Biohistórias

Conservação

O papel das árvores monumentais na vida da floresta e do planeta

São precisos muitos anos, por vezes séculos, para uma árvore alcançar o tamanho que lhe dá o estatuto de árvore gigante, monumental ou notável. Seja qual for a denominação escolhida, a verdade é que “a natureza sabe o que faz” quando se trata de preservar a biodiversidade dos espaços florestais e por isso mesmo há uma razão para tamanha magnificência destas espécies.

O seu tamanho fascina os seres humanos, mesmo fazendo-nos sentir tão pequenos e vulneráveis à sua escala. São imponentes, importantes marcos paisagísticos e batem records, de tão grandes que ficam após séculos de crescimento e evolução. Elas são as árvores monumentais e o seu papel na preservação da vida das florestas e do planeta é de igual grandiosidade, servindo de casa para muitos organismos vivos.

Comecemos então por identificar algumas espécies famosas. Na Califórnia, por exemplo, está a sequoia (Sequoia sempervirens) mais alta do mundo com cerca de 600 anos, 116 metros de altura e apelidada de Hyperion.

Na Mata Nacional de Vale de Canas, em Coimbra, está o eucalipto (Eucalyptus diversicolor) mais alto da Europa, com cerca de 140 anos e 73 metros de altura, conhecido como Karri Knight.

Ainda por terras nacionais, temos a “Oliveira do Mouchão”, na vila de Mouriscas, Abrantes, com mais de 3350 anos. Considerada a mais antiga da sua espécie em Portugal, o tronco mede três metros e tem um perímetro à altura do peito de 6,5 metros. Esta árvore milenar, que ainda produz azeitona, está ainda classificada como Arvoredo de Interesse Público e Árvore Monumental de Portugal pelo ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Quem diria que são precisas cinco pessoas para a abraçar?

Além desta, podemos encontrar outras oliveiras milenares por todo o país: a oliveira de Pedras D’el Rei, de Tavira (veja as fotos em baixo), é um ótimo exemplo. De grande beleza e uma idade que ultrapassa os 2200 anos, foi classificada como Árvore de Interesse Público em 1984 e candidata a Árvore Europeia do Ano em 2022.

Outro exemplar é a Araucaria bidwillii Hook, conhecida por ser a árvore das pinhas gigantes (podem chegar aos 10 quilogramas) que contêm no seu interior mais de 100 enormes pinhões. A maior do país, e uma das maiores do mundo, pode ser encontrada na Mata Nacional de Vale de Canas, erguendo-se por mais de 50 metros de altura, além de noutros parques e matas do país.

Seja qual for a particularidade destas árvores, existe algo muito importante a reter que é o impacto da sua existência.

Além de preservarem grande parte da biodiversidade do planeta, as florestas são ecossistemas cruciais para a regulação das alterações climáticas. Mais do que uma matéria-prima natural, renovável e biodegradável, a madeira é também um depósito privilegiado de CO2, que as árvores retiram da atmosfera. Por sua vez, é armazenado na madeira e nos produtos originários da mesma, ao longo de toda a sua vida útil. Veja-se o papel, em que cada tonelada retém o equivalente a 1,3 toneladas de CO2 – o gás com maior impacto no aquecimento global, representando 65% das emissões que provocam o efeito de estufa.

Neste sentido, as florestas revelam-se uma solução natural para mitigar os efeitos das alterações climáticas. E qual o contributo das árvores monumentais? Segundo um artigo publicado na revista Nature, descobriu-se que a absorção de carbono das árvores aumenta de acordo com o seu tamanho dado que a área total da folha aumenta à medida que ela cresce. Isto significa que as árvores mais antigas e de maiores dimensões absorvem mais carbono da atmosfera.

Além da capacidade de sequestro de carbono, as árvores entram no “ciclo da água” ao captarem água através das suas raízes e, através da transpiração, devolverem-na à atmosfera em forma de vapor.

Por fim, a grande maioria das árvores de grande porte apresenta uma idade avançada como já foi referido e, por isso, acumularam cavidades no tronco e raízes superficiais, assim como ramos mortos, que são consideradas importantes microhabitats de organismos vivos.

Sabia que…

Portugal foi um dos primeiros países europeus a criar legislação específica para proteger as árvores monumentais, sendo a primeira lei de 1914.

Portugal é um dos 18 países que assinaram o Acordo Cidade Verde, um acordo europeu pró-ambiente que pretende incitar o reforço de espaços verdes para contrariar os efeitos do aquecimento global, através da implementação de florestas urbanas. O objetivo é tornar as cidades mais verdes, limpas e saudáveis até 2030.

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