O amial é um habitat característico das margens de rios permanentes e constitui uma zona de transição entre ecossistemas aquáticos e terrestres. Denso, fresco e ensombrado, abriga inúmeras formas de vida e esta é apenas a parte mais visível do seu alto valor ecológico.
As florestas que delimitam as margens dos rios têm reconhecida importância para o equilíbrio natural dos ecossistemas, tanto aquáticos como terrestres, desde logo porque proporcionam abrigo, proteção, alimentação e condições ótimas para a reprodução de inúmeras espécies.
O amial é um habitat ilustrativo destas áreas de transição entre a água e o solo, também conhecidas como galerias ribeirinhas ou ripícolas. Comum em toda a Europa, com extensão limitada a Sudeste pelo Mar Egeu, este é um habitat presente na maioria das bacias hidrográficas portuguesas, com exceção do Guadiana, embora várias atividades humanas – incluindo o aproveitamento hidráulico – tenham contribuído para reduzir algumas galerias a finas linhas de arvoredo.
O amieiro (Alnus glutinosa) é marcante na identidade dos amiais ribeirinhos, mas estes abrigos de vida à beira-rio congregam uma flora muito rica, em que se salientam espécies como o freixo-comum (Fraxinus angustifolia), o loureiro (Laurus nobilis), o sanguinho-de-água (Frangula alnus), o pilriteiro (Crataegus monogyna), o sabugueiro (Sambucus nigra), o salgueiro-branco (Salix salviifolia) e o salgueiro-preto (Salix atrocinerea).
Além destas árvores e arbustos, o solo está tipicamente coberto de plantas rasteiras, muito diversas, sobretudo fetos, desde a avenca-negra (Asplenium onopteris) ao feto-fêmea (Athyrium filix-femina), feto-real (Osmunda regalis), fentanha (Polystichum setiferum) e norça-branca (Bryonia dioica), entre muitas outras. Toda esta flora contribui para um amial denso, diverso, húmido e com amplas sombras, condições propícias à sobrevivência e reprodução de diversas populações animais.
Os anfíbios beneficiam particularmente desta diversidade, já que os seus ciclos de vida alternam entre o meio aquático e terreste. Entre os exemplos presentes neste habitat contam-se o sapo-comum (Bufo bufo) ou a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica). Apesar de menos dependentes do meio aquático, também ali vivem répteis como o cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) e o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi). Entre os mamíferos aos quais o amial fornece alimento e tranquilidade para a reprodução estão a lontra europeia (Lutra lutra) e a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus). Também aves como o guarda-rios (Alcedo atthis), a andorinha-das-barreiras (Riparia riparia) ou o abelharuco (Merops apiaster) encontram neste habitat condições ótimas para nidificar ou procurar guarida durante as migrações.
Essencial à sobrevivência de diversas espécies, o habitat amial ripícola funciona como um corredor ecológico, que favorece a dispersão natural das espécies e o intercâmbio genético entre populações, mas o seu valor ecológico espelha-se em diversos outros serviços de ecossistema, o que contribuiu para a classificação das Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus Excelsior (código 91E0) como um dos 17 habitats com interesse prioritário para a conservação da Rede Natura 2000 – rede de áreas designadas para a conservação de habitats e espécies selvagens, raras, ameaçadas ou vulneráveis na União Europeia. Os amiais ripícolas constituem um dos subtipos destes habitats (91E0pt1).