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Natureza

A natureza como oráculo: prever o futuro através dos seus sinais

A natureza sempre foi usada como guia para prever o futuro. Hoje, tal como ontem, os seus sinais, ciclos, ritmos e padrões, continuam a ser pistas valiosas para antecipar o que está para vir. Este texto explora essa fascinante continuidade. Descubra-o.

Desde os primórdios da humanidade, o futuro tem sido um território, simultaneamente, fascinante e inquietante. A necessidade de antecipar o que está por vir moldou civilizações inteiras, inspirou mitos, rituais e ciências. Os nossos antepassados, atentos ao mundo natural, procuraram respostas naquilo que os rodeava: o voo de uma ave, o som das folhas ao vento, o fluxo da água ou o crepitar do fogo.

O desejo de prever o futuro foi ganhando nomes, formas e métodos. Muitos dos quais terminam com o sufixo -mancia, do grego manteía, que significa “adivinhação”. Essas práticas ancestrais não se baseavam em superstições vagas, mas eram, frequentemente, fruto de uma observação profunda dos ciclos da natureza.

Os antigos romanos, por exemplo, observavam o comportamento das aves que era interpretado como um sinal divino, uma forma inicial de ornitomancia. Já os povos que viviam junto aos rios e mares, observavam as marés e os reflexos da água em busca de padrões que lhes indicassem mudanças no clima ou na paisagem. Uma prática semelhante à hidromancia.

Um espelho do tempo
Estas antigas “mancias” são testemunhos de um entendimento ancestral: a natureza comunica através de sinais. Na filomancia, por exemplo, as folhas que caem no outono não faziam apenas parte de um ciclo, mas eram mensagens a decifrar.

Se atualmente olhamos com algum distanciamento e descrença para essas práticas, a verdade é que, na sua essência, todas elas têm algo em comum com a ciência moderna: a busca por padrões. A aeromancia, que interpretava nuvens e ventos, não está tão distante das atuais previsões meteorológicas baseadas em modelos atmosféricos. E a xilomancia, que via mensagens em pedaços de madeira, pode lembrar o estudo de anéis de crescimento nas árvores, os quais nos dizem não só a idade da árvore, mas também revelam secas, incêndios ou anos de abundância.

O relatório global sobre a biodiversidade e os serviços dos ecossistemas para a humanidade revela a importância dessa estreita relação. Destacam-se evidências de que as comunidades que vivem em ligação e harmonia com a natureza, como as indígenas, por exemplo, são capazes de antecipar e adaptar-se às mudanças ambientais por meio da observação contínua dos ciclos naturais.

E hoje?

A ciência contemporânea tem ferramentas sofisticadas para desenhar cenários futuros, mas continua a inspirar-se na natureza. Através da ecologia, da bioclimatologia e de outras disciplinas, compreendemos que os sistemas vivos funcionam em rede, em ciclos e com ritmos próprios.

Ao observar as alterações fenológicas, como o momento em que uma planta floresce ou um animal migra, podemos prever os efeitos das mudanças climáticas. Nos Estados Unidos, existe uma rede de investigação que recolhe, analisa e partilha dados fenológicos de plantas e animais em todo o território, de modo a conseguir monitorizar os efeitos das alterações climáticas nos ciclos naturais e antecipar mudanças ecológicas. Esta rede mostra como o acompanhamento sistemático de eventos sazonais ajuda a antever desequilíbrios ecológicos e serve de base para ajudar na tomada de decisão relacionada com a conservação da natureza.

Também um artigo científico, publicado na revista Nature, defende que a ecologia precisa tornar-se mais preditiva, propondo o uso de modelos matemáticos baseados em dados ecológicos para antever o comportamento dos ecossistemas.

Ou seja, voltamos, de certo modo, às raízes: é na escuta da natureza que encontramos pistas sobre o que aí vem. Em vez de perguntar às estrelas, talvez devêssemos voltar a perguntar às árvores, à água e ao vento. Afinal, o futuro já começou e a natureza tem muito a dizer.

Ciência e gestão florestal em harmonia

Tal como na antiguidade, a The Navigator Company pratica hoje uma observação ativa nas suas florestas, utilizando-a como guia para uma gestão equilibrada e sustentável. Esta abordagem não é meramente intuitiva, mas sim sistemática, científica e certificada.

Nas suas propriedades certificadas pelos sistemas internacionalmente reconhecidos, FSC1 e PEFC2, a empresa integra observação direta, dados e conhecimento ecológico para compreender como os ecossistemas reagem às mudanças e como melhor protegê-los. Esta observação ativa traduz-se numa antecipação de riscos (incêndios, perda de habitat, erosão) e numa gestão adaptativa, mapeando habitats, monitorizando espécies e ajustando práticas de forma contínua e preventiva (plantação, corte controlado e restauro.

Este olhar atento ao funcionamento da floresta é um exercício prático de previsão ecológica. Ao agir com base nesses sinais, a empresa não apenas gere recursos, conserva, regenera e prepara os seus ecossistemas para o futuro.

Ribeira em floresta densa exemplo de paisagem natural observada nas práticas ancestrais de hidromancia para prever o futuro.

Sabia que…

• Existem muito mais formas de adivinhação por meio de elementos da natureza. A litomancia é uma delas. Esta é a forma de prever o futuro por meio de pedras ou de objetos especiais feitos      de pedras.

• Também existe a aeromancia, onde o ar ou substâncias atmosféricas são a principal fonte de adivinhação. Para tal, há que estar atento às nuvens, aos pássaros, à precipitação, etc.

• E por último, temos a xilomancia, que se faz por meio de pedaços de madeira. Podem ser galhos ou troncos, e podem ter caído ou estar dispostos em grupos. O xilo- significa madeira.

1FSC® – Forest Stewardship Council® (Licença nº FSC® – C010852)

2PEFC – Programme for the Endorsement of Forest Certification schemes (Licença nº PEFC/13-23-001)

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