Mais de 180 espécies de cogumelos foram registadas durante um estudo micológico realizado em dezembro de 2022, no Sudoeste Alentejano. Apoiado pela The Navigator Company, este levantamento revelou que a grande maioria existe nas propriedades florestais sob gestão da empresa, entre Odemira e Monchique.
Não se sabe ao certo quantas espécies de cogumelos existem em Portugal ou quais as que estão presentes em cada uma das suas regiões. Para ajudar a dar resposta a estas interrogações, uma equipa de micólogos percorreu o Sudoeste Alentejano, a fotografar e recolher amostras dos macrofungos que avistou, com prioridade para os menos comuns.
Em apenas uma semana, mais de 180 registos de espécies foram efetuados e, entre eles, estão várias dezenas que a literatura científica nunca tinha documentado nesta região, nem em Portugal. “Fizemos observações inéditas e de grande importância para o país”, afirma Vasco Fachada, um apaixonado por micologia e líder desta equipa, referindo-se com entusiasmo a um significativo conjunto de espécies “que tivemos a felicidade de encontrar e conservar”, e que vão documentar pela primeira vez. É o caso de Deconica inquilina, desconhecida na região, e de Russula alnetorum, desconhecida em Portugal.
Pela observação direta, outra das espécies encontradas, Russula tyrrhenica, nunca terá sido identificada na Península Ibérica e há até algumas que poderão ser “novas” na Europa e primeiras identificações em absoluto, ou seja, nunca registadas pela Ciência. Nestes casos, as descobertas necessitam de confirmação molecular e microscópica, pelo que o estudo micológico se prolonga em 2023, em laboratório. João Silva, um naturalista e micólogo experiente em campo e em microscopia, é um dos investigadores que fará a análise microscópica.
Em alguns casos, proceder-se-á à sequenciação de ADN para estabelecer a identidade (genética) destas espécies. Esta comprovação é indispensável tanto para as espécies até aqui desconhecidas como para as chamadas espécies crípticas, ou seja, as espécies com características fisionómicas tão semelhantes que não se conseguem distinguir a “olho nu”.
Refira-se que esta mesma equipa de micólogos já tinha realizado algumas visitas de campo à região, pelo que as espécies agora avistadas vão juntar-se às observações anteriores. Nos últimos quatro anos mais de 400 registos foram “colecionados”, atestando a grande diversidade fungos nesta região e o igualmente grande desconhecimento que temos sobre este imenso reino dos Fungi.