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Raposa

A raposa é um dos carnívoros mais comuns no hemisfério norte e um dos mais bem-adaptados aos diferentes habitats, muito devido à sua dieta pouco restrita e oportunista. Este oportunismo tornou o seu nome num sinónimo de astúcia e manha, mas é graças a ele que a raposa é uma resistente entre mamíferos selvagens.

Não é difícil identificar uma raposa (Vulpes vulpes): logo à primeira vista, o seu pequeno-médio porte, o focinho alongado, as extremidades forradas de negro (orelhas e patas) e a pelagem usualmente castanho-avermelhada do dorso são pistas para a reconhecer. O pelo branco no ventre e, por vezes, na ponta da cauda longa e tufada não deixam margem para dúvidas.

Essa é a sua aparência com cerca de seis meses de idade, altura em que as crias se tornam indistinguíveis dos progenitores e também independentes. Quando completam um ano, atingem a maturidade sexual e o acasalamento decorre entre dezembro e fevereiro. Normalmente, quatro a cinco crias nascem entre março e maio, com apenas 52 dias de gestação. Macho e fêmea cuidam juntos destas crias, que nascem cegas e com pelagem parda escura, muito diferente da que têm depois.

A raposa é uma espécie pouco exigente relativamente aos habitats em que vive e aos alimentos que consome, demonstrando uma adaptabilidade que a torna mais resiliente. Estas características ajudam a manter a continuidade da espécie e o seu estatuto de conservação “Pouco Preocupante” tanto em Portugal (Livro Vermelho dos Vertebrados), como além-fronteiras (Lista Vermelha da IUNC – União Internacional para a Conservação da Natureza).

Para viver, prefere florestas, matagais, pastagens e campos plantados, muitas vezes na proximidade de aldeias (procurando algumas culturas agrícolas e animais de criação), mas adapta-se a zonas menos convidativas, incluindo desertos ou tundras e pode até frequentar aterros (vasculhando o lixo por alimento). Em Portugal, a espécie ocorre por todo o território continental, preferindo as zonas serranas e rurais.

Na alimentação, apesar de maioritariamente carnívora, a raposa é, na verdade, um mamífero omnívoro, que ajusta a dieta aos recursos disponíveis. Dela fazem parte roedores do género Microtus e ratinhos-do-campo (Apodemus sylvaticus), coelhos (Oryctolagus cuniculus) e outros vertebrados como aves, répteis, insetos ou anfíbios. À falta desta ementa, pode também alimentar-se de ovos, frutos, bagas e até animais mortos (um contributo para o ciclo dos nutrientes, que constitui um importante serviço do ecossistema).

Usa o faro para chegar às suas presas e salta sobre elas, capturando-as desprevenidas e, para garantir mantimentos, enterra comida em dezenas de buracos, voltando aos locais quando necessário. Por sua vez, esconde-se a ela mesma em tocas, que tanto podem ser escavadas por si como roubadas a outros animais, como o texugo (Meles meles), por exemplo. Entre atividades ligadas à caça e à defesa do seu território, uma raposa por percorrer cerca de dez quilómetros diários.

Sabia que…

  • A raposa e o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) são o único duo de canídeos selvagens que existem naturalmente em Portugal. São, no entanto, animais com comportamentos diferentes: o lobo caça em matilha e a raposa sozinha; os lobos vivem em alcateias enquanto as raposas são menos sociais, podendo, no entanto, viver em pequenos núcleos familiares de até quatro fêmeas e um macho.
  • O ataque da raposa tem uma taxa de sucesso de 73%. Especula-se que a espécie alinhe o seu poderoso salto ao eixo Norte-Este, utilizando o campo magnético da Terra para caçar com maior precisão. Esta possibilidade foi avançada em 2011, por uma equipa de investigadores, que analisou mais de 600 saltos de 84 animais.
  • A raposa está protegida pelo Anexo D da Convenção de CITES, que previne o comércio de animais quando este ponha em risco a sua existência em estado selvagem. Em Portugal, está incluída na lista de espécies cinegéticas.
Raposa
  • MAMÍFERO

  • Raposa

    Vulpes vulpes

  • Género:

    Vulpes

  • Família:

    Canidae

  • Estado de conservação:

    Estatuto de conservação Pouco Preocupante, em Portugal e internacionalmente, segundo a Lista Vermelha da IUNC – União Internacional para a Conservação da Natureza.

  • Habitats:

    Vive em diferentes habitats: tundra, desertos, zonas agrícolas, mistas e bosques.

  • Distribuição:

    A raposa ocorre sobretudo no hemisfério Norte (Ártico, Norte de África, Europa, Eurásia, América Central e do Norte), exceto em ilhas e climas demasiado extremos, como algumas zonas da Sibéria. Em Portugal, é encontrada uniformemente no território continental.

  • Altura/comprimento:

    As fêmeas medem de 52 cm a 72 cm e os machos entre 65 cm a 90 cm, com caudas que vão desde os 32 centímetros (fêmeas) aos 48 centímetros (machos).

  • Longevidade:

    Entre 9 e 13 anos, em estado selvagem.

Como cuidamos da raposa

Desde 2008 que a raposa começou a ser observada de forma mais sistemática (e inclusive filmada – vídeo acima) em diversos espaços florestais geridos pela The Navigator Company, ao longo de praticamente todo o território: Malcata, Tejo Internacional e Nisa, Santo Tirso, Góis, Mortágua, Pampilhosa, Arouca, Tâmega, Charneca do Tejo, Castro Verde, Sudoeste alentejano e Monchique.

Nestas áreas, para compatibilizar gestão florestal e conservação da espécie, têm sido constituídas Zonas com Interesse para a Conservação da biodiversidade. A sua gestão tem como objetivo a manutenção ou melhoria do estado de conservação dos habitats que fornecem as condições de alimentação, refúgio e reprodução, assim como a manutenção de corredores ecológicos, que favoreçam a dispersão natural dos animais e o intercâmbio genético entre populações.

Recorde-se que, na zona Centro, a raposa foi uma das espécies com maior número de identificações pelo projeto WildForests, que estudou a presença de mamíferos em florestas plantadas. O trabalho de campo envolveu plantações de eucalipto da Navigator, onde os investigadores instalaram câmaras para a observação dos padrões e dinâmicas das populações encontradas.

Nesta mesma região, a raposa é também uma das espécies identificada e fotografada (imagem acima) na Quinta de São Francisco, perto de Aveiro. Pensa-se que a Quinta lhe serve de refúgio, local de alimentação e de possível local de reprodução, pois há várias tocas identificadas em 2022, algumas com vestígios de utilização recente.

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