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Silêncio, que vai cantar o tordo-comum

Se à primeira vista não reconhecer esta ave pequena, de dorso castanho e peito amarelado com pintas em forma de seta, talvez o seu canto lhe dê uma ajuda. Venha descobrir o tordo-comum (Turdus philomelos).

Não é por acaso que o tordo-comum (Turdus philomelos) é também conhecido por tordo-músico. Se houvesse um ‘The Voice’ para aves, esta espécie certamente chegaria à final. Enquanto as fêmeas emitem maioritariamente sons curtos e de alarme, o canto dos machos é melodioso e flautado, surpreendentemente alto para o seu tamanho.

Este tordo canta e os seus predadores espanta. Os seus dotes musicais também são habilmente usados em ‘serenatas’ de cortejo. Na parada nupcial, o macho canta para a fêmea, aproximando-se com a cauda aberta e achatada no chão e a cabeça inclinada para trás com o bico aberto. Aliás, o seu vasto repertório de frases curtas e repetidas é especialmente audível nos meses de reprodução, entre abril e junho.

País de imigrantes invernantes

Pequeno, com cabeça, dorso e cauda castanhos, peito amarelado com pintas escuras em forma de setas, bico preto e amarelo e patas rosadas, o tordo-comum pode ser avistado em Portugal durante todo o ano. Mas, nem todos aqui residem a tempo inteiro.

À mais reduzida população residente (nidificante), juntam-se as aves migratórias (invernantes), que no outono chegam do norte e centro da Europa para na primavera regressarem aos seus países de origem e se reproduzirem. É por isso que, nos meses mais frios, o tordo-comum, em maior número, se espalha por todo o território continental – as ilhas têm as suas próprias espécies endémicas – e, na altura da nidificação, se concentra na metade norte de Portugal. Ali, florestas de folha caduca e mistas, bosques, matas ribeirinhas, zonas agrícolas, parques e jardins arborizados reúnem as condições ideais ao abrigo e alimentação destas aves omníveras, que sobrevivem à base de invertebrados (minhocas, caracóis, entre outros), bagas e frutos, incluindo azeitonas.

São as fêmeas que constroem os ninhos em árvores ou arbustos, enquanto os machos cantam por perto. Feitos com erva, galhos, musgo e barro, têm a forma de taça e podem servir para várias posturas, entre três e quatro por ano, cada com quatro a seis ovos… azuis! Pensa-se que as cores dos ovos das aves estejam relacionadas com questões geográficas, de camuflagem e termorregulação, entre outras.

E se a incubação (cerca de 13 dias) cabe exclusivamente ao sexo feminino, a alimentação das crias, com larvas de insetos, minhocas, lesmas e caracóis (cuja casca partem com uma pedra), é uma tarefa partilhada pelo casal, que se mantém monógamo durante toda a época reprodutiva, altura em que estas aves se tornam solitárias, em oposição ao comportamento mais gregário que podem ter durante o inverno.

Voos cancelados

Quando as crias abandonam os ninhos, mais ou menos 14 dias depois da eclosão, não sabem voar, saltando ou rastejando até ao solo e abrigando-se na vegetação. Embora continuem a ser protegidas pelos progenitores durante mais algumas semanas, a sua extrema vulnerabilidade é uma das razões pelas quais a taxa de mortalidade destas aves é superior a 40% no primeiro ano. A esperança média de vida do tordo-comum é, aliás, de apenas três anos.

Entre as ameaça ao tordo adulto estão a degradação do seu habitat natural (redução de zonas de vegetação densa e agricultura intensiva), fatores climatéricos (invernos mais rigorosos) e predadores como gatos e aves de rapina (gavião-da-Europa e mocho-galego).

Em Portugal, embora seja uma das aves cinegéticas mais caçadas – a expressão ‘cair que nem tordos’ não é por acaso – o estatuto do tordo-comum é considerado ‘pouco preocupante’, de acordo com a ‘Lista Vermelha das Aves em Portugal’ (2022), guia que avalia o risco de extinção da avifauna em Portugal Continental. Já o ‘III Atlas das Aves Nidificantes em Portugal’ (2015-2021) aponta para a existência de 5 a 10 mil casais, numa tendência de aumento da população.

Sabia que…

  • Turdus é o termo latino para tordo e philomelos tem origem nos vocábulos gregos philos e melos que significam respetivamente ‘amante’ e ‘melodia’, referindo-se à riqueza melódica do seu canto.
  • O tordo-comum foi introduzido na Nova Zelândia na década de 1860.
  • Um único tordo-comum pode comer até 15 mil caracóis por ano.
  • Relativamente ao seu peso, o tordo-comum possui das vocalizações mais barulhentas entre as aves.
  • Tordo-comum

    Turdus philomelos

  • Classe

    Aves

  • Ordem

    Passeriformes

  • Família

    Turdidae

  • Habitat

    Florestas de folha caduca e mistas, bosques, matas ribeirinhas, zonas agrícolas, parques e jardins, desde que arborizados. Pode ser muito abundante em olivais.

  • Distribuição

    Presente no norte de África, Médio Oriente, Sibéria, Austrália e Nova Zelândia. Nidifica em quase toda a Europa setentrional. Em Portugal, nidifica no norte de Portugal continental, sendo um invernante muito comum no restante território continental.

  • Estado de Conservação

    Pouco preocupante

  • Altura / Comprimento

    Pode atingir até 23 cm de comprimento e 36 cm de envergadura

  • Longevidade

    Cerca de três anos, embora existam registos de indivíduos com mais de 13 anos.

Como protegemos a espécie?

Embora globalmente o tordo-comum não esteja ameaçado, em Portugal há sinais de vulnerabilidade, sobretudo para as populações residentes. A caça excessiva e desregulada desta espécie tem contribuído para que as suas populações tenham vindo a diminuir, pelo que a espécie merece atenção particular a nível nacional.

Nas propriedades da The Navigator Company são definidas zonas com interesse para a conservação que são geridas de forma a manter ou melhorar os habitats que proporcionam condições de alimentação, refúgio e reprodução, podendo funcionar como corredores ecológicos para facilitar a dispersão natural das espécies e o intercâmbio genético entre populações.

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