelhos, cor que perdura no inverno. Estes frutos são drupas arredondadas e carnudas, com cerca de um centímetro de diâmetro, que guardam no interior a semente. Tóxica para os humanos, esta semente é um importante alimento para vários animais. Inúmeras aves comem-na sem a digerirem e devolvem-na à natureza, contribuindo para a propagação da espécie.

As folhas são onduladas e de forma oval, com a margem dentada e espinhosa, uma defesa contra as espécies que se alimentam de plantas (herbivoria). Mantêm-se verdes todo o ano: são mais escuras e enceradas na face superior, enquanto na inferior têm uma cor mais pálida (verde-amarelada) e sem brilho. Em árvores mais velhas, os recortes do rebordo podem suavizar-se e desaparecer por estarem resguardas dos herbívoros.

Sabia que o azevinho…

  • Já era venerado pelos Celtas: os primeiros registos remontam ao século III a.C. Pensa-se que a espécie era para eles um símbolo de imortalidade e proteção, por se conseguir manter sempre-verde e ter frutos durante os invernos frios e nevados. Mais tarde, os Romanos oferecem-no a Saturno durante as festividades da Saturnália – as festas do solstício de Inverno, entretanto incorporadas no Natal Cristão. Curiosamente, o nome Ilex foi dado pelos Romanos ao azinho (Quercus ilex) e acabou por ser aplicado ao azevinho (por Lineu), devido às semelhanças entre as suas folhas (sendo as da azinheira bastante mais pequenas).
  • É, por vezes, confundido com a gilbardeira (Ruscus aculeatus). Embora não tenham qualquer parentesco, têm semelhanças: a cor verde-escura das folhas do azevinho assemelha-se à cor dos caules da gilbardeira, que se parecem e desempenham o papel de folhas (os cladódios), de forma e contorno similares; outra semelhança são os frutos pequenos, arredondados, que nascem no verão e se tornam vermelhos no inverno. As diferenças mais fáceis de identificar estão nas folhas: no azevinho, as folhas são recortadas e de bordo espinhoso, o que não acontece na gilbardeira. A dimensão também pode ser diferente, porque a gilbardeira é um arbusto que costuma crescer apenas até ao metro e meio de altura.
  • Tem uma espécie aparentada, que só existe nas ilhas da Madeira e nas espanholas Canárias, o Ilex canariensis. Também nos Açores existe uma subespécie endémica, ou seja, exclusiva do arquipélago: o Ilex perado subsp. azorica. Embora tenham diferenças face ao Ilex aquifolium, partilham género e família, são todas espécies da floresta Laurissilva (que perdura nos dois arquipélagos portugueses) e têm frutos vermelhos, pequenos e arredondados.
  • PLANTA

  • Azevinho

    Ilex aquifolium

  • Género

    Ilex

  • Família

    Aquifoliaceae, sendo o Ilex aquifolium a única planta desta família que existe naturalmente na Europa continental.

  • Estatuto de conservação:

    “Pouco Preocupante”, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza.

  • Habitats:

    Bosques de folha caduca (carvalhais) e matagais, em regiões montanhosas, até aos 1500 – 1600 metros de altitude. É mais frequente em encostas sombrias e húmidas, vales fechados e margens de linhas de água, onde a chuva é comum ou frequente, mas a drenagem do solo é boa.

  • Distribuição:

    Sul e oeste da Europa. Norte de África e oeste da Ásia. Em Portugal é mais comum a norte, mas podem encontrar-se núcleos em várias serras, também no Centro e Sul, como nas serras de Sintra, Buçaco (Centro) e Monchique (Sul).

  • Altura/comprimento:

    Até 20 metros, mas com mais frequência entre 4 a 6.

  • Longevidade:

    Mais de 100 anos.

Como cuidamos do azevinho?

O azevinho foi identificado em propriedades florestais sob gestão da The Navigator Company nas regiões do Tâmega e Monchique. A primeira, a Norte, integra-se numa das zonas de Portugal onde a espécie ainda tem maior presença. A segunda é uma zona de exceção para o azevinho e para outras espécies relíquia (adelfeira, por exemplo), que ali encontraram refúgio graças ao clima húmido e ao relevo acidentado da Serra de Monchique.

Nos locais onde está identificada a presença de Ilex aquifolium foram implementadas medidas de proteção, onde se inclui a cartografia e proibição de corte da espécie e a constituição de zonas de conservação, tendo também sido já experimentada a plantação de alguns indivíduos na zona de Monchique (indivíduos com proveniência local) como primeiro teste para futuramente tentar aumentar o número de indivíduos desta espécie nessa região.

O azevinho está ainda presente na Quinta de São Francisco, propriedade da Navigator dedicada à conservação e localizada perto de Aveiro. Aqui, como nas outras duas localizações, o azevinho coexiste com o falso azevinho. Existe abundantemente, resultado da plantação, nos jardins e caminhos na zona Norte da quinta.

Temas: