Cágado-de-carapaça-estriada

Observar o cágado-de-carapaça-estriada pode ser um desafio. Não só porque ele se tem tornado mais raro em Portugal – uma espécie em perigo -, mas também porque é um animal reservado e que pode passar parte do ano a hibernar.

O cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) deve o seu nome às riscas e manchas amarelas presentes na sua carapaça, cabeça, patas e cauda. Espécie de hábitos diurnos, pode hibernar na época mais fria do ano ou entrar num género de dormência (designada como estivar) se a zona onde vive estiver seca.

Normalmente, mantém-se ativo de março a setembro, meses em que, com alguma sorte, é possível avistá-lo junto a zonas de águas calmas ou paradas, permanentes ou temporárias, como riachos com pouca corrente, charcos, sapais e lagoas, que estejam rodeadas por vegetação. Mais comum em água doce, pode habitar também em zonas de água salobra.

Este cágado está classificado como uma espécie “em perigo” no território continental, sobretudo devido à baixa densidade encontrada e ao facto de a sua distribuição ser dispersa pelo território, com populações pequenas e isoladas. Existem diversos motivos que ajudam a explicar a sua regressão em diversas áreas da sua distribuição, como a pressão da agricultura e da urbanização, a alteração e poluição de aquíferos ou as situações de seca prolongada, que alteram os seus habitats e locais de reprodução.

O facto de as fêmeas do cágado-de-carapaça-estriada atingirem a maturidade sexual relativamente tarde (entre os 10 e os 12 anos) e as taxas de fecundidade serem baixas não ajuda à recuperação das populações face a ameaças externas. Por outro, a espécie apresenta uma elevada mortalidade infantil, estimando-se que apenas um em cada 100 jovens cágados atinja a idade adulta. Ainda assim, a sua média de vida é longa: entre quatro e seis décadas na natureza.

A acrescentar a estes elementos há ainda que contabilizar a captura de animais para fins comerciais e a introdução de espécies exóticas, que competem nomeadamente por espaço e alimento. Quanto à dieta, a do cágado-de-carapaça-estriada é variada, baseando-se em pequenos peixes, invertebrados aquáticos e também alguma vegetação.

Sabia que…

• O cágado-de-carapaça-estriada tem características de tartaruga. Há vários elementos distintivos entre cágados e tartarugas, sendo o comprimento do pescoço e a forma da carapaça dois dos mais fáceis de identificar: os cágados têm o pescoço mais longo e a carapaça mais achatada. A alimentação e habitat também diferem, uma vez que os cágados são maioritariamente carnívoros (enquanto as tartarugas comem de tudo, incluindo vegetais) e vivem apenas em habitats de água doce.
• As fêmeas têm, com frequência, dimensões e peso superiores aos machos. Estes últimos distinguem-se pela parte ventral da sua carapaça (chamada plastrão) ser mais côncava. O plastrão foi, num primeiro momento de evolução, um antecessor da carapaça.
• Estes répteis derivam de ancestrais terrestres e, apesar de estarem longos períodos na água e terem membranas interdigitais que lhes permitem nadar com agilidade, respiram por pulmões e é em terra que completam o seu ciclo reprodutivo. Acasalam na água, mas os ovos – entre três e 18 por postura – são “escondidos” em buracos escavados pelas fêmeas.